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Após dez anos, pais de jovem morta nos EUA dizem reviver passado
Na terça, familiares viram a execução de condenado por matar casal Kleber dos Santos e Lilian D'Ascanio no Texas, em 2000
"Eu nunca pensei em estar presente [à execução] com espírito de vingança", conta mãe de vítima; ela diz que sentiu misericórdia do culpado
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na tarde da última terça-feira, pouco antes de lhe aplicarem no corpo a injeção que o levaria à morte em Huntsville,
nos EUA, Michael Adam Sigala,
32, pediu perdão a duas famílias brasileiras pelos atos que
cometera dez anos atrás.
"Eu não tenho explicação para o que fiz. Não entendo por
que fiz isso. Espero que vocês
possam viver o resto de suas vidas sem ódio", falou pela última
vez o condenado em 2001 pelo
assassinato um ano antes do casal Kleber Pesconi dos Santos,
28, e Lilian Carla D'Ascanio, 25,
no município de Plano (EUA).
Depois de quase uma década
do crime, os pais de Lilian, então estudante de farmácia da
USP, dizem não poder perdoar
Sigala. "Cabe ao ser superior
perdoá-lo", afirmou à Folha,
por telefone, o químico Luigi
D'Ascanio, 59, pai da jovem.
Para eles, a execução -presenciada na terça pela mãe da
moça, a bancária aposentada
Angélica, 57, e pelos pais de
Kleber- tem trazido à família,
que vive em Mairinque, a 71 km
da capital, a sensação de estar
revivendo o episódio.
Em 22 de agosto de 2000, Sigala entrou no apartamento de
Kleber em Plano, cidade próxima a Dallas, no Texas, com a intenção de roubar. Primeiro, o
criminoso matou o rapaz com
um tiro na cabeça. Depois, violentou a estudante e a amarrou,
matando-a em seguida também com um tiro na cabeça.
Kleber, engenheiro que programava softwares para a
Ericsson, havia se mudado para
os EUA fazia poucos meses, a
trabalho. Lilian, em férias, estava terminando a faculdade e
visitava o marido. Haviam se
casado em dezembro de 1999 e
planejavam viver no país.
Poucos meses depois do assassinato, a polícia encontrou
um homem com uma guitarra
que pertencia a Kleber. Outra
ajuda para solucionar o crime
partiu de um programa policial
da TV norte-americana, que
exibiu o caso ainda sem solução. Pistas sobre os bens roubados foram aparecendo, e a
polícia chegou a Sigala.
Desde então, a família acompanhou todo o processo nos
EUA -o julgamento durou cerca de uma semana, conta Luigi.
Para ele, a atuação da Promotoria e da Justiça americanas
foram exemplares, não havendo incertezas sobre o culpado.
Angélica, a mãe, diz ter tido
dúvidas no começo sobre se assistiria ou não o cumprimento
da pena. Ela afirma ter decidido viajar até Hunstville, a capital das execuções nos EUA, por
achar que a família deveria estar representada.
"Eu nunca pensei em estar
presente [à execução] com espírito de vingança, ou de ver a
Justiça ser cumprida", diz, ressaltando que foi com o "coração aberto" e que sentiu misericórdia do condenado.
Passada a execução, Luigi
ressalva que, para a família, a
história não acabou. "Temos
ainda uma vida pela frente, temos outros filhos para cuidar.
Mas não vamos conseguir esquecer, o estrago que foi feito
na família é muito grande."
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