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Contaminação acirra disputa por água na zona rural de Caetité
Prefeitura do município do sertão baiano usa carros-pipa para
tentar abastecer povoados onde os poços estão interditados
Na fila do abastecimento,
povoado que fica ao redor
da mina de urânio chegou a
passar duas semanas sem
água no mês passado
ENVIADA ESPECIAL A CAETITÉ (BA)
Nuvem cinza até aparece no
céu de Caetité, mas a chuva é
rara mesmo em época "de chuva". Após a interdição dos poços por causa do urânio, a disputa por água aumentou na região onde ela já era escassa.
Na segunda passada, chegaram à prefeitura 15 pedidos de
carros-pipa. "É caro abastecer
com carro-pipa, mais de R$
6.000 por mês", afirma Nilo
Joaquim de Azevedo, secretário de Recursos Hídricos.
"A gente tem de assinar papel, pôr o CPF e esperar para
ganhar umas gotas d'água", diz
Osvalino Chagas da Silva, que
mora em frente ao poço lacrado
no povoado de Maniaçu. "Se a
contaminação chegar no olho
d'água [outro poço local], será o
fim, podemos ir embora daqui."
Na fila pelos carros-pipa, o
povoado ficou duas semanas
sem abastecimento em janeiro.
A estatal INB (Indústrias
Nucleares do Brasil) ajuda a
prefeitura na distribuição de
água ao mesmo tempo que disputa água com a população.
"Em abril, tivemos dificuldade de operar a planta por falta
d'água", diz Hilton Mantovani,
gerente da unidade de Caetité.
Ele calcula em 30 metros cúbicos a demanda diária de água
na mina. Sem água, ela para.
O problema da região pode se
agravar, porque a maior parte
dos 50 poços existentes no entorno da mina de urânio ainda
não teve os índices de radiação
avaliados pelo instituto responsável pelas águas da Bahia.
"Nessa área [da mina], nem
deveria ter poço artesiano, porque existe muito urânio natural", avalia o secretário.
Segundo ele, quatro caminhões-pipa funcionam o tempo
todo para abastecer a cidade.
A Folha flagrou uma versão
improvisada de ônibus-pipa
circulando nas ruas do vilarejo
de Maniaçu. Uma cacimba foi
montada em cima de uma carroceria de ônibus cortada.
No centro urbano de Caetité
(44% da população mora na zona rural), distante 30 km da
mina de urânio, os moradores
são abastecidos com água de
poços livres de contaminação.
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