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Pane faz três aeroportos suspenderem decolagens
Falha no sistema de rádio suspendeu vôos com origem em Brasília, Congonhas e Confins
Expectativa é que situação se
normalize até o final do dia
de hoje; Aeronáutica não
descarta sabotagem e quer
que a PF investigue o caso
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Uma pane inédita no sistema
de rádio do Cindacta-1 (o centro de controle de tráfego aéreo
sediado em Brasília) voltou a
provocar ontem atrasos de
vôos e tumultos nos aeroportos, principalmente na capital,
em São Paulo e no Rio.
No começo da noite, a Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) informou que determinou às empresas aéreas a suspensão de todos os vôos com
origem nos aeroportos de Brasília (DF), Congonhas (SP) e
Confins (MG) a partir das
19h30 de ontem, exceto aqueles da ponte aérea Rio-São Paulo. A Anac recomendou aos passageiros que tiveram vôo cancelado que procurassem hoje a
companhia aérea para verificar
quando poderão embarcar.
No final da noite, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro José Carlos Bueno, e o ministro da Defesa, Waldir Pires,
anunciaram que a pane no centro de Brasília estava resolvida
e que a expectativa é que hoje a
situação seja normalizada.
"Tenho boas notícias, acabam de ser restabelecidas todos
os contatos", disse Bueno depois das 22h30 de ontem, após
reunião à noite com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pires e a ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff.
De acordo com Pires, em razão do grande número de vôos
que foram afetados, a situação
levará algum tempo para se
normalizar, mas deve ficar tudo
certo ainda hoje. "Amanhã [hoje] a situação estará normalizada", disse o ministro da Defesa.
O cancelamento das partidas
teve como objetivo liberar os
aeroportos para receberem os
vôos em atraso. A Anac também autorizou o aeroporto de
Congonhas a funcionar durante a madrugada para pousos de
vôos com atraso. A restrição determinada pela agência valia
somente para decolagens.
O Comando da Aeronáutica
não descarta a possibilidade de
sabotagem e determinou a
abertura de sindicância com
participação da Polícia Federal
para fazer varreduras e tentar
identificar as causas. A depender do resultado da sindicância,
é possível a instauração de um
novo Inquérito Policial Militar.
O equipamento atingido é
italiano e tem seis anos de uso.
A pane ocorreu justamente em
meio a uma crise entre os controladores de vôo e a Aeronáutica, aberta pelo acidente com o
Boeing da Gol que matou 154
pessoas em 29 de setembro.
O novo comandante do Cindacta-1, coronel aviador Carlos
de Aquino, no cargo há três semanas, deu entrevista em que
primeiro refutou a possibilidade de sabotagem e depois foi
menos categórico: "Hoje, eu refuto. No entanto, posso chegar
lá na frente e ser desmentido
pela sindicância", declarou.
Os problemas começaram
por volta das 9h, quando sete
das 20 freqüências de rádio do
Cindacta-1 pararam de funcionar e os controladores de tráfego aéreo em Brasília perderam
contato por rádio por cerca de
15 minutos com aviões que estavam voando na órbita do sistema.
Foram então identificadas
falhas na central de áudio, com
"um zumbido muito estranho",
como foi descrito à Folha por
um oficial. Esses primeiros
problemas foram considerados
resolvidos rapidamente. Não
estavam. Por volta das 13 horas,
recomeçaram e, desta vez, os
controladores perderam todas
as 20 freqüências de rádio.
Por segurança, o controle
central de Brasília acionou
controles periféricos e todos os
aviões que estavam no ar na região controlada pelo Cindacta-1 foram orientados a pousar.
Todas as decolagens foram suspensas, com exceção da ponte
aérea RJ-SP, que é controlada
por um sistema próprio, e de
São Paulo para o Sul, atendida
pelo controle de Curitiba.
Os tumultos nos aeroportos
começaram em outubro, com
uma "operação-padrão" dos
controladores, prosseguiram
por questões climáticas e chegaram a padrões caóticos com
as chuvas de anteontem, especialmente em São Paulo. A pane da central de áudio de Brasília agrava o problema e as suspeitas sobre a segurança do sistema de controle de tráfego aéreo no Brasil.
Aprofunda, também, o clima
de beligerância entre o Comando da Aeronáutica e os controladores. Desde o início da crise,
já caíram tanto o comandante
do Cindacta-1 quanto o do próprio Decea (Departamento de
Controle do Espaço Aéreo, ao
qual é vinculado).
A sindicância aberta ontem
também não é a primeira. A Aeronáutica já havia iniciado um
IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a conduta de
controladores militares durante a operação-padrão, que teve
características apontadas como sindicais e reivindicatórias
- proibidas para a categoria.
Aquino informou que o problema de ontem foi numa sala à
qual os controladores não têm
acesso, só os técnicos de manutenção -que também são sargentos especialistas. Ou seja:
na hipótese de sabotagem
-ainda mera suposição que depende de investigação-, a Aeronáutica não descarta que os
técnicos estejam aderindo ao
movimento dos controladores.
Aquino, porém, foi taxativo
ao negar tal possibilidade:
"Confio nos meus homens e no
trabalho deles".
Colaboraram ANDREA MICHAEL e HUMBERTO
MEDINA, da Sucursal de Brasília
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