São Paulo, quarta, 7 de janeiro de 1998.



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DATAFOLHA
Pesquisa mostra que intenção de ser doador caiu para 63%, 12 pontos percentuais abaixo do apurado em 95
Vontade de doar órgãos cai com nova lei

ROGERIO SCHLEGEL
da Reportagem Local

A nova lei sobre doação de órgãos está atrapalhando mais do que ajudando a causa. Pesquisa Datafolha feita ontem mostrou que caiu a intenção de ceder órgãos e -pior- de permitir que órgãos de um familiar sejam retirados após a morte dele.
Diminuiu para 63% o percentual dos que hoje cederiam seus órgãos espontaneamente. Em 95, o Datafolha apurou que 75% tinham vontade de doar.
Agora, 54% disseram que permitiriam a retirada de órgãos de um familiar -contra 69% registrados há dois anos e meio.
Pela nova legislação, todo brasileiro é considerado doador, a menos que tenha se manifestado contra, fazendo documentos pessoais com a inscrição "não-doador".
O levantamento do Datafolha indica que a lei atual criou um novo problema e não resolveu aquele que pretendia combater.
Pela regra anterior, eram doadores os que tivessem manifestado esse desejo em vida, mas as pessoas diziam não saber como fazer isso -informação de 63% dos entrevistados em 95, quando estava sendo discutida lei sobre o tema na Câmara de São Paulo.
A retirada de órgãos também podia ser autorizada pela família, após a morte do paciente.
Hoje a lei permite a retirada compulsória. Só que, por questões éticas, os médicos continuam pedindo o consentimento da família.
Em resumo: a nova lei trocou uma situação em que a dificuldade de doar em vida era contornável pela autorização da família, por outra em que a família continua tendo a palavra final, só que agora com maior rejeição à doação.
A intenção de doar ou permitir a retirada de órgãos de um familiar voltou ao patamar apurado em pesquisa de 90. Mas hoje há maior rejeição, pois parte dos que antes não tinham opinião formada agora se declaram contra a doação (veja quadro ao lado).
Novo documento
A população defende a postura dos médicos, de consultar a família mesmo que a lei não exija o consentimento dela. De cada cinco entrevistados, quatro acham que esse procedimento deve ser observado.
Embora não digam ser contrários à nova lei (só 24% são totalmente contra e 13%, em parte), os entrevistados defendem o método previsto na regra antiga.
A maioria relativa (41%) acredita que a doação deveria ser autorizada pela pessoa em vida ou por seus familiares, após a morte. A nova sistemática foi defendida por apenas 18% dos entrevistados.
A população tomou conhecimento da mudança legal na área (70%), mas não pretende mudar seu documento para ser não-doador (64%). Apenas uma em cada cinco pessoas pretende fazer uma nova identidade ou habilitação.
Quem conhece de perto o drama dos que dependem de um transplante é mais flexível. Entre os que conheceram pessoa que morreu na fila, 81% cederiam seus órgãos espontaneamente e 80% não pretendem mudar seus documentos.
Do total, 12% conheceram alguém que morreu por falta de órgão e 16% conhecem alguém que está na fila do transplante.


A pesquisa Datafolha, realizada pela Gerência de Pesquisas de Opinião, ouviu 640 moradores da cidade de São Paulo e tem margem de erro de quatro pontos percentuais.



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