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Laudo inocenta mãe acusada de matar filha
Daniele foi acusada de colocar cocaína na mamadeira; ela foi libertada e diz que agora quer saber do que a filha morreu
O laudo definitivo do material colhido na boca e na mamadeira da criança divulgado anteontem negou o uso da droga
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A TAUBATÉ (SP)
Foi colocada em liberdade
ontem, depois de 37 dias de prisão, a jovem Daniele Toledo do
Prado, 21, acusada injustamente de envenenar a própria filha,
Victória Maria do Prado Iori
Camargo, de apenas um ano e
três meses, com cocaína colocada na mamadeira da menina.
Laudo definitivo do Instituto
de Criminalística provou que
não era cocaína o pó branco encontrado na mamadeira. Também deu negativo para cocaína
o exame feito no pó branco encontrado na boca da criança e
recolhido no hospital.
Caiu assim a única evidência
que incriminava Daniele, um
laudo provisório que a levou à
prisão logo que constatada a
morte clínica da menina, às
10h40 de 29 de outubro. O alvará de soltura foi concedido pelo
juiz da Vara do Júri e da Infância e Juventude de Taubaté,
Marco Antonio Montemor.
"Eu nem tinha ainda conseguido entender o que significava aquele pííííííííí do oxímetro
[que indicava a ausência de pulso], a correria dos médicos para
ressuscitá-la, o corpinho inerte
da Victória ainda com o tubo
saindo da boca, quando a doutora Érika me arrastou pelo
braço para a sala onde estava
minha filha, gritando: "Olha o
que você fez, sua assassina. Encara o que você fez, monstro"."
Dali, sem tempo para chorar
a perda da filha, Daniele foi levada para a cadeia pública de
Pindamonhangaba. "Joga o bicho da mamadeira para cá." Essa foi a senha para o início da
surra que deixou Daniele com a
mandíbula quebrada, hematomas no corpo e lesões na cabeça, por causa das pancadas contra as grades da cela. Nada menos do que 18 presas participaram da ação contra a jovem.
"Uma presa enfiou uma caneta no meu ouvido e já ia dar
um soco para que entrasse até o
talo, quando outra lhe pediu
que não fizesse isso. Então, ela
quebrou a caneta e metade ficou dentro", lembra Daniele.
Apesar dos gritos, o socorro só
chegou duas horas depois, ao
amanhecer, quando a jovem foi
levada inconsciente para o
pronto-socorro.
Doença estranha
Daniele e sua filha eram bem
conhecidas no Hospital Universitário de Taubaté. A menininha tinha uma doença até hoje não diagnosticada, que a deixava inconsciente por várias
horas. A criança tomava de
quatro a cinco remédios diariamente, inclusive um para evitar
convulsões, composto por pó
branco. Por causa do agravamento de seu quadro clínico, os
últimos quatro meses de vida
de Victória foram um entra-e-sai do hospital, com várias internações na UTI.
No dia 8 de outubro, a filha
internada, Daniele foi estuprada dentro do hospital. Bastante
machucada e em estado de choque, foi atendida lá mesmo. Segundo o delegado-seccional de
Taubaté (130 km de SP), Roberto Martins de Barros, um laudo
confirma a violência sexual. Na
delegacia, Daniele acusou, como autor do crime, um quintanista de medicina, do corpo de
residentes do hospital.
"Ele me ameaçava e dizia, enquanto me estuprava, que sabia
que eu precisava do hospital
para cuidar da minha filha",
lembra Daniele.
Depois da denúncia contra o
residente, a moça teve de ir à
delegacia outra vez, antes da
morte da filha. Dia 19 de outubro, médicos do hospital denunciaram ter encontrado um
pó branco suspeito no pescoço
de Victória. Sem autorização da
mãe, foram recolhidas amostras de sangue e de urina da
criança. Suspeita: cocaína. O
resultado deu negativo.
A última alta de Victória foi
no dia 25 de outubro. Mas a menina podia voltar a ter uma de
suas crises a qualquer momento. Foi entregue a Daniele uma
carta de encaminhamento assinada por duas médicas. Se o
quadro clínico da menina piorasse, ela tinha autorização para ir diretamente ao Hospital
Universitário.
No dia 28, a criança teve nova
crise e a mãe, como combinado,
levou-a ao hospital. Não quiseram recebê-la. A mãe deveria
levá-la primeiro ao Pronto-Socorro Municipal, onde chegou
às 20h30.
A mãe denuncia que, mesmo
inconsciente, a criança ficou
sem atendimento até as 4h25,
quando recebeu glicose em soro. Nesse momento, foi coletada a substância branca da língua da criança (a mesma que o
exame preliminar do Instituto
de Criminalística afirmava ser
cocaína). Às 10h40, Victória
morreu.
Assim que foi libertada, ontem, a mãe de Victória abraçou
os familiares que a esperavam
do lado de fora da Penitenciária
de Tremembé (a 138 km de SP).
Chorou e, depois, conforme havia pedido à advogada Gladiwa
de Almeida Ribeiro, foi para o
cemitério visitar o túmulo da
menina.
Ela pretende entrar na Justiça para saber se a filha morreu
por omissão de socorro ou por
morte natural. Também quer
punir o estuprador que a vitimou. "Eu tenho o direito de saber exatamente do que a minha
Victória morreu."
Colaborou o "Agora"
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