São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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"Sensação é de impotência", diz bombeiro sobre chuvas

Rotina de enchentes desde dezembro triplica ações do Corpo de Bombeiros

"É o janeiro mais trabalhoso nos meus 22 anos de carreira", afirma sargento; dose de psicologia se torna fundamental para trabalho

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

"É impossível atender a todos os chamados. Dá uma sensação terrível de impotência", desabafa o sargento do Corpo de Bombeiros Luis Henrique dos Santos, 42, enquanto aguarda mais uma ocorrência, na sede do comando central dos Bombeiros de SP, na Sé.
Nos últimos 46 dias, com as fortes chuvas que caíram sobre a capital, ele tem trabalhado o triplo do habitual. "É o janeiro mais trabalhoso nos meus 22 anos de carreira", conta.
Preparado para atuar em situações limite e a controlar o próprio nervosismo, Santos precisa lidar ainda com o estresse crescente da população, exausta com as catástrofes diárias provocadas pela chuva. Em meio a preocupações técnicas com o resgate de pessoas ilhadas ou soterradas, uma dose de psicologia é fundamental para que o trabalho transcorra bem.
Como em uma ocorrência de deslizamento de terra no Grajaú, em que duas pessoas morreram. Santos não participou do resgate, mas foi destacado para apoiar os familiares. "A gente precisa acalmar as pessoas, mas é difícil não se comover nesse tipo de situação."
Há também os casos em que a ansiedade da população põe em risco o trabalho de resgate. "Quando a pessoa está ilhada e vê o bombeiro chegando, pula sozinha na água. É um perigo."

Chamados
É na sala do sétimo andar do prédio onde Santos trabalha que fica o Centro de Operações dos Bombeiros (Cobom), onde chegam os pedidos de socorro de toda a cidade.
Com vista para o céu acinzentado, a equipe de 14 atendentes recebe, nesta época, até 10 mil chamadas diárias de socorro. Quatro TVs de plasma exibem as cenas de dilúvio, captadas por câmeras da PM.
"A cada nuvem negra que aparece no horizonte, sinto que vamos continuar tendo problemas", diz o tenente Marcos Palumbo, enquanto monitora no computador as previsões meteorológicas do Centro de Gerenciamento de Emergências.
O principal problema, nos últimos dias, tem sido a dificuldade das equipes de chegar aos locais de ocorrências. O trânsito e a água nas ruas atrasam e até impedem a chegada do resgate.
Para a população, uma dificuldade extra: conseguir linha para comunicar as emergências. Na quarta-feira passada, por exemplo, o telefone dos bombeiros, 193, ficou congestionado das 16h30 às 18h30.
Diante da persistência da chuva, aumentou o efetivo de veículos, agora adaptados para o combate a enchente, com bote inflável, boia de salvamento e colete salva-vidas. De 120 carros, passou a 180. A equipe deslocada para atendimentos em campo passou de 450 para 660.
Mas ainda não é suficiente. Na quarta, 50 das 487 chamadas não foram atendidas e ficaram para o dia seguinte. Segundo o tenente Palumbo, as prioridades de atendimento são casos que representem perigo à vida, ao meio ambiente ou ao patrimônio, nessa ordem.


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