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DATAFOLHA
Pesquisa mostra que intenção de ser doador caiu para 63%, 12 pontos percentuais abaixo do apurado em 95
Vontade de doar órgãos cai com nova lei
ROGERIO SCHLEGEL
da Reportagem Local
A nova lei sobre doação de órgãos está atrapalhando mais do
que ajudando a causa. Pesquisa
Datafolha feita ontem mostrou
que caiu a intenção de ceder órgãos e -pior- de permitir que
órgãos de um familiar sejam retirados após a morte dele.
Diminuiu para 63% o percentual
dos que hoje cederiam seus órgãos
espontaneamente. Em 95, o Datafolha apurou que 75% tinham
vontade de doar.
Agora, 54% disseram que permitiriam a retirada de órgãos de um
familiar -contra 69% registrados
há dois anos e meio.
Pela nova legislação, todo brasileiro é considerado doador, a menos que tenha se manifestado contra, fazendo documentos pessoais
com a inscrição "não-doador".
O levantamento do Datafolha indica que a lei atual criou um novo
problema e não resolveu aquele
que pretendia combater.
Pela regra anterior, eram doadores os que tivessem manifestado
esse desejo em vida, mas as pessoas diziam não saber como fazer
isso -informação de 63% dos entrevistados em 95, quando estava
sendo discutida lei sobre o tema na
Câmara de São Paulo.
A retirada de órgãos também podia ser autorizada pela família,
após a morte do paciente.
Hoje a lei permite a retirada
compulsória. Só que, por questões
éticas, os médicos continuam pedindo o consentimento da família.
Em resumo: a nova lei trocou
uma situação em que a dificuldade
de doar em vida era contornável
pela autorização da família, por
outra em que a família continua
tendo a palavra final, só que agora
com maior rejeição à doação.
A intenção de doar ou permitir a
retirada de órgãos de um familiar
voltou ao patamar apurado em
pesquisa de 90. Mas hoje há maior
rejeição, pois parte dos que antes
não tinham opinião formada agora se declaram contra a doação
(veja quadro ao lado).
Novo documento
A população defende a postura
dos médicos, de consultar a família mesmo que a lei não exija o consentimento dela. De cada cinco entrevistados, quatro acham que esse
procedimento deve ser observado.
Embora não digam ser contrários à nova lei (só 24% são totalmente contra e 13%, em parte), os
entrevistados defendem o método
previsto na regra antiga.
A maioria relativa (41%) acredita
que a doação deveria ser autorizada pela pessoa em vida ou por seus
familiares, após a morte. A nova
sistemática foi defendida por apenas 18% dos entrevistados.
A população tomou conhecimento da mudança legal na área
(70%), mas não pretende mudar
seu documento para ser não-doador (64%). Apenas uma em cada
cinco pessoas pretende fazer uma
nova identidade ou habilitação.
Quem conhece de perto o drama
dos que dependem de um transplante é mais flexível. Entre os que
conheceram pessoa que morreu
na fila, 81% cederiam seus órgãos
espontaneamente e 80% não pretendem mudar seus documentos.
Do total, 12% conheceram alguém que morreu por falta de órgão e 16% conhecem alguém que
está na fila do transplante.
A pesquisa Datafolha, realizada pela Gerência
de Pesquisas de Opinião, ouviu 640 moradores
da cidade de São Paulo e tem margem de erro
de quatro pontos percentuais.
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