São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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Executivos mais jovens são mais estressados, diz estudo

Conclusão é de pesquisa do setor de psicologia do HCor de SP com 441 pacientes

Na faixa entre 20 e 30 anos, 59% tinham nível elevado de estresse, contra 45% no grupo entre 30 e 40 anos e 38% na faixa dos 50 a 60 anos

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Jovens executivos na faixa etária entre 20 e 30 anos apresentam um nível de estresse mais elevado do que os profissionais mais velhos, segundo indica uma pesquisa do setor de psicologia do HCor (Hospital do Coração de São Paulo).
O trabalho envolveu a avaliação de 441 pacientes que passaram pelo setor de check-up clínico do hospital entre os meses de julho e dezembro do ano passado. Desse total, 43% tinham alto nível de estresse.
No grupo com 34 executivos entre 20 e 30 anos, 59% possuíam índice elevado de estresse, contra 45% daqueles que tinham entre 30 e 40 anos.

Tendência
O estudo apontou que o nível de estresse tende a diminuir conforme a idade avança. Entre 40 e 50 anos, a taxa ficou em 43%; entre 50 e 60 anos, em 38%; e acima dos 60 anos, a taxa chegou a 21%.
O estudo foi realizado com base em questionários aplicados aos pacientes. Para cada resposta, havia uma pontuação específica. O somatório dos pontos indicou o grau de estresse. O método é validado por entidades de psicologia.
Para Silvia Cury Ismael, chefe do setor de psicologia do HCor, os jovens estão mais estressados porque sofrem cada vez mais cedo as pressões de um mercado de trabalho competitivo e cheio de metas.
"A cobrança por um bom desempenho é muito grande. Na maioria das empresas há metas de produtividade -e se eles não as atingem, não ganham os bônus, as promoções. É comum eles não tirarem férias, levar trabalho para casa e não conseguirem se desligar do trabalho", afirmou Ismael.
Ela cita o exemplo de uma paciente que trabalha em uma multinacional e que fica "plugada" 24 horas, tanto na empresa como em casa. "É comum ela ser acordada às 2h, às 3h, às 4h para atender aos pedidos da matriz", conta
De acordo com Ismael, a maioria dos participantes da pesquisa já apresenta interferências negativas do estresse: 60% possuem dificuldade em realizar atividade física regular, 38% apresentaram dificuldade no trabalho, 20% possuem conflitos familiares e alteração significativa do humor (como ansiedade, irritabilidade, depressão), além de tempo reduzido para atividades de lazer.
"Os números mostram que, cada vez mais, os jovens executivos não conseguem ter uma qualidade de vida saudável pelo ritmo de trabalho que têm."
É o caso do administrador de empresas carioca Lucas James Santiago, 28. Ele diz que desde que se mudou para São Paulo, há dois anos, não sabe mais "o que é surfar ou qualquer outra atividade física regular".

Mudança
Santiago, que afirma trabalhar entre 12 e 14 horas por dia, também se queixa de irritabilidade, dificuldades de dormir e conta que já foi parar no pronto-socorro com queixas de dor no peito. "Sei que preciso mudar esse ritmo, mas ainda não descobri como", relata.
Já o executivo Caio Albino de Souza Filho, 29, gerente de uma área de consultoria tributária da Ernest & Young, afirma que está "antenado" para os males do estresse e tenta compensar a correria do dia-a-dia com uma alimentação mais equilibrada, atividade física regular e check-up rotineiros.
"Ano passado parei a academia por causa da mudança de trabalho. Mas agora vou me matricular novamente."
Ele diz que a empresa onde trabalha -que já foi citada como uma das melhores empresas para se trabalhar em publicações como a revista "Fortune" (EUA)- possui uma política de qualidade de vida voltada aos funcionários, o que ajuda a não tornar o trabalho ainda mais estressante.

Outros fatores
Na pesquisa com os executivos, foi verificado também que 87% apresentam dificuldades em realizar atividades de lazer, 29% têm prejuízo na qualidade do sono e 82% possuem indicação para fazer psicoterapia.
Segundo a psicóloga Silvia Ismael, quando os profissionais detectam que o paciente têm dificuldades para, sozinho, encontrar caminhos para uma mudança de hábitos, há indicação de psicoterapia.
Dos executivos que participaram da pesquisa do Hospital do Coração, 21% fazem psicoterapia e outros 7% são acompanhados por psiquiatras.
A próxima etapa do estudo inclui a realização de um cruzamento entre os dados da população de estressados e os fatores de risco cardiovasculares.


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