São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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Pane faz três aeroportos suspenderem decolagens

Falha no sistema de rádio suspendeu vôos com origem em Brasília, Congonhas e Confins

Expectativa é que situação se normalize até o final do dia de hoje; Aeronáutica não descarta sabotagem e quer que a PF investigue o caso

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Uma pane inédita no sistema de rádio do Cindacta-1 (o centro de controle de tráfego aéreo sediado em Brasília) voltou a provocar ontem atrasos de vôos e tumultos nos aeroportos, principalmente na capital, em São Paulo e no Rio.
No começo da noite, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que determinou às empresas aéreas a suspensão de todos os vôos com origem nos aeroportos de Brasília (DF), Congonhas (SP) e Confins (MG) a partir das 19h30 de ontem, exceto aqueles da ponte aérea Rio-São Paulo. A Anac recomendou aos passageiros que tiveram vôo cancelado que procurassem hoje a companhia aérea para verificar quando poderão embarcar.
No final da noite, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro José Carlos Bueno, e o ministro da Defesa, Waldir Pires, anunciaram que a pane no centro de Brasília estava resolvida e que a expectativa é que hoje a situação seja normalizada.
"Tenho boas notícias, acabam de ser restabelecidas todos os contatos", disse Bueno depois das 22h30 de ontem, após reunião à noite com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pires e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
De acordo com Pires, em razão do grande número de vôos que foram afetados, a situação levará algum tempo para se normalizar, mas deve ficar tudo certo ainda hoje. "Amanhã [hoje] a situação estará normalizada", disse o ministro da Defesa.
O cancelamento das partidas teve como objetivo liberar os aeroportos para receberem os vôos em atraso. A Anac também autorizou o aeroporto de Congonhas a funcionar durante a madrugada para pousos de vôos com atraso. A restrição determinada pela agência valia somente para decolagens.
O Comando da Aeronáutica não descarta a possibilidade de sabotagem e determinou a abertura de sindicância com participação da Polícia Federal para fazer varreduras e tentar identificar as causas. A depender do resultado da sindicância, é possível a instauração de um novo Inquérito Policial Militar.
O equipamento atingido é italiano e tem seis anos de uso. A pane ocorreu justamente em meio a uma crise entre os controladores de vôo e a Aeronáutica, aberta pelo acidente com o Boeing da Gol que matou 154 pessoas em 29 de setembro.
O novo comandante do Cindacta-1, coronel aviador Carlos de Aquino, no cargo há três semanas, deu entrevista em que primeiro refutou a possibilidade de sabotagem e depois foi menos categórico: "Hoje, eu refuto. No entanto, posso chegar lá na frente e ser desmentido pela sindicância", declarou.
Os problemas começaram por volta das 9h, quando sete das 20 freqüências de rádio do Cindacta-1 pararam de funcionar e os controladores de tráfego aéreo em Brasília perderam contato por rádio por cerca de 15 minutos com aviões que estavam voando na órbita do sistema.
Foram então identificadas falhas na central de áudio, com "um zumbido muito estranho", como foi descrito à Folha por um oficial. Esses primeiros problemas foram considerados resolvidos rapidamente. Não estavam. Por volta das 13 horas, recomeçaram e, desta vez, os controladores perderam todas as 20 freqüências de rádio.
Por segurança, o controle central de Brasília acionou controles periféricos e todos os aviões que estavam no ar na região controlada pelo Cindacta-1 foram orientados a pousar. Todas as decolagens foram suspensas, com exceção da ponte aérea RJ-SP, que é controlada por um sistema próprio, e de São Paulo para o Sul, atendida pelo controle de Curitiba.
Os tumultos nos aeroportos começaram em outubro, com uma "operação-padrão" dos controladores, prosseguiram por questões climáticas e chegaram a padrões caóticos com as chuvas de anteontem, especialmente em São Paulo. A pane da central de áudio de Brasília agrava o problema e as suspeitas sobre a segurança do sistema de controle de tráfego aéreo no Brasil.
Aprofunda, também, o clima de beligerância entre o Comando da Aeronáutica e os controladores. Desde o início da crise, já caíram tanto o comandante do Cindacta-1 quanto o do próprio Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo, ao qual é vinculado).
A sindicância aberta ontem também não é a primeira. A Aeronáutica já havia iniciado um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a conduta de controladores militares durante a operação-padrão, que teve características apontadas como sindicais e reivindicatórias - proibidas para a categoria.
Aquino informou que o problema de ontem foi numa sala à qual os controladores não têm acesso, só os técnicos de manutenção -que também são sargentos especialistas. Ou seja: na hipótese de sabotagem -ainda mera suposição que depende de investigação-, a Aeronáutica não descarta que os técnicos estejam aderindo ao movimento dos controladores.
Aquino, porém, foi taxativo ao negar tal possibilidade: "Confio nos meus homens e no trabalho deles".


Colaboraram ANDREA MICHAEL e HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília


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