São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MURO DA DISCÓRDIA

Conflito começou depois que rua foi aberta por determinação da Justiça, a pedido de morador descontente com taxa

Mensalidade abre guerra entre vizinhos

DA REPORTAGEM LOCAL

Espremida entre a marginal Tietê e um viaduto que leva à rodovia dos Bandeirantes, em meio à barulheira dos carros, existe uma tranqüila vila residencial onde jovens jogam bola e velhinhos se sentam na sombra para observar os sabiás. Ou melhor, existia.
Já não há mais harmonia entre os moradores da vila Fiat Lux, no bairro São Domingos, na zona oeste de São Paulo, que há dois anos deflagraram uma guerra interna em relação ao fechamento do bairro e à cobrança pelos serviço de vigilância privada.
Em 1995, com a elevação da criminalidade e do trânsito de passagem, parte dos moradores decidiu pedir à prefeitura para fechar as ruas com cancela e vasos de cimento. Para evitar furtos dos veículos e a passagem então freqüente de ladrões pelo bairro, contrataram segurança 24 horas por dia. O problema foi a conta.
Pouco mais da metade dos 170 chefes de família aceitou pagar R$ 70 mensais para cobrir os gastos. "Eles queriam abusar, fazer da vila um condomínio", diz Roberto Luiz dos Santos, 72, aposentado que fez a queixa à Promotoria.
Há dois anos, os promotores conseguiram na Justiça decisão contrária à cobrança. Os guardas particulares saíram, e a cancela foi retirada. O clima entre os vizinhos, no entanto, só piorou. Hoje, evitam até mesmo passar a pé na frente da casa dos outros.
"A vila ficou mais vulnerável, e a criminalidade aumentou nesse período", reclama a aposentada Marisa Glad, 61, que mora a menos de cem metros de Santos.
Em outro extremo da capital paulista, às margens da represa de Guarapiranga, na zona sul, a disputa pela obrigatoriedade da cobrança fez os moradores se dividirem em duas associações.
"Nossas cancelas não têm a finalidade de impedir o livre deslocamento dos munícipes. Porém, elas oferecem uma barreira psicológica importante contra a violência", afirma Marcelo Nitze, que é presidente da Sarp (Sociedade Amigos de Riviera Paulista).
Do outro lado está a Arc (Associação Riviera Cidadã), que luta para manter as ruas bairro como eram -abertas à circulação.
Em Carapicuíba, Abílio Manoel, dono de um terreno desde 1975, chegou a registrar boletim de ocorrência dizendo ter havido violação de suas cartas na portaria -os carteiros não entram no loteamento. Ele é cobrado em R$ 30 mil por mensalidades, apesar de ter registrado em cartório sua desfiliação da associação local.
Em Indaiatuba, moradores colocaram cancelas automáticas para a passagem dos "condôminos" com cartão. "Só aumenta a exclusão", afirma Joaquim Paixão, 82.
George Oba, 59, reclama do "Estado paralelo". "A polícia não entra. Vira um reduto para menores dirigindo, e a droga rola solta."
O conflito com a vizinhança faz Ana Maria de Lima, 59, pensar em sair do loteamento onde vive há sete anos, em Cotia. "Somos taxados de caloteiros", afirma.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Advogados não têm consenso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.