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"Sensação é de impotência", diz bombeiro sobre chuvas
Rotina de enchentes desde dezembro triplica ações do Corpo de Bombeiros
"É o janeiro mais trabalhoso nos meus 22 anos de carreira", afirma sargento;
dose de psicologia se torna fundamental para trabalho
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
"É impossível atender a todos os chamados. Dá uma sensação terrível de impotência",
desabafa o sargento do Corpo
de Bombeiros Luis Henrique
dos Santos, 42, enquanto
aguarda mais uma ocorrência,
na sede do comando central
dos Bombeiros de SP, na Sé.
Nos últimos 46 dias, com as
fortes chuvas que caíram sobre
a capital, ele tem trabalhado o
triplo do habitual. "É o janeiro
mais trabalhoso nos meus 22
anos de carreira", conta.
Preparado para atuar em situações limite e a controlar o
próprio nervosismo, Santos
precisa lidar ainda com o estresse crescente da população,
exausta com as catástrofes diárias provocadas pela chuva. Em
meio a preocupações técnicas
com o resgate de pessoas ilhadas ou soterradas, uma dose de
psicologia é fundamental para
que o trabalho transcorra bem.
Como em uma ocorrência de
deslizamento de terra no Grajaú, em que duas pessoas morreram. Santos não participou
do resgate, mas foi destacado
para apoiar os familiares. "A
gente precisa acalmar as pessoas, mas é difícil não se comover nesse tipo de situação."
Há também os casos em que
a ansiedade da população põe
em risco o trabalho de resgate.
"Quando a pessoa está ilhada e
vê o bombeiro chegando, pula
sozinha na água. É um perigo."
Chamados
É na sala do sétimo andar do
prédio onde Santos trabalha
que fica o Centro de Operações
dos Bombeiros (Cobom), onde
chegam os pedidos de socorro
de toda a cidade.
Com vista para o céu acinzentado, a equipe de 14 atendentes recebe, nesta época, até
10 mil chamadas diárias de socorro. Quatro TVs de plasma
exibem as cenas de dilúvio, captadas por câmeras da PM.
"A cada nuvem negra que
aparece no horizonte, sinto que
vamos continuar tendo problemas", diz o tenente Marcos Palumbo, enquanto monitora no
computador as previsões meteorológicas do Centro de Gerenciamento de Emergências.
O principal problema, nos últimos dias, tem sido a dificuldade das equipes de chegar aos locais de ocorrências. O trânsito e
a água nas ruas atrasam e até
impedem a chegada do resgate.
Para a população, uma dificuldade extra: conseguir linha
para comunicar as emergências. Na quarta-feira passada,
por exemplo, o telefone dos
bombeiros, 193, ficou congestionado das 16h30 às 18h30.
Diante da persistência da
chuva, aumentou o efetivo de
veículos, agora adaptados para
o combate a enchente, com bote inflável, boia de salvamento e
colete salva-vidas. De 120 carros, passou a 180. A equipe deslocada para atendimentos em
campo passou de 450 para 660.
Mas ainda não é suficiente.
Na quarta, 50 das 487 chamadas não foram atendidas e ficaram para o dia seguinte. Segundo o tenente Palumbo, as prioridades de atendimento são casos que representem perigo à
vida, ao meio ambiente ou ao
patrimônio, nessa ordem.
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