São Paulo, sexta, 6 de novembro de 1998

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TRANSPORTE
Com queda de 50% no movimento, taxistas de SP e Guarulhos disputam passageiros literalmente a tapas
Táxi para Cumbica tem até 30% de desconto

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Daniel Gonçalves Oliveira no ponto da rua Caiubi, em Perdizes, onde a corrida para Cumbica sai por R$ 35


SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

Uma disputa territorial entre taxistas da cidade de São Paulo e de Guarulhos (Grande SP) é hoje a maior aliada do bolso dos passageiros contra as altas tarifas.
A guerra pelos clientes do Aeroporto Internacional de Cumbica está fazendo cooperativas e taxistas autônomos oferecerem descontos médios de 30% sobre os valores previstos em leis locais para viagens intermunicipais.
O índice consiste no maior abatimento já concedido pela categoria e vem após sucessivas quedas no movimento. Hoje, segundo as entidades da classe, o fluxo de passageiros corresponderia a 50% do registrado no começo dos anos 90.
Uma viagem em táxi especial (com quatro portas, celular e ar-condicionado) de Cumbica, em Guarulhos, para a avenida Paulista (região central de SP) custa em torno de R$ 54 (tanto em táxis de Guarulhos, como em táxis de SP).
O valor é tabelado pelas cooperativas que controlam os especiais em cada uma das duas cidades - a Guarucoop e a Rádio-Táxi Vermelho e Branco- e independe do congestionamento do caminho.
O cálculo é feito somando-se bandeirada, quilômetros rodados e adicional de 50%. Sobre o total, incide o desconto.
O trecho de volta pode variar de R$ 43 (em táxis de Guarulhos) a R$ 54 (em táxis de SP). O preço original, considerando uma corrida absolutamente sem trânsito, variaria entre R$ 61 e R$ 71, para ambos os sentidos, conforme as taxas previstas nas leis municipais.
É pelo fluxo de passageiros no sentido São Paulo - Cumbica que a briga pelo território torna-se ainda mais acirrada. Isso acontece porque os taxistas de Guarulhos aplicam sobre a tabela (já reduzida) um desconto de 20%.
Eles afirmam que o abatimento vale a pena porque assim não voltam com os veículos vazios para a base. Os motoristas de São Paulo rebatem dizendo que não podem dar o desconto porque o sentido São Paulo - Guarulhos é regra nas suas viagens, não exceção.
"Poderíamos baixar 50% a tarifa para trazer clientes de Cumbica, mas não fazemos isso porque seria uma concorrência desleal. Os motoristas de lá vivem dessas viagens", diz o presidente da Vermelho e Branco, Mário Sérgio Otero, 43. Otero calcula que os especiais de Guarulhos atendam 400 clientes por dia na capital. A Guarucoop, que controla os veículos especiais da cidade, afirma que o número não passa de 40.
No calor da discussão, os táxis comuns resolveram entrar na guerra. Em pontos do centro de São Paulo, faixas anunciam viagens ao aeroporto de Cumbica por R$ 30 ou R$ 35 (o valor original, também com ruas livres, seria R$ 45). O preço iguala a tabela dos comuns de Guarulhos, já com desconto de 20%.
Anunciar descontos não é a única arma usada. A lista de técnicas para afastar os concorrentes inclui furar os pneus do carro forasteiro, impedir o embarque dos passageiros, chamar a polícia e até trocar socos, pontapés e ameaças.
Ambos os lados alegam estarem tendo as respectivas praças invadidas pelos motoristas da cidade vizinha e muitos casos já terminaram na delegacia.



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