São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Mulher morre durante operação da polícia no Rio

Michele, 27, lavava roupas quando foi atingida, na Cidade de Deus, no Rio

Dois carros foram queimados durante o protesto; polícia afirmou que abrirá uma sindicância para apurar de onde partiram os tiros

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

A morte de uma mulher enquanto lavava roupas no tanque de casa provocou protestos de moradores, que chegaram a queimar dois carros na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. A camareira Michele da Silva Lima, 27, foi morta com um tiro de fuzil na cabeça, anteontem à noite, em Caratê, na Cidade de Deus.
Os moradores acusam a PM como responsável pela morte da camareira. Já a polícia afirma que carros do 18º BPM (Jacarepaguá) patrulhavam o local quando um grupo de homens armados começou a atirar em direção aos PMs, que tiveram ajuda de policiais de Rocha Miranda, chamados em reforço.
A morte de Michele revoltou os moradores que, na madrugada de ontem, incendiaram dois carros, caçambas de lixo e pneus e interditaram a rua Edgar Werneck, uma das principais de Jacarepaguá.
Na manifestação, uma bomba foi arremessada contra um blindado da PM, que teve um dos pneus estourado.
Pela manhã, por volta das 9h, indignados com a perícia que ainda não havia chegado ao local, os moradores voltaram a protestar. Segundo parentes e amigos, Michele havia chegado do trabalho, por volta das 22h, e lavava no tanque o uniforme da filha quando PMs do 9º BPM e do 18º BPM entraram na favela à procura de traficantes.
Armado com um fuzil, um dos PMs, descrito pelos vizinhos como branco e alto, teria, segundo os relatos, colocado a arma sobre o muro da casa de Michele e disparado vários tiros, atingindo a jovem.
A filha mais velha da camareira, de 11 anos, estava ao lado de Michele e saiu pedindo socorro. Michele morreu na hora.
"Não há marcas de tiros no muro e havia cápsulas dentro e fora do quintal da casa dela, o que indica que eles atiraram por cima do muro. Isso é um procedimento policial? Que polícia é essa?", disse o sogro da vítima, Luiz Carlos Ramalho.
Pouco antes das 3h, quase cinco horas depois do incidente, o corpo da vítima continuava no chão. Segundo a Polícia Civil, o corpo de Michele foi retirado pelos familiares às 3h45. Os policiais informaram que a demora foi devido ao intenso tiroteio no local. "Minha irmã morreu e ainda ficou horas jogada no chão, como lixo", lamentou Gisele da Silva Lima. O comando do 18º BPM disse que vai instaurar sindicância para apurar a origem dos tiros.


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