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CARNAVAL
Nos cem anos dos papangus, grupos que deram origem à festa são sufocados por turistas em cidade do interior de Pernambuco
Mascarados mantêm tradição em Bezerros
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BEZERROS (PE)
No centenário dos papangus,
como são chamados os foliões
mascarados de Bezerros (100 km
de Recife, em Pernambuco), os
homenageados foram minoria.
A grande presença de turistas
na cidade neste ano esquentou o
desfile, mas escondeu as tradicionais figuras, que se diluíram no
meio da multidão de forasteiros
-havia dinamarqueses na cidade-, que fazem dobrar a população de Bezerros no Carnaval.
Os grupos mascarados infiltrados nos blocos, entretanto, garantiram a continuidade da tradição.
Chamaram a atenção pela criatividade e pela disposição de brincar horas seguidas cobertos da cabeça aos pés, sob o sol de verão do
Agreste nordestino.
Grupos usando sacos de papelão na cabeça e vestindo roupas
feitas com estopa lembravam as
origens dos papangus, que utilizavam máscaras feitas com papel de
embrulhar charque (carne bovina
salgada e em mantas), pintadas
com folhas de fava e açafrão.
Outros foliões preferiram as
máscaras luxuosas, douradas,
com plumas e adornos coloridos.
Todos, porém, mantiveram a tradição de brincar no anonimato
até o final do dia, quando os rostos foram então descobertos.
O único costume que se perdeu
no tempo foi o da visita dos papangus às casas dos moradores.
No início do século passado, eles
eram recebidos com angu de milho e carne -o que deu origem ao
nome dos mascarados.
Cem anos depois, o prato típico
de regiões do Nordeste continua
nas mesas dos bares de Bezerros,
mas ninguém o recebe de graça,
como no passado.
A quantidade de papangus torna qualquer oferta do tipo inviável. Os organizadores dos festejos
estimaram em 100 mil o número
de pessoas ontem na cidade, que
tem 57 mil habitantes.
Dança estrangeira
Entre os visitantes, destacava-se
no meio da multidão um grupo
de homens e mulheres de pele e
cabelos claros e olhos azuis, que
tocava e dançava frevo.
Eram os músicos e dançarinos
dinamarqueses da A Banda, grupo formado em Copenhague, em
1982, especializado em música
brasileira, em especial os ritmos
pernambucanos.
Assim como as orquestras nativas, os estrangeiros arrastaram
uma multidão. A quantidade de
foliões nas ruas lembrava a concorrida festa em Olinda.
"Lembra [Olinda], mas aqui
ainda existe segurança e tem pessoas de todas as idades brincando", disse o sargento da Aeronáutica Adilson Marcelino, integrante de um grupo de 60 pessoas que
trocou a festa na cidade histórica
pelo interior do Estado.
Fora de controle
A multidão de foliões que participou neste ano do Carnaval em
Bezerros agradou e ao mesmo
tempo fez acender a luz de alerta
nos responsáveis pela Empetur
(Empresa de Turismo de Pernambuco).
Segundo o diretor da estatal Pepe Cal, o órgão discutirá, já para o
próximo Carnaval, a possibilidade de descentralizar a festa, hoje
concentrada em apenas um pólo.
"Quando um evento cresce nessa proporção, sempre surgem alguns problemas", afirmou.
Para ele, o fato de a multidão de
visitantes ter escondido os papangus neste ano não tirou o brilho
do Carnaval e não risco de a tradição desaparecer com o tempo.
"Bezerros tem identidade própria e não vai perder essa característica", disse Cal.
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