São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NARCOTRÁFICO

Deputados, desembargadores, prefeitos, policiais e empresários são acusados de envolvimento com crime organizado

Relatório da CPI indicia 800 pessoas



VALÉRIA DE OLIVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI do Narcotráfico aprovou ontem relatório final indiciando mais de 800 pessoas, entre elas dois deputados federais, 14 deputados estaduais e seis desembargadores. Também entraram na lista prefeitos, delegados, policiais civis, militares e empresários.
Hoje, os deputados vão encaminhar o documento para a Mesa da Câmara e depois para o governo federal, Ministério Público e outras autoridades.
Durante a plenária da comissão, foi necessário tirar novas cópias do documento para corrigir erros, inclusive nomes de deputados incluídos por engano.
Os indiciamentos são fundamentados na acusação de prática de vários crimes, entre eles envolvimento com o crime organizado e narcotráfico, homicídio, corrupção, sonegação fiscal, tráfico internacional de drogas, roubo de carga e lavagem de dinheiro.
Uma das surpresas foi a inclusão do general paraguaio Lino Oviedo. Ele é acusado de tráfico internacional de drogas e contrabando de armas, além de crime de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Alguns bancos e empresas de telefonia também estão no relatório por desobediência às ordens da CPI para que fossem enviados documentos.
O médico-legista Fortunato Badan Palhares, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), foi indiciado sob a acusação de emitir laudo falso e prestar serviço ao crime organizado.
O laudo feito por ele sobre a morte de PC Farias, em 96, tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor, foi contestado por outros legistas. No documento apresentado havia diferença na altura de Susana Marcolino, namorada de PC, conforme foi mostrado pela Folha.
Em São Paulo, os indiciamentos mais importantes foram os de integrantes da quadrilha de William Sozza. Além do empresário, que está foragido, foram indiciados dois irmãos dele, Eduardo e Marco Aurélio, o seu suposto testa-de-ferro, Geraldo da Silva Burdini Júnior, além do advogado Arthur Eugênio Mathias e vários policiais. Todos são acusados de envolvimento com o crime organizado, narcotráfico, roubo de cargas e lavagem de dinheiro. Alguns responderão também por crime de sonegação fiscal.
No Acre, um dos indiciados é o deputado José Aleksandro (PSL). Os crimes atribuídos a ele são envolvimento com crime organizado, sonegação fiscal e falso testemunho prestado à CPI. O ex-governador Orleir Cameli também está na lista de indiciados do relatório. Pesa contra ele acusação de envolvimento com narcotráfico e crime organizado.
Raceme Cameli, primo do governador, também foi indiciado. Além dele, consta da lista a piloto de avião do governador, Sâmia Haddock Lobo, acusada de crime de sonegação fiscal, além dos delitos imputados a Cameli.
Em Alagoas, um dos indiciados é o deputado Augusto Farias (PFL), irmão de Paulo César Farias. Ele foi acusado de envolvimento com crime organizado e lavagem de dinheiro. Farias disse no plenário da Câmara ontem que é inocente e foi indiciado por perseguição política.
Também constam da lista de indiciados os deputados estaduais João Beltrão Siqueira, José Francisco Cerqueira Tenório, Antonio Ribeiro Albuquerque, Júnior Leão, Cícero Ferro, Celso Luiz e a deputada Fátima Cordeiro. Os parlamentares estaduais de Alagoas foram acusados de crimes de sonegação fiscal, enriquecimento ilícito e crime organizado. O ex-governador alagoano Manoel Gomes de Barros foi indiciado por prevaricação.
No Espírito Santo, a CPI indiciou o presidente da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz, sob a acusação de envolvimento com o crime organizado e o deputado estadual Gilson Santos Lopes Filho acusado de corrupção, homicídio e participação no crime organizado. O desembargador Geraldo Correa Lima também foi indiciado. Contra ele, a CPI encontrou indícios de envolvimento com o crime organizado.
Já no Amapá, foram indiciados três deputados estaduais. O ex-presidente da Assembléia Fran Júnior, que havia sido afastado por suspeita de envolvimento com o crime organizado e o narcotráfico, responderá por esses delitos e também por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito; o atual presidente da Assembléia, Jorge Salomão e o deputado Paulo José, ambos por envolvimento com narcotráfico e crime organizado.
No Paraná, foram indiciadas 117 pessoas. No Maranhão, 23, entre as quais estão os deputados estaduais cassados José Gerardo e Francisco Caíca -ambos por acusação de homicídio. Entre os indiciados no Rio está a deputada estadual Núbia Cozzolin.
Os indiciados negaram as acusações para integrantes da CPI.
Depois da lista dos indiciados por Estados, o relatório final enumera os envolvidos no caso do tráfico de cocaína nos aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), que responderão por envolvimento com o narcotráfico e o crime organizado. Em seguida, são listados os participantes das conexões de tráfico de drogas da África , do Suriname e do Paraguai.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Violência: Polícia encontra mais 3 granadas no Rio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.