São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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Após dez anos, pais de jovem morta nos EUA dizem reviver passado

Na terça, familiares viram a execução de condenado por matar casal Kleber dos Santos e Lilian D'Ascanio no Texas, em 2000

"Eu nunca pensei em estar presente [à execução] com espírito de vingança", conta mãe de vítima; ela diz que sentiu misericórdia do culpado

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na tarde da última terça-feira, pouco antes de lhe aplicarem no corpo a injeção que o levaria à morte em Huntsville, nos EUA, Michael Adam Sigala, 32, pediu perdão a duas famílias brasileiras pelos atos que cometera dez anos atrás.
"Eu não tenho explicação para o que fiz. Não entendo por que fiz isso. Espero que vocês possam viver o resto de suas vidas sem ódio", falou pela última vez o condenado em 2001 pelo assassinato um ano antes do casal Kleber Pesconi dos Santos, 28, e Lilian Carla D'Ascanio, 25, no município de Plano (EUA).
Depois de quase uma década do crime, os pais de Lilian, então estudante de farmácia da USP, dizem não poder perdoar Sigala. "Cabe ao ser superior perdoá-lo", afirmou à Folha, por telefone, o químico Luigi D'Ascanio, 59, pai da jovem.
Para eles, a execução -presenciada na terça pela mãe da moça, a bancária aposentada Angélica, 57, e pelos pais de Kleber- tem trazido à família, que vive em Mairinque, a 71 km da capital, a sensação de estar revivendo o episódio.
Em 22 de agosto de 2000, Sigala entrou no apartamento de Kleber em Plano, cidade próxima a Dallas, no Texas, com a intenção de roubar. Primeiro, o criminoso matou o rapaz com um tiro na cabeça. Depois, violentou a estudante e a amarrou, matando-a em seguida também com um tiro na cabeça.
Kleber, engenheiro que programava softwares para a Ericsson, havia se mudado para os EUA fazia poucos meses, a trabalho. Lilian, em férias, estava terminando a faculdade e visitava o marido. Haviam se casado em dezembro de 1999 e planejavam viver no país.
Poucos meses depois do assassinato, a polícia encontrou um homem com uma guitarra que pertencia a Kleber. Outra ajuda para solucionar o crime partiu de um programa policial da TV norte-americana, que exibiu o caso ainda sem solução. Pistas sobre os bens roubados foram aparecendo, e a polícia chegou a Sigala.
Desde então, a família acompanhou todo o processo nos EUA -o julgamento durou cerca de uma semana, conta Luigi. Para ele, a atuação da Promotoria e da Justiça americanas foram exemplares, não havendo incertezas sobre o culpado.
Angélica, a mãe, diz ter tido dúvidas no começo sobre se assistiria ou não o cumprimento da pena. Ela afirma ter decidido viajar até Hunstville, a capital das execuções nos EUA, por achar que a família deveria estar representada.
"Eu nunca pensei em estar presente [à execução] com espírito de vingança, ou de ver a Justiça ser cumprida", diz, ressaltando que foi com o "coração aberto" e que sentiu misericórdia do condenado.
Passada a execução, Luigi ressalva que, para a família, a história não acabou. "Temos ainda uma vida pela frente, temos outros filhos para cuidar. Mas não vamos conseguir esquecer, o estrago que foi feito na família é muito grande."


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