São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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Pelourinho também tem sua cracolândia

Menores usam crack livremente em ruas de ponto turístico de Salvador; pequenos crimes são comuns no local

'Capitães da Areia' do século 21 mendigam e vendem fitinhas do Senhor do Bonfim para poder sustentar vício

GRACILIANO ROCHA

DE SALVADOR

Franzino, o menino W., 12, tem um hematoma no supercílio e os lábios inflamados. As pontas dos dedos estão queimadas pelo isqueiro e o cachimbo de crack.
O garoto conta que fugiu da casa onde morava com os pais e seis irmãos em São Cristóvão, na periferia de Salvador, depois de ser jurado de morte por um traficante.
W. e dezenas de outros adolescentes que perambulam pelo Pelourinho são a versão século 21 dos "Capitães da Areia", como eram conhecidos os meninos de rua retratados por Jorge Amado no romance de 1937.
A diferença é que os personagens trocaram a capoeira pelo crack.
Para bancar o vício, mendigam ou vendem fitinhas do Senhor do Bonfim aos turistas. É comum os meninos de rua pedirem aos visitantes que comprem leite e alimentos enlatados nas mercearias do bairro.
Depois, os produtos são trocados por pedra.
Em uma das noites em que percorreu a região, no final de outubro, a Folha presenciou uma tentativa de assalto por um menino de rua que aparentava 12 anos e portava um canivete. Um segurança interveio e evitou o roubo.
Histórias de violência são comuns. W. afirma que a polícia bate mais que os traficantes. "Tenho um primo que fica aqui e uns amigos. Quer dizer, amigo não. Aqui é só eu e Deus", conta.

ILHA DO CRACK
Declarado patrimônio da humanidade, o Pelourinho se tornou uma ilha cercada de pequenas cracolândias.
Nas madrugadas em que esteve no centro histórico, a reportagem observou o comércio livre de drogas nos becos da Baixa dos Sapateiros, rua que ladeia o conjunto arquitetônico barroco.
O tráfico e o consumo só eram inibidos quando algum carro da PM percorria áreas críticas, como a rua do Gravatá. Na rua das Flores, dois traficantes vendiam crack sem serem importunados pelo veículo policial estacionado a cerca de 200 metros, no famoso largo do Pelourinho.
Durante a noite, também há atividade de traficantes e "noias" na rua 28 de Setembro e na região do Elevador Lacerda e do Mercado Modelo, na Cidade Baixa.
Há 58 anos instalado no Terreiro de Jesus, o coração do Pelourinho, o comerciante Clarindo Silva diz que o problema não é só falta de policiamento, mas de saúde e assistência social.
O diagnóstico do comerciante evoca as conclusões do escritor Jorge Amado na década de 1930: "A polícia prende, manda para o juizado, para outras entidades. O problema não se resolve porque essas crianças precisam é de tratamento de saúde".

FOLHA.com
Veja o consumo de crack
folha.com/no1002031


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