São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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ANÁLISE

Projeto iniciado nos anos 80 em Seul despoluiu 'Tietê da Coreia'

RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO

O rio Han, em Seul, tinha todo o jeito de Tietê da Coreia. Nos 40 km em que corta a capital sul-coreana, ele variava de cinza escuro ao preto, recebendo os detritos de um dos mais poderosos cinturões industriais do mundo que emergiu nos anos 60 e 70, quando marcas hoje globalizadas como Samsung, LG e Hyundai desabrochavam.
Arrasada na Guerra da Coreia (1950-53), Seul se reconstruiu às pressas e sem planejamento, o que a deixou com uma aparência de São Paulo.
A prioridade dada ao carro passou por cima de quase tudo. O rio Han ganhou enormes marginais dos dois lados, e o Tamanduateí deles, o Cheonggyecheon, foi canalizado e aterrado para dar lugar a um minhocão.
O projeto de despoluição do Han começou nos anos 80, pouco antes do Tietê -e da própria Olimpíada de Seul. O exército percorreu o rio, fazendo um mutirão para retirar objetos, móveis, pneus e carcaças que se acumulavam.
Centros de pesquisa passaram a analisar os pequenos avanços e a qualidade d'água, medindo quais substâncias afetavam o rio. O governo passou a mapear e multar as ligações clandestinas, principalmente de fábricas que jogavam esgoto diretamente sem tratamento. Após as multas, quatro grandes estações de tratamento foram criadas, e o despejo, bloqueado.
Desde 2003, o rio é considerado limpo. Peixes e pássaros foram reintroduzidos em seu habitat natural.
Foi a partir daí que vieram as decisões mais corajosas do governo. Em uma década, a cidade inaugurou mais de 100 km de metrô (mais que São Paulo em 40 anos), chegando a 305 km de rede.
Com investimento maciço em transporte público, a prefeitura de Seul pôde punir o uso excessivo de transporte particular. Demoliu o minhocão, ressuscitou o rio canalizado e passou a cobrar pedágio em dois túneis centrais.
Começou a acabar com uma das marginais, substituindo-a por parques, que devolveram o verde ao leito do Han, cuja largura é de 1 km. Até 2015, a ideia é que parte do trânsito da região seja feito por túneis e que o verde impere dos dois lados do rio -acompanhado de quadras, bares, restaurantes e parques. Ao conhecer a eficiência sul-coreana, é difícil duvidar que eles chegarão lá.
O fracasso de 20 anos de limpeza do rio Tietê, em São Paulo, mereceria uma junta de cientistas para descobrir sua causa, se possível, com supervisão coreana.


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