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Pilotos do Legacy desligaram o transponder, conclui FAB
Relatório final da Aeronáutica, que não apontará culpados, será apresentado na quarta-feira
Se estivesse operando, o equipamento teria acionado o sistema anti-colisão capaz de desviar o avião de qualquer alvo
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O relatório final da Aeronáutica sobre o acidente entre o
Boeing da Gol e o jato Legacy,
em 29 de setembro de 2006,
com 154 mortos, tem 261 páginas e será apresentado na próxima quarta-feira, esclarecendo a principal e praticamente
única dúvida que ainda persistia: o transponder do Legacy foi
manuseado de forma errada
pelos pilotos e entrou em
"stand by" inadvertidamente.
Se estivesse operando normalmente, o equipamento teria evitado o acidente, porque é
ele que aciona o TCAS, sistema
anti-colisão capaz de desviar o
avião de qualquer alvo sólido
que esteja à frente, mesmo à revelia dos pilotos.
Seria a última chance de impedir o choque, depois de uma
série de erros, desde displicência até falta de comunicação,
que o relatório confirma tanto
dos pilotos norte-americanos
Joe Lepore e Jan Paladino, do
Legacy, quanto dos controladores do Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e de
Controle de Tráfego Aéreo) em
Brasília e em São José dos
Campos (SP), de onde o Legacy
decolou para seu primeiro vôo.
A investigação, comandada
pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos), foi detalhada
não só em texto, mas numa reconstituição, minuto a minuto,
de tudo o que se passou com os
dois aviões até que eles se chocassem em pleno ar, sobre a
serra do Cachimbo, em Mato
Grosso. Todos os ocupantes do
Boeing morreram. O Legacy
conseguiu pousar.
O trabalho tem mais de duas
horas e foi todo feito com base
nos dados das caixas-pretas e
dos radares em terra. Já foi
mostrado para representantes
das famílias, que choraram durante a apresentação no Cenipa
e ficaram com uma dúvida:
quanto tempo seus parentes
demoraram para morrer.
Do momento em que o Legacy cortou parte da asa direita
do Boeing até que seus pedaços
tocassem o solo, passou-se um
minuto e quatro segundos. A
caixa-preta parou de gravar os
dados técnicos após os primeiros 55 segundos, quando o
avião da Gol deu quase 12 voltas
sobre si mesmo. Até o chão, foram mais nove segundos.
Com a força da gravidade,
além da forte possibilidade de
terem batido a cabeça, é improvável que as vítimas tenham sofrido ou tido consciência clara
sobre a tragédia.
Um dado que a investigação
desprezou foi a eventual existência de voz ou vozes na caixa-preta do Boeing. Conforme a
Folha apurou, o Cenipa concluiu que reproduzir vozes seria um sofrimento a mais para
as famílias e não contribuiria
para as conclusões.
A "animação" é em cima de
três telas, uma na vertical, à esquerda, com o mapa e a trajetória dos dois aviões. À direita, há
duas telas, a de cima com a movimentação do Legacy e a de
baixo, com a do Boeing. A qualquer dúvida, as imagens podem
ser interrompidas e confrontadas com as dos radares do Cindacta. O Legacy estava monitorado por cinco desses radares.
A tela do Cindacta 1, de Brasília, mostra claramente que o
círculo com uma cruz no meio,
que indicava a conexão com o
transponder do Legacy, se apaga. Na mesma tela, simultaneamente, pelo menos meia dúzia
de outros símbolos assim estavam e continuaram ligados, inclusive de outros dois aviões.
O Legacy estava, àquela altura, a 55 minutos e 18 segundos
do exato momento do choque
com o Boeing, que vinha em
sentido contrário, a partir de
Manaus, e na mesma altitude,
37 mil pés. O transponder ficou
fora do radar durante todo esse
tempo e só foi reaparecer depois do acidente, quando Lepore questiona Paladino e os dois
se dão conta de que estava em
"stand by". O diálogo está na
caixa-preta e é um dos dados
mais relevantes do relatório.
O objetivo de conclusões técnicas de acidentes aeronáuticos não é punir e nem mesmo
responsabilizar pessoas, mas
identificar falhas e produzir recomendações que possam evitar novos acidentes.
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