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Executivos mais jovens são mais estressados, diz estudo
Conclusão é de pesquisa do setor de psicologia do HCor de SP com 441 pacientes
Na faixa entre 20 e 30 anos, 59% tinham nível elevado de estresse, contra 45% no grupo entre 30 e 40 anos e 38% na faixa dos 50 a 60 anos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Jovens executivos na faixa
etária entre 20 e 30 anos apresentam um nível de estresse
mais elevado do que os profissionais mais velhos, segundo
indica uma pesquisa do setor
de psicologia do HCor (Hospital do Coração de São Paulo).
O trabalho envolveu a avaliação de 441 pacientes que passaram pelo setor de check-up clínico do hospital entre os meses
de julho e dezembro do ano
passado. Desse total, 43% tinham alto nível de estresse.
No grupo com 34 executivos
entre 20 e 30 anos, 59% possuíam índice elevado de estresse, contra 45% daqueles que tinham entre 30 e 40 anos.
Tendência
O estudo apontou que o nível
de estresse tende a diminuir
conforme a idade avança. Entre
40 e 50 anos, a taxa ficou em
43%; entre 50 e 60 anos, em
38%; e acima dos 60 anos, a taxa chegou a 21%.
O estudo foi realizado com
base em questionários aplicados aos pacientes. Para cada
resposta, havia uma pontuação
específica. O somatório dos
pontos indicou o grau de estresse. O método é validado por
entidades de psicologia.
Para Silvia Cury Ismael, chefe do setor de psicologia do
HCor, os jovens estão mais estressados porque sofrem cada
vez mais cedo as pressões de
um mercado de trabalho competitivo e cheio de metas.
"A cobrança por um bom desempenho é muito grande. Na
maioria das empresas há metas
de produtividade -e se eles não
as atingem, não ganham os bônus, as promoções. É comum
eles não tirarem férias, levar
trabalho para casa e não conseguirem se desligar do trabalho",
afirmou Ismael.
Ela cita o exemplo de uma
paciente que trabalha em uma
multinacional e que fica "plugada" 24 horas, tanto na empresa como em casa. "É comum
ela ser acordada às 2h, às 3h, às
4h para atender aos pedidos da
matriz", conta
De acordo com Ismael, a
maioria dos participantes da
pesquisa já apresenta interferências negativas do estresse:
60% possuem dificuldade em
realizar atividade física regular,
38% apresentaram dificuldade
no trabalho, 20% possuem conflitos familiares e alteração significativa do humor (como ansiedade, irritabilidade, depressão), além de tempo reduzido
para atividades de lazer.
"Os números mostram que,
cada vez mais, os jovens executivos não conseguem ter uma
qualidade de vida saudável pelo
ritmo de trabalho que têm."
É o caso do administrador de
empresas carioca Lucas James
Santiago, 28. Ele diz que desde
que se mudou para São Paulo,
há dois anos, não sabe mais "o
que é surfar ou qualquer outra
atividade física regular".
Mudança
Santiago, que afirma trabalhar entre 12 e 14 horas por dia,
também se queixa de irritabilidade, dificuldades de dormir e
conta que já foi parar no pronto-socorro com queixas de dor
no peito. "Sei que preciso mudar esse ritmo, mas ainda não
descobri como", relata.
Já o executivo Caio Albino de
Souza Filho, 29, gerente de
uma área de consultoria tributária da Ernest & Young, afirma
que está "antenado" para os
males do estresse e tenta compensar a correria do dia-a-dia
com uma alimentação mais
equilibrada, atividade física regular e check-up rotineiros.
"Ano passado parei a academia por causa da mudança de
trabalho. Mas agora vou me
matricular novamente."
Ele diz que a empresa onde
trabalha -que já foi citada como uma das melhores empresas para se trabalhar em publicações como a revista "Fortune" (EUA)- possui uma política de qualidade de vida voltada
aos funcionários, o que ajuda a
não tornar o trabalho ainda
mais estressante.
Outros fatores
Na pesquisa com os executivos, foi verificado também que
87% apresentam dificuldades
em realizar atividades de lazer,
29% têm prejuízo na qualidade
do sono e 82% possuem indicação para fazer psicoterapia.
Segundo a psicóloga Silvia Ismael, quando os profissionais
detectam que o paciente têm
dificuldades para, sozinho, encontrar caminhos para uma
mudança de hábitos, há indicação de psicoterapia.
Dos executivos que participaram da pesquisa do Hospital
do Coração, 21% fazem psicoterapia e outros 7% são acompanhados por psiquiatras.
A próxima etapa do estudo
inclui a realização de um cruzamento entre os dados da população de estressados e os fatores de risco cardiovasculares.
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