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Arcebispo afirma que aborto é mais grave que estupro
Dom José defende não excomungar o padrasto da menina de nove anos, que a estuprou
Ele afirmou que Lula é um católico "mais ou menos" por ter criticado a decisão de excomungar mãe e médicos responsáveis pelo aborto
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
FERNANDA ODILLA
ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA
O arcebispo de Olinda e Recife (PE), dom José Cardoso Sobrinho, disse ontem que o aborto é um crime mais grave que o
estupro ao defender a excomunhão da mãe e dos médicos responsáveis pela interrupção da
gravidez de uma menina de nove anos e não a do padrasto da
garota, que admitiu tê-la estuprado. Ele ainda afirmou que o
presidente Lula, que condenou
a decisão da igreja, é um "católico mais ou menos".
"Católico que é católico aceita a lei da igreja. Quem não
aceita é católico mais ou menos, e isso não existe", disse.
Para os médicos, a continuidade da gestação de gêmeos poderia ser fatal à menina, que pesa
cerca de 30 quilos.
Em entrevista concedida ontem à Folha por cerca de uma
hora, na sede da regional da
CNBB em Recife, o religioso
disse que o padrasto da menina, que confessou à polícia ter
abusado sexualmente da garota e da irmã dela de 14 anos por
cerca de três anos, não foi excomungado -como aconteceu
com a mãe e os médicos.
Segundo ele, o crime de estupro não está incluído nos delitos gravíssimos da igreja que
causam a excomunhão automática -como aborto, heresia
e violência física contra o papa,
entre outros-, apesar de ser
considerado "pecado".
"De acordo com a lei de
Deus, a igreja condena todos os
pecados. Homicídio é pecado.
Quem comete não está excomungado, mas é um pecado
grave. Roubar, assaltar e estuprar também são pecados, mas
não tão graves como o aborto."
Arrependimento
O arcebispo reafirmou que
todos os envolvidos no aborto
-mãe e médicos, menos a própria menina, que não possui
idade para discernir o que ocorria- estão automaticamente
excomungados da igreja, o que
significa não poder receber os
sacramentos, como a eucaristia
e o casamento.
Dom José disse que os excomungados podem deixar a condição e, se se arrependerem, serem absolvidos em confissão.
Em entrevista à Folha na
quinta-feira, o médico e católico praticante Rivaldo Mendes
de Albuquerque, 51, um dos
que interromperam a gestação
da menina, disse lamentar a
decisão. "Tenho pena do nosso
arcebispo, que não conseguiu
ser misericordioso com o sofrimento de uma criança inocente, desnutrida, franzina, em risco de vida, que sofre violência
desde os seus seis anos."
A menina, que estava com
quase quatro meses de gravidez de gêmeos e passou pelo
aborto na quarta, recebeu ontem alta. Ela e a mãe foram levadas a um abrigo em local não
divulgado. A menina vai continuar recebendo atendimento
médico e psicológico. O padrasto está preso desde o dia
27, no presídio de Pesqueira,
cidade vizinha a Alagoinha, onde a família morava.
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