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Em dia de eleição no Brasil, patricinha paulistana elege Daslu e fica na fila de bazar
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos eleitorados mais
fiéis de São Paulo esperou ontem até três horas em uma fila cheia de curvas para "dar
seu voto" ao bazar da butique
Daslu, inaugurado em um
galpão da Vila Olímpia (zona
sul) e com descontos de até
90% nas grifes.
Entre as 11h e as 15h30
-quando o repórter precisou
sair para votar-, o bazar recebeu cerca de 1.200 pessoas.
Patricinhas levemente coradas (depois de aplicar o
"bronzing powder, da MAC"),
cabelos esvoaçantes e bolsas
gigantes contavam que seus
candidatos eram Alckmin e
Kassab, nessa ordem -mas
ambos perdiam de longe, nas
conversas, para nomes como
Chloé, Valentino e Tod's.
Marta, freguesa das grifes,
era pouco -ou quase nada-
votada ali: "Eu conheço a vida
pregressa dela. O povo não sabe história do Brasil", disse,
enigmaticamente, a empresária Ruth, 54.
A advogada Carolina Paione, 32, explicou seu voto para
Kassab: "Tenho que garantir
o emprego do meu marido,
que é advogado na Subprefeitura de Cidade Ademar (zona
sul). Eu garanto o emprego
dele, e ele garante as minhas
compras na Daslu".
Houve vaia para os eventuais furões de fila, aplausos
quando entravam dez de uma
vez e frustração por parte de
quem não achava "uma peça
que justificasse tanta espera".
Como a maioria das moças
ali, a administradora de empresas Carol Viegas, 31, disse
que não enfrentou fila para
votar, mas se assustou com a
espera de até duas horas para
pagar. "Peguei três blusinhas
"furrecas", ainda por cima da
estação passada, e, quando
olhei para a fila, larguei tudo
lá. Pode pôr aí: maior "mico"."
De repente, próximo à porta de entrada, vaia: "Uuuuu!".
Um rapaz tentou furar a fila.
"A mulher dele está lá dentro,
grávida!", apelam as cunhadas de Hali, dizendo que ele é
judeu ortodoxo inglês e está
pela primeira vez no Brasil.
"E daííííí?", grita a turba,
agora duplamente corada.
Na fila, mulheres enfiavam
o rosto nas sacolas das que
saíam, perguntando "Valeu a
pena?". "Olha, esquece as bolsas, não tem mais!", diziam as
que vinham de dentro.
Uma funcionária da butique passou servindo garrafinhas de água, que, depois de
consumidas, eram jogadas no
chão. Dentro da loja, mulheres desbaratadas catavam ansiosamente peças pelo chão.
Nos provadores gigantes,
muitas corriam peladas, arremessando longe o que não
servia, como se estivessem
em uma gincana nudista.
Depois de três horas e meia
acompanhando o "happening", o repórter saiu para votar. Levou 1 min 40 s.
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