São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2005

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MASSACRE NA BAIXADA

Segundo vizinhos, tráfico e ladrões pagavam propina ao lado de pontos onde houve 13 de 30 assassinatos

PMs praticavam extorsão, dizem moradores

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Pelo menos dois locais da matança de 30 pessoas em Nova Iguaçu e em Queimados (Baixada Fluminense), na quinta-feira passada, eram alvos freqüentes de policiais militares que extorquiam dinheiro de pequenos traficantes e comerciantes envolvidos em ilegalidades, segundo relatos obtidos pela Folha.
As investigações do massacre levaram até agora à prisão temporária de seis policiais militares. Não há indicativo de que sejam os mesmos que faziam a extorsão.
Outros quatro pedidos de prisão de PMs foram enviados à Justiça. A polícia localizou e apreendeu o Gol prata -emprestado por um comerciante a um dos policiais presos- que testemunhas disseram ter sido usado na chacina.
Um dos locais da chacina, o bar do Caíque, no bairro da Posse, em Nova Iguaçu (onde nove pessoas foram mortas), tinha uma boca-de-fumo funcionando ao lado.
Clientes e traficantes sofriam freqüentemente extorsão de PMs à paisana, relataram ontem à Folha moradores e comerciantes.
Quando traficantes não tinham dinheiro para a propina, os policiais os "esculachavam" -surrando-os e, em ao menos um caso, deixando-os nus na rua.
Os traficantes da estrada da Gama (via do bar e da venda de trouxinhas de maconha e papelotes de cocaína) são geralmente adolescentes. Diferentemente do Rio, o tráfico na Posse não é bem armado. "Eles não têm nem revólver. É uma garotada muito humilde", disse o morador que se identificou como José Carlos dos Santos.
A boca ficava a cerca de 30 metros do bar. Traficantes e usuários costumavam ir ao estabelecimento tomar cerveja e jogar fliperama.
O bar está fechado desde a matança. Seu dono, Carlos Henrique de Assis, o Caíque, deixou o bairro, segundo vizinhos. Sua mulher, Elizabeth de Oliveira, foi uma das nove vítimas. Caíque teria medo de ser morto, pois conhece os policiais envolvidos com extorsões.

Motos
Já o lava-a-jato onde quatro homens foram mortos, em Queimados, era usado eventualmente por uma quadrilha de ladrões de motocicletas, segundo apuração da Polícia Civil no dia seguinte à chacina. Moradores disseram o mesmo à Folha. As motos roubadas seriam desmontadas no local.
Os moradores contaram que policiais à paisana e fardados costumavam ir ao lava-a-jato ao menos uma vez por semana, para extorquir dinheiro do dono do negócio e dos ladrões de motos.
Segundo eles, o ponto costumava abrir à noite para receber motocicletas. Tal como o bar do Caíque, o estabelecimento fechou.
Ontem, uma família que morava nos fundos estava se mudando. Ninguém quis dar entrevista. Disseram só que não dá mais para seguir em um local onde quatro amigos foram mortos.

Prisões
Os policiais militares José Augusto Moreira Felipe e Fabiano Gonçalves Lopes, já presos sob acusação de envolvimento no massacre da Baixada, tiveram a prisão preventiva decretada também no processo em que são acusados por crime de homicídio em 30 de março de 2004, em Itaguaí (município a 73 km do Rio).
"Um dos motivos é o medo que as testemunhas do caso de Itaguaí podem sentir estando os acusados soltos", alegou o promotor de Justiça Jorge Luís Abdelhay.


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