São Paulo, sábado, 07 de janeiro de 2006

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Sintomas dificultam o diagnóstico

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se manifesta pela primeira vez, a diabetes pode ser mascarada por outros sintomas que dificultam o diagnóstico, afirmam pediatras especializados em endocrinologia.
Na avaliação do médico Paulo Ferrez Solberg, do departamento de endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, quando vistos retrospectivamente, casos como o do garoto Victor podem parecer de fácil diagnóstico, mas, na realidade, não são.
"No verão, as crianças bebem muita água, fazem muito xixi. Ninguém presta atenção nesses sintomas isolados, nem os pais nem os médicos", diz ele. As viroses, avalia o médico, também podem enganar.
Solberg diz que 25% dos casos de diabetes são diagnosticados quando a pessoa apresenta a cetoacidose diabética, que ocorre quando a taxa de açúcar se mantém alta no sangue durante algum tempo. Ela pode ser evitada com o uso de insulina.
Além do emagrecimento, micção excessiva e muita sede, é comum a ocorrência de vômitos e dor abdominal. Quando há edema cerebral, o que aconteceu com Victor, a cetoacidose pode matar em 30% dos casos.
Segundo Paulo Solberg, a literatura médica traz casos de pessoas que foram operadas de apendicite quando, na realidade, estavam com cetoacidose diabética.
Ele afirma que não é rotina na pediatria pedir o exame glicêmico, a não ser que haja evidências da diabetes. Mas os sintomas relatados pela mãe aos médicos não são evidências da doença? "Olhar depois que aconteceu (a morte) é muito mais fácil", repete Solberg.
Para o médico, as medicações prescritas ao garoto não agravaram a doença. "A cetoacidose acontece por falta de insulina."
A Folha ouviu outros três pediatras que deram informações sobre a doença, mas não quiseram ter os nomes publicados temendo que suas declarações fossem vinculadas ao caso de Victor.
Segundo eles, quando um paciente entra em cetoacidose, ele já vem mobilizando suas defesas há bastante tempo, buscando se adaptar a uma situação metabólica desfavorável.
As células, sem conseguir usar o açúcar, começam a utilizar outras fontes de energia. As células de gordura são decompostas, produzindo cetonas, compostos químicos tóxicos que podem tornar o sangue ácido (cetoacidose).


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