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Smartphone deixa amigo carente e silencia papo de bar
Celulares com acesso à internet criam dependência de usuários, que
ficam conectados a redes sociais e checam e-mail a todo instante
Contador diz que telefone 3G
acabou até com as apostas;
quando alguém tem dúvida,
é só fazer uma busca e calar
a boca dos outros, afirma
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Incomodado com os amigos
que não largam o iPhone, Tomás Toledo, 23, responsável
pelas atividades culturais da
Escola São Paulo, é do contra.
Ele não tem um smartphone
e diz que o vício nos celulares
3G cria um vácuo na mesa durante os jantares nos restaurantes e os encontros nos bares, com atenções divididas entre quem está presente e o virtual. Quando os amigos estão
juntos -e muitas vezes sem se
dar conta- todos começam a
fuçar nos seus aparelhos e fica
cada um na sua, como se não
houvesse ninguém ao redor.
"Anulam os dois momentos.
São duas "meia pessoa", ninguém fica inteiro na conversa.
A sensação que tenho é que o
Twitter e o Facebook são mais
interessantes que eu", diz.
Num efeito colateral, a internet dos iPhones acabou com as
discussões de mesa de bar. Não
lembra o nome daquela atriz
que fez aquele papel naquela
novela? Dá um Google nela. As
incertezas não duram mais de
alguns segundos.
"Não tem mais polêmica
nem apostas. Quando um amigo duvida, alguém do grupo entra na internet, faz uma busca e
cala a boca dos outros", afirma
o contador Guilherme Araújo.
"Nem o contador de piadas
do grupo existe mais. Todo
mundo agora tem um vídeo engraçado para mostrar no Youtube", diz o ator André Neves.
Muito além da compulsão
pela internet, os smartphones
já causam dependência e problemas de relacionamento.
Um dos primeiros a ter celular em São Paulo, na década de
1990, o gerente comercial Alexandre Fausto Lopes, 40, teve
de fazer acordos com a mulher,
Patrícia: depois das 21h, o aparelho passa a noite no vibrador.
Não só pelas insistentes ligações de trabalho, mas pela compulsão do marido em responder e-mails, mensagens e acessar a internet pelo telefone 3G.
A dependência de Lopes -e
de tantos outros usuários dessa
tecnologia- é tamanha que ele
não se desgruda um instante do
smartphone. Vai com ele até ao
vaso sanitário -o que substituiu o antigo hábito de ler jornal no banheiro.
"Fico viciado em responder
rapidamente tudo que me é pedido. Já criei um grau de dependência tão grande que não
consigo viver sem esses aplicativos. Não sei se é uma mania,
mas vivo assim", afirma Lopes.
"Tivemos alguns atritos até
nos policiarmos", diz a pedagoga Patrícia, 38, sua mulher.
"O contato social entre os
amigos diminuiu. A internet virou um espaço de convivência,
as pessoas ficam aprisionadas e
as intimidades tornaram-se
públicas", diz o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do
Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria da USP. Num jantar com
sete amigos, viu cinco deles responder e-mails no iPhone.
"A tecnologia é uma coisa
boa, não dá para ser contra o
progresso. O problema é o descontrole", afirma Hermano Tavares, especialista em compulsão on-line da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Para o consultor de etiqueta
Fábio Arruda, o vício nos aplicativos do iPhone passa pela
falta de educação e equivale a
tirar um jogo de palavras cruzadas da bolsa e negligenciar
atenção a quem está no grupo.
"Com esse avanço, a possibilidade dos e-mails deixa as pessoas ainda mais ansiosas e escravizadas. É uma rompimento
das relações numa proporção
que ninguém se dá conta", diz.
NA INTERNET Instituto de Psiquiatria da USP
www.dependenciadeinternet.com.br
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