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SAÚDE EM RISCO
Campanha divulgará técnicas mais seguras para curetagem e apoio psicológico em casos de aborto inseguro
Governo faz regras para atendimento digno
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Garantir que a ilegalidade do
aborto não interfira no atendimento à mulher que chega à rede
pública de saúde. Essa é uma das
missões do Ministério da Saúde,
que lançou uma campanha para
que as mulheres sejam recebidas
de forma digna e eficaz quando
chegam aos hospitais já em processo de abortamento, não importando se o ato foi provocado
ou foi involuntário.
Segundo a coordenadora da
Saúde da Mulher, Maria José de
Oliveira Araújo, a partir deste ano
uma norma técnica do ministério
vai padronizar o atendimento nas
situações de aborto inseguro. A
idéia é regulamentar a forma de
acolhimento da mulher, as técnicas mais seguras para curetagem,
a definição dos antibióticos mais
adequados para cada caso e até o
apoio psicológico.
Para que a norma seja implantada na prática, o Ministério da Saúde vai capacitar equipes de todas
as maternidades públicas do país
até o final deste ano.
"Não podemos continuar presenciando casos em que a mulher
em processo de abortamento chega a ficar 24 horas aguardando
atendimento em uma maca no
corredor", afirma Araújo.
Ela cita outras situações corriqueiras nos hospitais públicos,
como humilhações, xingamentos
e curetagens feitas a frio (isto é,
sem o uso de nenhum tipo de
anestesia). A coordenadora diz
que o ministério já detectou que a
maioria das mulheres que chega
aos hospitais em situação de
aborto o fazem repetidas vezes.
Nesses casos, a idéia das novas
normas em elaboração é que a
mulher saia do hospital já com indicação de contracepção pós-aborto e com encaminhamento
para a unidade de saúde mais
próxima da sua casa.
Médica pediatra com especialização em saúde da mulher pela
Universidade de Sorbonne (na
França), Araújo representará sua
pasta na comissão de revisão da
legislação punitiva do aborto que
o governo deve instalar em breve.
Mortalidade materna
Ela levará à comissão problemas
práticos de saúde pública, ligados
à mortalidade e morbidade do
aborto clandestino. O governo
quer reduzir a mortalidade materna em 15% até o final de 2006
-10% dessas mortes são ligadas
ao aborto inseguro.
Defensora da despenalização do
aborto, ela afirma que o direito à
saúde inclui o direito da mulher
de escolher ter ou não um filho."A
Igreja Católica tem todo o direito
de ser contra e pode legislar para
seus fiéis. Só que, quando você interdita o direito, as pessoas não
tem livre arbítrio", completou.
Hoje, o aborto é legal em caso de
estupro ou risco de morte. Araújo
arrisca que, para melhorar o problema de saúde pública, uma opção seria ampliar esses casos para
problemas financeiros e/ou de
risco para a saúde mental.
"Não é só uma questão de condições econômicas, é uma questão de condições internas e de auto-estima", critica Araújo.
Ela também aponta uma contradição entre a posição do Estado brasileiro, laico, e a da igreja.
"Analisar essa questão só de um
ponto de vista é um absurdo. Sobretudo analisar essa questão do
ponto de vista da religião, porque
nós estamos num Estado laico e
numa Constituição que diz que o
Estado é responsável pelas pessoas", afirma.
(CLÁUDIA COLLUCCI e LEILA SUWWAN)
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