|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Problema é mais intenso para adolescentes que engravidam
DA SUCURSAL DO RIO
Ao criar tele-salas e cursos de
capacitação para jovens de
áreas pobres no Rio, a ONG Viva Rio logo se deu conta de que
era preciso ter um programa
específico para jovens mães
que as ajudassem a conciliar estudo e as funções maternas.
Nesse sentido, foi criado o
programa Ana e Maria, que oferece atendimento psicológico e
de enfermagem para as jovens
mães. O objetivo é não deixar
que a maternidade impeça que
elas se capacitem ou voltem ao
sistema formal de ensino.
Para a coordenadora do programa, Cibele Dias, a escola não
está preparada para recebê-las.
"Essa é uma realidade que precisa ser enfrentada pelas escolas. Tem que se pensar, por
exemplo, em berçários ou creches que permitam que a mãe
estude enquanto o filho está
sendo bem cuidado."
A psicóloga Priscila Aleksandrowicz, que atende mães pelo
projeto, conta que uma queixa
comum delas foi que não há tolerância da escola. "Algumas
reclamavam que eram barrados na portaria porque o uniforme curto deixava a barriga à
mostra. Nas conversas que tive
com várias delas, percebi também que havia apoio dos colegas, mas nem sempre dos professores e funcionários."
Tanto Dias quanto Aleksandrowicz reclamam também
que a escola precisa interagir
melhor com os postos de saúde.
"Há relatos de postos que não
davam medicamento para a jovem porque ela não estava com
os pais. Mas muitas não queriam falar na frente dos pais. A
escola poderia ajudar", afirma a
coordenadora do programa.
Fernanda (nome fictício),
uma das jovens atendidas pelo
projeto no Complexo da Maré
(zona norte), conta que foi expulsa da escola sem que o diretor a chamasse para conversar.
"O problema era meu padrasto,
que me batia em casa. Comecei
a faltar muito, e a direção chamou só meus pais para conversar, que disseram uma coisa diferente do que eu sentia."
O ministro da Educação, Fernando Haddad, concorda com a
necessidade de maior integração da rede de saúde e escolar.
"Temos relatos sobre a dificuldade de essas jovens terem
acesso a métodos contraceptivos nos postos de saúde, que às
vezes se recusa a atendê-las alegando que elas moram em outra área que não a da escola."
Trajetórias
Uma pesquisa -chamada de
Gravidez na Adolescência- feita no Rio, Bahia e Rio Grande
do Sul com adolescentes mostra que um contingente significativo (47%) já não estudava
quando teve o primeiro filho.
Em capítulo no livro "Transição para a vida adulta ou vida
adulta em transição", lançado
pelo Ipea, as pesquisadoras da
Uerj Maria Luiza Heilborn e
Cristiane Cabral afirmam que,
para muitas meninas, ser mãe
as faz ascender para o "status"
de mulheres. "As trajetórias
dos jovens envolvidos com a
parentalidade não foram interrompidas por sua causa. De fato, elas já se mostravam erráticas antes", dizem no livro.
Texto Anterior: "Escola é chata porque não faz sentido" Próximo Texto: Mortes no RJ em razão da chuva chegam a 28 Índice
|