São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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Kassab corta vagas no ensino infantil; há 28 mil na espera

São 17 mil matrículas a menos do que as registradas há dois anos na pré-escola

Administração decidiu privilegiar abertura de vagas em creches; na Brasilândia, garoto espera por vaga há três anos

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Ingrid, 6, não conseguiu uma vaga em escola da Brasilândia

FÁBIO TAKAHASHI
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

ANNA CAROLINA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Wesley, 5, e Ingrid, 6, moram na mesma rua na Brasilândia, (zona norte de SP). Também têm outra coisa em comum: nenhum deles encontrou vaga nas escolas públicas da região.
"Desde os três anos Wesley está na lista de espera", diz a dona de casa Karina Gonçalves Ventura, 30, mãe do menino.
Karina tenta uma vaga para o filho em creches e pré-escolas desde que se mudou para o bairro. Ano passado, chorou na escola pedindo que o matriculassem porque tinha conseguido emprego. Mas não havia vaga, e ela perdeu o trabalho.
Valéria Sebastião dos Santos, 23, mãe de Ingrid, conta que a escola nem quis pegar o nome da filha para colocá-la na fila.
A situação para Wesley e Ingrid ficou mais difícil nos últimos meses, após a prefeitura decidir priorizar o atendimento de crianças mais novas em unidades mantidas em parceria com instituições privadas -elas recebem verbas públicas para prover as vagas.
Desde 2007, a gestão Gilberto Kassab (DEM) exige que as entidades transfiram suas vagas da pré-escola (4 a 6 anos) para as creches (0 a 3), onde o deficit e a pressão por novas vagas são maiores. A mudança de atendimento ocorre na renovação do acordo, a cada dois anos.
Com isso, hoje há 17 mil matrículas a menos do que dois anos atrás na pré-escola (queda de 5%), segundo dados do próprio governo. E existem 28,5 mil crianças na fila de espera. Faltam vagas em 92 dos 96 distritos da cidade.
O secretário de Educação, Alexandre Schneider, diz que o impacto da mudança "é residual", pois, paulatinamente, os alunos atendidos pelos convênios têm sido transferidos para a rede da própria prefeitura.
O problema, diz, não é a transferência de vagas da pré-escola para as creches. Ele acredita que a redução das matrículas ocorreu porque em algumas regiões há mais vagas que crianças. Enquanto em outras, há crianças, mas faltam vagas.
No caso da Ingrid, a prefeitura diz que a menina está inscrita e aguarda uma vaga.
Entidades que fazem convênios com a prefeitura e as que acompanham as políticas educacionais afirmam, porém, que a mudança nos acordos causou o encolhimento do pré.
"É um absurdo aumentar as vagas nas creches às custas da redução nas pré-escolas", disse Salomão Ximenes, coordenador da ONG Ação Educativa. As entidades que firmam convênios com a prefeitura reclamam dos custos elevados para alterar vagas de pré-escola para creches. Precisam, por exemplo, mudar os móveis. "A prefeitura só aumenta a verba de custeio, não ajuda na adaptação", diz Ana Maria Barbosa, coordenadora da Cooperapic (entidade que representa cerca de 70 entidades conveniadas).


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