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MURO DA DISCÓRDIA
Conflito começou depois que rua foi aberta por determinação da Justiça, a pedido de morador descontente com taxa
Mensalidade abre guerra entre vizinhos
DA REPORTAGEM LOCAL
Espremida entre a marginal
Tietê e um viaduto que leva à rodovia dos Bandeirantes, em meio
à barulheira dos carros, existe
uma tranqüila vila residencial onde jovens jogam bola e velhinhos
se sentam na sombra para observar os sabiás. Ou melhor, existia.
Já não há mais harmonia entre
os moradores da vila Fiat Lux, no
bairro São Domingos, na zona
oeste de São Paulo, que há dois
anos deflagraram uma guerra interna em relação ao fechamento
do bairro e à cobrança pelos serviço de vigilância privada.
Em 1995, com a elevação da criminalidade e do trânsito de passagem, parte dos moradores decidiu pedir à prefeitura para fechar
as ruas com cancela e vasos de cimento. Para evitar furtos dos veículos e a passagem então freqüente de ladrões pelo bairro, contrataram segurança 24 horas por dia.
O problema foi a conta.
Pouco mais da metade dos 170
chefes de família aceitou pagar R$
70 mensais para cobrir os gastos.
"Eles queriam abusar, fazer da vila um condomínio", diz Roberto
Luiz dos Santos, 72, aposentado
que fez a queixa à Promotoria.
Há dois anos, os promotores
conseguiram na Justiça decisão
contrária à cobrança. Os guardas
particulares saíram, e a cancela foi
retirada. O clima entre os vizinhos, no entanto, só piorou. Hoje,
evitam até mesmo passar a pé na
frente da casa dos outros.
"A vila ficou mais vulnerável, e a
criminalidade aumentou nesse
período", reclama a aposentada
Marisa Glad, 61, que mora a menos de cem metros de Santos.
Em outro extremo da capital
paulista, às margens da represa de
Guarapiranga, na zona sul, a disputa pela obrigatoriedade da cobrança fez os moradores se dividirem em duas associações.
"Nossas cancelas não têm a finalidade de impedir o livre deslocamento dos munícipes. Porém,
elas oferecem uma barreira psicológica importante contra a violência", afirma Marcelo Nitze, que é
presidente da Sarp (Sociedade
Amigos de Riviera Paulista).
Do outro lado está a Arc (Associação Riviera Cidadã), que luta
para manter as ruas bairro como
eram -abertas à circulação.
Em Carapicuíba, Abílio Manoel,
dono de um terreno desde 1975,
chegou a registrar boletim de
ocorrência dizendo ter havido
violação de suas cartas na portaria
-os carteiros não entram no loteamento. Ele é cobrado em R$ 30
mil por mensalidades, apesar de
ter registrado em cartório sua
desfiliação da associação local.
Em Indaiatuba, moradores colocaram cancelas automáticas para a passagem dos "condôminos"
com cartão. "Só aumenta a exclusão", afirma Joaquim Paixão, 82.
George Oba, 59, reclama do "Estado paralelo". "A polícia não entra. Vira um reduto para menores
dirigindo, e a droga rola solta."
O conflito com a vizinhança faz
Ana Maria de Lima, 59, pensar em
sair do loteamento onde vive há
sete anos, em Cotia. "Somos taxados de caloteiros", afirma.
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