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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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Mãe de 8 é "obrigada" a ligar trompas

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
Maria Rosa Lima dos Santos teve um só filho, Paulo, por achar que criança dá trabalho


DA SUCURSAL DO RIO

A baixa escolaridade pode ter sido um dos fatores que levaram Solange dos Santos, 29, a ter oito filhos, o mais novo de dois meses e o mais velho de nove anos. Moradora do morro do Salgueiro, na Tijuca (zona norte), uma das favelas mais violentas do Estado, ela só não teve outros porque, afirma, foi "obrigada" por parentes e amigos a fazer ligadura de trompas.
Já Célia Cristina da Conceição, 43, mãe de Rafael, 19, optou por ter um só filho. "O que dou para um, não poderia dar para dois", diz a agente de saúde. Célia, moradora da Tijuca (morro do Borel), fez até o penúltimo ano do ensino médio e quer voltar.
Santos, desempregada, parou no segundo ano do ensino fundamental. A renda da família não chega a R$ 100 por mês.
No posto de saúde do Borel, Conceição ganha R$ 300 por mês. Recebe o mesmo valor de pensão da mãe. Rafael, seu filho, está no segundo ano do ensino médio e faz curso de informática. A mãe diz que ele não interromperá os estudos para trabalhar e que espera vê-lo numa universidade.
Dos oito filhos de Santos, os cinco mais velhos estão na escola. "Quando eles estiverem mais velhos, vão ter de trabalhar para ajudar no sustento da casa."
Ela conta que sempre conheceu os métodos anticoncepcionais. "Não foi por não saber. Foi por preguiça. É fácil criar os filhos quando eles são pequenos."
Já Conceição conta que tomou pílula e planejou a gravidez.
Mesmo tendo um filho, a vida de Maria Rosa dos Santos, 35, é muito diferente da de Conceição. Ela mora no Salgueiro, onde divide uma casa de um cômodo com o filho Paulo Vítor, 17. O menino parou de estudar antes de concluir o ensino fundamental, na terceira série. Maria Rosa foi um pouco mais além. Estudou até a sexta série. "Quis ter um filho só porque criança dá muito trabalho." Mãe e filho estão desempregados e vivem de bicos.


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