São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2001

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TRANSPORTES

Funcionários fazem greve para receber salários; empresários de ônibus responsabilizam a prefeitura por falta de caixa

Grandes empresas param e afetam 1,5 mi

ROBERTO COSSO
ALENCAR IZIDORO


DA REPORTAGEM LOCAL

Os ônibus das maiores empresas que controlam o transporte coletivo de São Paulo não saíram das garagens ontem (47% da frota foi paralisada) e prejudicaram 1,5 milhão de passageiros. O motivo foi o não-pagamento dos salários de seus funcionários.
Das 21 empresas cujos motoristas e cobradores não trabalharam, 19 pertencem aos grupos Ruas, Niquini e Belarmino. Juntamente com o grupo Constantino, eles controlam mais de metade da frota da cidade, que é atendida por 53 empresas de ônibus.
Era esperada a participação de 24 empresas na greve, mas trabalhadores de 3 das 13 viações do grupo Ruas não aderiram: Bola Branca, Campo Belo e São Luiz.
Todas as seis companhias do empresário Romero Niquini e as três de Belarmino da Ascenção Marta pararam ontem, na primeira greve do setor enfrentada pela prefeita Marta Suplicy (PT).
As quatro empresas de Constantino de Oliveira Júnior funcionaram normalmente. Ele acaba de abrir a companhia aérea Gol.
Os quatro grupos têm empresas de ônibus que operam fora da capital paulista. Em virtude de suas dimensões, eles têm muito poder de pressão sob as prefeituras das cidades onde prestam serviços.
Há 27 empresas independentes em São Paulo. Elas são controladas por pequenos empresários que, normalmente, não exercem nenhuma outra atividade.
Só duas independentes participaram da greve: a Viação Nações Unidas, de Alberto Garcia Varela e Carlos Varela, e a Viação Santa Cecília, de Esdras Ribeiro da Silva. Elas foram as primeiras a voltar ao trabalho, às 7h de ontem.

Motivação
A greve foi deflagrada porque os trabalhadores não receberam os salários anteontem. As empresas acusam a prefeitura de atrasar os repasses de verba.
Os vales-transporte e outros bilhetes recebidos pelas empresas são entregues à prefeitura, que tem nove dias para pagar os empresários, mas sempre atrasa.
No ano passado, os atrasos chegaram a 40 dias e somaram R$ 167 milhões. Por isso, muitas vezes os motoristas e cobradores ficavam sem receber em dia, mas nem sempre todas as empresas afetadas entravam em greve.
Quando Marta assumiu, em 1º de janeiro, a dívida com as empresas era de R$ 26 milhões, mas o valor foi pago no final da primeira quinzena de janeiro.
Atualmente, o poder público deve R$ 4,4 milhões. A prefeitura anunciou a liberação de R$ 6,5 milhões às empresas. O dinheiro deverá ser depositado hoje.
Apenas 8 das 21 empresas que entraram em greve pela manhã continuavam paradas à noite. Duas delas prometiam fazer os pagamentos ainda ontem.
As seis empresas do grupo Niquini, porém, prometiam manter a greve hoje. Elas transportam diariamente 425 mil passageiros.
Para empresários e trabalhadores, o pagamento dos repasses não resolve o problema do setor.
"Esses R$ 6,5 milhões não resolvem a questão. Vale para discurso, não para contabilidade", disse Antonio Sampaio Amaral, diretor jurídico do Transurb (sindicato das empresas), que defende a concessão de subsídios às empresas para compensar a queda do número de passageiros.
Ele diz que os grandes grupos de empresas são mais afetados pelos atrasos da prefeitura porque teriam maiores dificuldades para obter empréstimos em bancos.

Subsídios
A prefeita Marta Suplicy afirmou ontem que os empresários de ônibus podem estar usando a greve dos motoristas para forçar o pagamento de subsídios pela prefeitura. "Provavelmente deve ser um recurso que as empresas usam para fazer pressão contra a prefeitura e, com isso, ter o subsídio que elas querem", disse.
Durante sua campanha, Marta acenou com a possibilidade de a prefeitura voltar a pagar subsídios às empresas para evitar o aumento excessivo das tarifas.
Por outro lado, Marta também fez discursos simpáticos aos perueiros, principais inimigos das viações. Os empresários avaliam que é impossível agradar os dois lados, porque apenas o aumento do número de passageiros transportados por ônibus poderia levar ao equilíbrio da situação econômico-financeira das empresas.
A ex-prefeita Luiza Erundina (1989-92) introduziu o pagamento de subsídios na cidade. Eles foram mantidos por Paulo Maluf (1993-96) e chegaram a consumir R$ 30 milhões ao mês na gestão Celso Pitta (1997-2000). Mas foram cortados em março passado.
O secretário dos Transportes, Carlos Zarattini, diz que "não haverá dinheiro para subsídio", pelo menos neste primeiro semestre.
O presidente do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), Francisco Antonio de Oliveira, concedeu liminar no final da tarde, a pedido do Ministério Público do Trabalho, determinando que todas as linhas operem com capacidade de 70% nos horários de pico e de 50% no restante do dia. Em caso de descumprimento, a multa diária é de R$ 50 mil.


Colaboraram CHICO DE GÓIS e MELISSA DINIZ, da Reportagem Local



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