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Comissão vai investigar concessão de áreas públicas
DA REPORTAGEM LOCAL
A Câmara Municipal de São
Paulo criou ontem uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
para investigar a cessão de áreas
municipais para entidades privadas e com fins lucrativos. A Secretaria de Negócios Jurídicos também vai fazer um levantamento
de todos os terrenos cedidos.
A comissão de inquérito, proposta pelo vereador Arselino Tatto (PT), iria ficar, inicialmente, na
lista de espera com outras sete
CPIs, mas um acordo de última
hora entre as bancadas do PT e do
PMDB permitiu a criação da nova
comissão.
A cessão de áreas municipais vai
ser investigada pela Câmara Municipal de São Paulo em lugar da
construção do túnel Ayrton Senna (suposto superfaturamento),
que foi para a fila de espera.
Tatto disse que resolveu fazer o
pedido de investigação devido à
publicação, pela Folha, no último
domingo, de reportagem mostrando que a administração municipal perde receita ao ceder gratuitamente terrenos localizados
em áreas nobres para entidades
privadas e com fins lucrativos.
Casos
O vereador petista, que será o
presidente da CPI, afirmou ontem
que conhece casos de irregularidades com o uso de áreas municipais desde 1995.
"Existem clubes esportivos da
cidade que receberam áreas de
graça e agora lucram com estacionamentos. Esses terrenos têm de
ser tomados de volta", disse o vereador, vice-líder da bancada do
PT na Câmara.
Para Tatto, é preciso "abrir a
caixa-preta da cessão de terrenos
municipais". "Agora temos de investigar todas as empresas da cidade beneficiadas que não cumprem as suas funções sociais",
afirmou.
O vereador também citou ontem o caso de clubes beneficiados
que não pagam nada à prefeitura,
mas que cobram mensalidade de
seus associados.
"Tenho informações de que
existem até motéis instalados em
áreas públicas", disse Tatto.
As bancadas dos principais partidos na Câmara têm cinco dias
para indicar os integrantes de todas as cinco CPIs criadas ontem.
A CPI da cessão de áreas municipais deverá ser formada por cinco vereadores -o regimento interno da Câmara permite até nove
integrantes.
Levantamento
A secretária dos Negócios Jurídicos de São Paulo, Anna Emília
Cordelli Alves, determinou ao
Departamento Patrimonial que
faça um levantamento de todas as
áreas públicas do município usadas por terceiros por meio de concessões ou permissões de uso,
gratuitas ou não.
A iniciativa também foi motivada pela reportagem da Folha. "A
prefeitura está levantando todas
as situações. Depois que o levantamento estiver pronto, vamos
definir como analisar cada caso,
se isso será feito pelo próprio Departamento Patrimonial, se criaremos um grupo de trabalho específico ou se uma só pessoa pode
cuidar do caso", afirmou Anna
Emília à Folha.
O procurador-geral do município, César Alves Cordaro, disse
que já está em andamento um estudo sobre a política que o governo de Marta Suplicy (PT) vai adotar em relação às cessões.
"É uma situação (da cessão de
áreas públicas) que se apresentou
no início desta administração e há
a necessidade de definir critérios.
Tudo depende da definição de
uma política de uso das áreas públicas, a quem elas serão cedidas e
como", afirmou.
Na dependência desse estudo
está o futuro do terreno onde funciona o clube da Associação Paulista dos Magistrados, cujo contrato de concessão venceu no final
de janeiro. "Eles (o clube) estão
no local beneficiados por uma
permissão de uso a título precário
concedida pelo governo Pitta",
disse o procurador-geral do município.
Permissão de uso a título precário é aquela em que não há contrato e cujo objeto pode ser retomado pela prefeitura a qualquer
tempo.
(FLÁVIA DE LEON e GILMAR PENTEADO)
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