São Paulo, sexta, 6 de novembro de 1998

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VIOLÊNCIA
Dois estudantes de medicina e um médico teriam derramado álcool e colocado fogo em estudante, em setembro
PUC expulsa acusados de pôr fogo em aluno

MARCELO TEIXEIRA
da Agência Folha

O reitor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), Antonio Carlos Ronca, determinou ontem a expulsão dos alunos da Faculdade de Medicina de Sorocaba Rodrigo Borstein Martinelli, 24, e Marcelo Guimarães Tiezzi, 23.
Uma comissão processante instituída pela universidade considerou os estudantes culpados por "agressões físicas e morais" cometidas contra o colega Rodrigo Cañas Peccini, 20.
Martinelli e Tiezzi são acusados de terem derramado álcool e ateado fogo em Peccini, em setembro último, durante uma festa universitária chamada de "Maratoma".
Os alunos que participam da Maratoma têm de fazer um percurso por várias repúblicas estudantis e beber vários tipos de bebidas alcoólicas em cada uma. Vence o que percorrer o trajeto maior, mesmo que embriagado.
O médico Leandro Oliveira Pinho, 27, que estava com os estudantes no momento do incidente, também é acusado pelo crime, ocorrido em uma república em Sorocaba (98 km de São Paulo).
Peccini sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus em aproximadamente 25% do corpo e teve de fazer cirurgias plásticas.
Sobre a decisão da PUC, a mãe de Peccini, Márcia de Fátima Favorito Peccini, disse que a família "sente um pouco de alívio, porque percebe que justiça começou a ser feita". Ela afirmou que o fato de o filho continuar estudando com os possíveis agressores às vezes era constrangedor.
"Um dia o Rodrigo foi fazer um curativo no hospital do campus e quase foi atendido pelo Boi (apelido de Martinelli)", afirmou.
Procurada pela Agência Folha, a família de Martinelli informou que não vai comentar a decisão da PUC no momento. A mãe de Tiezzi, Lígia Tiezzi, afirmou que a condução do caso pela universidade não foi justa e que a decisão de expulsar os dois estudantes só foi tomada devido a "pressões muito fortes feitas por várias pessoas".
"Os meninos não são bandidos. O que houve foi um acidente. Todos neste caso são vítimas. Vítimas do álcool", disse. Ela afirmou que a família vai analisar a possibilidade de recorrer da decisão.
No inquérito policial enviado ao Ministério Público, o delegado Celso Araújo, do 3º DP de Sorocaba, indiciou o médico Leandro Oliveira Pinho e os dois estudantes por "tentativa de homicídio em dolo eventual" (quando não há intenção de matar, mas o resultado da ação é previsível).
Os três acusados, em depoimentos à polícia, afirmaram que foi um acidente. Pinho disse que pensou ser água o líquido esparramado em Peccini. O promotor Wanderley de Campos, que recebeu o caso, devolveu o inquérito à polícia, pedindo novas investigações.



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