São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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Invasores da USP proíbem entrevista e temem celular

Medo de punição gera código de conduta para manter anonimato de alunos

Principais objetivos do movimento são a saída da Polícia Militar do campus e o fim dos processos disciplinares

LAURA CAPRIGLIONE
TALITA BEDINELLI

DE SÃO PAULO

"Ninguém vai falar com você. É proibido passar qualquer informação para a imprensa burguesa", troveja a estudante por detrás da máscara branca comprada na rua 25 de março.
Ela é um dos cerca de 50 jovens que, às 11h da sexta-feira, montam guarda no edifício da reitoria da Universidade de São Paulo (Butantã, zona oeste de São Paulo). A USP tem 89 mil alunos.
O prédio foi invadido na última terça-feira, como protesto contra a presença da PM no campus universitário.
O movimento começou no dia 27 de outubro, quando policiais detiveram três estudantes flagrados com maconha. Solidários, outros alunos tentaram soltar os colegas. Virou pancadaria.
"Acesso Livre. Seja Bien Venido", assim, em portunhol, avisa a faixa afixada na reitoria. Não é para valer.
Ao se aproximar do portão do prédio, a reportagem depara-se com a barreira humana formada pela "Comissão de Segurança" -seis ou sete jovens nervosos, monossilábicos, mascarados.
Logo, um grandalhão levanta-se de uma das poltronas de couro da reitoria onde, há poucos minutos, se refestelava: "Proibido entrar. Afaste-se. Depois dos cavaletes", adverte, ameaçador.
O "segurança" tem o rosto coberto por uma camiseta preta, à moda tuaregue.
A tensão se exacerba quando o iPhone da repórter, vibrando, emite aquele brrrrr característico de quando recebe um e-mail. "Desliga isso, desliga esse gravador, porra", impõe o tuaregue do Butantã, olhando desconfiado para o aparelho. A cena se repetiria várias vezes -brrrrr, "desliga o gravador"; brrrrr, "desliga o gravador".
"Acabou o amor", informa outra faixa. Percebe-se.

CORRENTES
Três correntes ultrarradicais, esquerdistas "talibãs", compartilham a direção política do movimento com alguns chamados "independentes" (sem-partido).
Tem o Movimento Negação da Negação (MNN), desafio à lógica formal, e os autodenominados trotskistas do Partido da Causa Operária e da Liga Estratégia Revolucionária.
São principalmente desses grupos os membros da "segurança". Na hora do almoço, militantes do PCO tiram as camisetas que lhes cobrem o rosto, para ir logo ali, vender o jornal "Causa Operária" no restaurante universitário.
Alguns independentes dispõem-se a conversar com a reportagem, desde que não sejam identificados. Muitos já sofrem processos administrativos e receiam a expulsão da universidade.
Os vídeos que registram a invasão mostram que a primeira providência dos invasores, depois de arrombar as portas, foi quebrar as câmeras de monitoramento.
Esses independentes explicam que a invasão organizou-se em comissões. Tem o pessoal da segurança (encarregado das caras feias), da infraestrutura (responsável pela comida, lixo, limpeza) e da comunicação (que redige os comunicados, mas nem ouse fazer-lhes perguntas; eles não respondem).
No meio dos jovens mascarados e tuaregues, de repente, aparece uma senhora, divertida com o baile à fantasia em que se transformou a mobilização estudantil.
Ela também invadiu a reitoria, mas há quase 30 anos, em 1982, em plena Ditadura Militar, e sem máscaras.
Agora, foi acompanhar a filha mascarada, estudante de História: "Pouca gente, não é?"


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