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Decisão do STF desagrada juiz, mas tem apoio de advogado
Para opositores, ver condenado recorrer em liberdade amplia sensação de impunidade
Advogados aplaudem julgamento da última quinta-feira do tribunal
e dizem que a decisão
reafirma o direito de defesa
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do Supremo Tribunal Federal que garante ao condenado à prisão pela segunda
instância da Justiça o direito de
recorrer em liberdade é elogiada por criminalistas e criticada
por juízes e procuradores consultados pela Folha.
Os advogados veem no julgamento desta quinta-feira a reafirmação do direito de defesa.
Os críticos acham que a decisão
favorecerá condenados que
têm capacidade de prolongar
os processos por meio de recursos nos tribunais superiores
e preveem a ampliação do sentimento de impunidade.
"Não vejo nenhum efeito
imediato, a não ser para impedir a expedição de mandados
de prisão antes do julgamento
final", diz o advogado Antônio
Cláudio Mariz de Oliveira. "A
decisão não tem nada a ver com
impunidade, simplesmente
impede que alguém vá para a
cadeia e, posteriormente, venha a ser absolvido caso algum
tribunal superior casse a decisão condenatória anterior."
O juiz federal Sergio Fernando Moro, do Paraná, diz que a
decisão "vai beneficiar somente aqueles com condições de
sustentar demandas até o STF
e que geralmente são os criminosos de colarinho branco".
"Estou me questionando, como
juiz criminal, se vale a pena dar
impulso a ações penais de crimes de colarinho branco já
que, de antemão, sei que estão
fadadas ao fracasso", diz Moro.
Ele julgou o caso Banestado.
"Embora juridicamente sustentável, sob a ótica da eficácia
do processo penal foi um retrocesso", diz o juiz federal Jorge
Gustavo de Macedo Costa, de
Minas Gerais. "Haverá uma
avalanche de pedidos de habeas corpus com a finalidade
de que esse entendimento seja
imediatamente aplicado."
"A sensação de impunidade
vai aumentar. A necessidade de
percorrer todas as instâncias
para que a sentença seja cumprida pode resultar na ineficácia da jurisdição criminal em
resposta à prática de delitos",
diz Costa. Ele começou, em Minas, o julgamento do mensalão.
Para o advogado Tales Castelo Branco, "a decisão apenas vai
beneficiar os réus que responderam ao processo em liberdade, apesar de condenação por
um tribunal de instância inferior. Não terão mais o dever de
se recolher à prisão para recorrer aos tribunais superiores",
explica. "Nada mais justo e racional. Eles poderão ser absolvidos pelas instâncias federais
superiores e a prisão, nesse caso, teria sido antecipada, injusta e desnecessária", afirma.
"A consequência imediata
será uma enxurrada de habeas
corpus e a infindável gama de
recursos reivindicando essa
benesse", diz a procuradora regional da República Janice Ascari. Segundo ela, a decisão não
tem efeito vinculante, mas será
invocada como precedente.
"Quem já tem condenação
criminal confirmada em 2º e 3º
graus, mas ainda não esgotou o
último dos infinitos recursos
ao STF, tem liberdade praticamente garantida. A orientação
do STF estimula a impunidade
e sinaliza que, para o Estado,
cometer crimes não é algo tão
grave assim", diz Janice.
Para a procuradora regional
da República Luiza Cristina
Fonseca Frischeisen, "a decisão do STF levará a uma sensação de maior impunidade, visto
que o trânsito em julgado em
matéria penal [quando não cabe recurso] é muito difícil, também porque o STF aceita habeas corpus para tudo".
"Os maiores beneficiados serão aqueles que praticam crimes contra a administração
pública, o sistema financeiro,
lavam dinheiro e outros ativos,
e podem pagar bons advogados
para prosseguir com os processos interminavelmente, ou
réus confessos, como [o jornalista] Pimenta Neves e [o senador cassado] Luiz Estevão".
Para Flávia Rahal, presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, a decisão do
STF é "corretíssima": "A decisão garante maior direito de
defesa na medida em que reconhece que ninguém pode ser
considerado culpado antes do
trânsito em julgado de decisão
condenatória, nos termos previstos em nossa Constituição."
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