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Frota de veículos cresce mais onde há menos dinheiro
Em Teresina, capital com pior renda per capita do país, frota está 10,6% maior; Porto Velho é a grande líder de compras
Explosão na quantidade de veículos é preocupante, dizem especialistas, que alertam para a necessidade de planejamento público
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A crescente facilidade para
financiar carros e, mais recentemente, os incentivos do governo falaram mais alto à população das capitais mais pobres
do país, que lideraram o crescimento na frota de automóveis
em 2009, durante a crise. A tomada das ruas nessas cidades
preocupa especialistas, por faltar planejamento público e pelo fato de algumas já conviverem com congestionamentos.
Levantamento feito pela Folha mostra que em 10 das 15 capitais onde a frota cresceu acima da média entre 2008 e 2009
a renda per capita é inferior a
R$ 14,5 mil reais, valor médio
do Brasil. Os dados de expansão
da frota são do Departamento
Nacional de Trânsito e de renda per capita, do IBGE.
Durante o período, o governo
manteve reduzido o IPI para
carros novos. Benefício que será cortado no dia 31 de março.
As 15 capitais com aumento
de frota superior à média estão
fora do eixo Sul-Sudeste. Onze
são do Norte ou Nordeste
-que, com exceção de Manaus,
são as que têm a pior renda.
Teresina, dona da pior renda
per capita do país, R$ 8,3 mil,
tem 10,6% mais carros do que
tinha ao fim de 2008, ou 118,6
mil automóveis -um carro para cada seis pessoas.
A campeã em crescimento de
frota na crise foi Porto Velho,
com expansão de 15,7%. Hoje
são 59,7 mil carros nas ruas da
cidade, um para cada seis habitantes. A capital rondoniense
tem a 10ª pior renda do país, R$
11,7 mil. No Brasil, a frota cresceu 7,7% e chegou a 34,5 milhões de carros, dois para cada
onze habitantes.
Dona da terceira maior renda
per capita do país -R$ 29,4
mil- São Paulo absorveu 5,2%
mais carros em 2009, segundo
o Denatran. São mais 223 mil
carros -ou duas frotas de Vitória- disputando espaço.
Segunda em renda, com R$
41 mil por pessoa, Brasília tem
7,9% mais carros circulando do
que há um ano, passando de
798 mil para 861 mil veículos.
O fenômeno de crescimento
da frota em capitais pobres começou faz cinco anos. Desde
então, a tendência é ainda mais
forte. No crescimento de renda
acumulado desde 2004, treze
cidades cresciam mais do que a
média nacional. Nove tinham
renda abaixo da média.
Trânsito como rotina
A facilidade crescente de financiamento nos últimos anos,
e a ascensão da classe C ao consumo -definição, segundo o
Centro de Políticas Sociais da
Fundação Getúlio Vargas para
famílias com renda entre R$
1.064 e R$ 4.591- favorecem a
chegada dos carros.
"Esse interior também foi
beneficiado pela renda que vem
da agroindústria nos últimos
anos", complementa Marco
Aurélio Cabral, professor de
história econômica do Brasil do
Ibmec-Rio. "O problema é que,
com raras exceções, essas cidades não estão preparadas para
ter mais carros em suas ruas".
De fato, os congestionamentos cada vez mais fazem parte
da rotina dessas cidades, diz o
professor da Fundação Dom
Cabral Paulo Resende, especializado em transporte público.
"Em Porto Velho, vivi instantes
que lembrava São Paulo."
Cabral defende uma maior
flexibilização dos orçamentos
públicos no caso de projetos
para planejamento urbano.
"Ainda há tempo de planejar e
fazer obras integradas", diz.
Para Resende, porém, há um
problema mais grave a ser contornado. "Os gestores públicos
da maioria dessas cidades não
estão preparados para pensar
na questão."
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