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Pesticida contamina rio que abastece 9 milhões no Rio
Em sigilo, Cedae parou captação de água poluída e diz não haver risco à população
Pelo menos 10 mil litros de veneno foram despejados por indústria no rio Guandu; houve mortandade de peixes e outros animais
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O despejo de pelo menos 10
mil litros do pesticida endossulfan em um afluente do rio
Paraíba do Sul, no último dia 18,
atingiu o rio Guandu, fonte que
abastece 9 milhões de pessoas
na região metropolitana do Rio.
Em sigilo, a Cedae (Companhia
Estadual de Águas e Esgoto) interrompeu a captação da água
poluída, na esperança de que o
veneno não chegasse ao rio. A
medida fracassou.
O produto contaminou o
Guandu, causou uma grande
mortandade de peixes no rio
que abastece 85% dos habitantes da região metropolitana e
chegou à baía de Sepetiba (zona
oeste carioca), onde deságua o
canal de São Francisco, a 120
km do local do vazamento.
O Cedae não fez um comunicado formal sobre o vazamento
nem sobre a interrupção da
captação da água -das 20h do
dia 19 às 16h do dia 20 de outubro. A companhia diz que não
houve risco à população.
O Guandu é formado por cerca de 2/3 da vazão do Paraíba
do Sul. A água, antes de distribuída aos consumidores, passa
por processos de purificação.
O despejo do pesticida no rio
Pirapetinga pela indústria química Servatis, em Resende,
atingiu o Paraíba do Sul em seguida. Depois, percorreu cerca
de 800 km até a foz do rio, no
distrito de Atafona. No trajeto,
matou peixes, tartarugas, jacarés e mamíferos que vivem às
margens, como capivaras.
O trajeto no Guandu foi outro. Após a captação, o endossulfan percorreu todos os cursos d'água e reservatórios que
abastecem o Rio e municípios
da Baixada Fluminense.
Alertada, a Cedae monitorou
no Paraíba do Sul a chegada da
água contaminada ao local da
transposição. Diante da gravidade do vazamento, decidiu interromper o processo.
A retomada da captação só
ocorreu porque as reservas de
água estavam no limite e as medições da contaminação indicavam que a carga despejada não
teria, àquela altura, conseqüência ao ser humano. Com a reabertura, o veneno entrou no
Guandu e matou os peixes no
percurso de 22 km até o mar.
A contaminação do sistema
Guandu pelo pesticida durou
até domingo passado, 12 dias
após o vazamento. Na ocasião, a
Cedae, pela primeira vez desde
o despejo, não encontrou vestígios do produto na água.
Outro lado
O diretor de Produção da Cedae, Jorge Briard, disse que a
decisão de interromper a captação da água do rio Paraíba do
Sul impediu a contaminação
dos moradores. Em relação aos
peixes, pouco poderia ter sido
feito para evitar a mortandade,
segundo ele. Isso porque "é
muito baixa a resistência" dos
pescados ao endossulfan.
A Cedae vai entrar na Justiça
contra a Servatis para cobrar
ressarcimento pelos gastos,
ainda não calculados, para evitar a captação do pesticida.
Procurada, a Servatis disse
que só falaria do assunto pessoalmente, em Resende.
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