|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSPORTES
Funcionários fazem greve para receber salários; empresários de ônibus responsabilizam a prefeitura por falta de caixa
Grandes empresas param e afetam 1,5 mi
ROBERTO COSSO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ônibus das maiores empresas que controlam o transporte
coletivo de São Paulo não saíram
das garagens ontem (47% da frota
foi paralisada) e prejudicaram 1,5
milhão de passageiros. O motivo
foi o não-pagamento dos salários
de seus funcionários.
Das 21 empresas cujos motoristas e cobradores não trabalharam,
19 pertencem aos grupos Ruas,
Niquini e Belarmino. Juntamente
com o grupo Constantino, eles
controlam mais de metade da frota da cidade, que é atendida por 53
empresas de ônibus.
Era esperada a participação de
24 empresas na greve, mas trabalhadores de 3 das 13 viações do
grupo Ruas não aderiram: Bola
Branca, Campo Belo e São Luiz.
Todas as seis companhias do
empresário Romero Niquini e as
três de Belarmino da Ascenção
Marta pararam ontem, na primeira greve do setor enfrentada pela
prefeita Marta Suplicy (PT).
As quatro empresas de Constantino de Oliveira Júnior funcionaram normalmente. Ele acaba
de abrir a companhia aérea Gol.
Os quatro grupos têm empresas
de ônibus que operam fora da capital paulista. Em virtude de suas
dimensões, eles têm muito poder
de pressão sob as prefeituras das
cidades onde prestam serviços.
Há 27 empresas independentes
em São Paulo. Elas são controladas por pequenos empresários
que, normalmente, não exercem
nenhuma outra atividade.
Só duas independentes participaram da greve: a Viação Nações
Unidas, de Alberto Garcia Varela
e Carlos Varela, e a Viação Santa
Cecília, de Esdras Ribeiro da Silva.
Elas foram as primeiras a voltar
ao trabalho, às 7h de ontem.
Motivação
A greve foi deflagrada porque os
trabalhadores não receberam os
salários anteontem. As empresas
acusam a prefeitura de atrasar os
repasses de verba.
Os vales-transporte e outros bilhetes recebidos pelas empresas
são entregues à prefeitura, que
tem nove dias para pagar os empresários, mas sempre atrasa.
No ano passado, os atrasos chegaram a 40 dias e somaram R$ 167
milhões. Por isso, muitas vezes os
motoristas e cobradores ficavam
sem receber em dia, mas nem
sempre todas as empresas afetadas entravam em greve.
Quando Marta assumiu, em 1º
de janeiro, a dívida com as empresas era de R$ 26 milhões, mas o
valor foi pago no final da primeira
quinzena de janeiro.
Atualmente, o poder público
deve R$ 4,4 milhões. A prefeitura
anunciou a liberação de R$ 6,5
milhões às empresas. O dinheiro
deverá ser depositado hoje.
Apenas 8 das 21 empresas que
entraram em greve pela manhã
continuavam paradas à noite.
Duas delas prometiam fazer os
pagamentos ainda ontem.
As seis empresas do grupo Niquini, porém, prometiam manter
a greve hoje. Elas transportam
diariamente 425 mil passageiros.
Para empresários e trabalhadores, o pagamento dos repasses
não resolve o problema do setor.
"Esses R$ 6,5 milhões não resolvem a questão. Vale para discurso, não para contabilidade", disse
Antonio Sampaio Amaral, diretor
jurídico do Transurb (sindicato
das empresas), que defende a
concessão de subsídios às empresas para compensar a queda do
número de passageiros.
Ele diz que os grandes grupos de
empresas são mais afetados pelos
atrasos da prefeitura porque teriam maiores dificuldades para
obter empréstimos em bancos.
Subsídios
A prefeita Marta Suplicy afirmou ontem que os empresários
de ônibus podem estar usando a
greve dos motoristas para forçar o
pagamento de subsídios pela prefeitura. "Provavelmente deve ser
um recurso que as empresas
usam para fazer pressão contra a
prefeitura e, com isso, ter o subsídio que elas querem", disse.
Durante sua campanha, Marta
acenou com a possibilidade de a
prefeitura voltar a pagar subsídios
às empresas para evitar o aumento excessivo das tarifas.
Por outro lado, Marta também
fez discursos simpáticos aos perueiros, principais inimigos das
viações. Os empresários avaliam
que é impossível agradar os dois
lados, porque apenas o aumento
do número de passageiros transportados por ônibus poderia levar ao equilíbrio da situação econômico-financeira das empresas.
A ex-prefeita Luiza Erundina
(1989-92) introduziu o pagamento de subsídios na cidade. Eles foram mantidos por Paulo Maluf
(1993-96) e chegaram a consumir
R$ 30 milhões ao mês na gestão
Celso Pitta (1997-2000). Mas foram cortados em março passado.
O secretário dos Transportes,
Carlos Zarattini, diz que "não haverá dinheiro para subsídio", pelo
menos neste primeiro semestre.
O presidente do TRT (Tribunal
Regional do Trabalho), Francisco
Antonio de Oliveira, concedeu liminar no final da tarde, a pedido
do Ministério Público do Trabalho, determinando que todas as linhas operem com capacidade de
70% nos horários de pico e de
50% no restante do dia. Em caso
de descumprimento, a multa diária é de R$ 50 mil.
Colaboraram CHICO DE GÓIS e MELISSA DINIZ, da Reportagem Local
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Greves vão se repetir, dizem motoristas Índice
|