São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Problema é mais intenso para adolescentes que engravidam

DA SUCURSAL DO RIO

Ao criar tele-salas e cursos de capacitação para jovens de áreas pobres no Rio, a ONG Viva Rio logo se deu conta de que era preciso ter um programa específico para jovens mães que as ajudassem a conciliar estudo e as funções maternas.
Nesse sentido, foi criado o programa Ana e Maria, que oferece atendimento psicológico e de enfermagem para as jovens mães. O objetivo é não deixar que a maternidade impeça que elas se capacitem ou voltem ao sistema formal de ensino.
Para a coordenadora do programa, Cibele Dias, a escola não está preparada para recebê-las. "Essa é uma realidade que precisa ser enfrentada pelas escolas. Tem que se pensar, por exemplo, em berçários ou creches que permitam que a mãe estude enquanto o filho está sendo bem cuidado."
A psicóloga Priscila Aleksandrowicz, que atende mães pelo projeto, conta que uma queixa comum delas foi que não há tolerância da escola. "Algumas reclamavam que eram barrados na portaria porque o uniforme curto deixava a barriga à mostra. Nas conversas que tive com várias delas, percebi também que havia apoio dos colegas, mas nem sempre dos professores e funcionários."
Tanto Dias quanto Aleksandrowicz reclamam também que a escola precisa interagir melhor com os postos de saúde. "Há relatos de postos que não davam medicamento para a jovem porque ela não estava com os pais. Mas muitas não queriam falar na frente dos pais. A escola poderia ajudar", afirma a coordenadora do programa.
Fernanda (nome fictício), uma das jovens atendidas pelo projeto no Complexo da Maré (zona norte), conta que foi expulsa da escola sem que o diretor a chamasse para conversar. "O problema era meu padrasto, que me batia em casa. Comecei a faltar muito, e a direção chamou só meus pais para conversar, que disseram uma coisa diferente do que eu sentia."
O ministro da Educação, Fernando Haddad, concorda com a necessidade de maior integração da rede de saúde e escolar. "Temos relatos sobre a dificuldade de essas jovens terem acesso a métodos contraceptivos nos postos de saúde, que às vezes se recusa a atendê-las alegando que elas moram em outra área que não a da escola."

Trajetórias
Uma pesquisa -chamada de Gravidez na Adolescência- feita no Rio, Bahia e Rio Grande do Sul com adolescentes mostra que um contingente significativo (47%) já não estudava quando teve o primeiro filho.
Em capítulo no livro "Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição", lançado pelo Ipea, as pesquisadoras da Uerj Maria Luiza Heilborn e Cristiane Cabral afirmam que, para muitas meninas, ser mãe as faz ascender para o "status" de mulheres. "As trajetórias dos jovens envolvidos com a parentalidade não foram interrompidas por sua causa. De fato, elas já se mostravam erráticas antes", dizem no livro.


Texto Anterior: "Escola é chata porque não faz sentido"
Próximo Texto: Mortes no RJ em razão da chuva chegam a 28
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.