São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2005

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PELA VIDA

O rapaz, de 21 anos, que está em estado vegetativo desde 2001 por suposto erro médico, teve de retornar ao Brasil

Jovem auxiliado por Lula perde tratamento em Cuba

Reprodução/Álbum de família
Fabio Marcondes de Lima é beijado pela mãe, Marisa de Lima, 50


FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de receber um auxílio direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que intermediou um tratamento experimental em Cuba, o jovem Fábio Marcondes de Lima, 21, que está em estado vegetativo desde 2001, sobrevive em um pequeno apartamento em São Paulo, sem tratamento.
O rapaz depende dos seus pais, leigos, para realizar fisioterapia, por exemplo, que impede piora na atrofia das pernas e braços.
A ausência de políticas específicas para pacientes como Fábio e um imbróglio entre os governo brasileiro e cubano explicam a situação do jovem, vítima de uma parada respiratória durante uma cirurgia para apendicite em Natal.
No estado vegetativo, o paciente só tem funções "automáticas" ativas, como o estado de sono. É a mesma condição da americana Terri Schiavo, morta há uma semana, após uma batalha judicial.
Fábio era estudante do 1º ano de jornalismo e queria ser correspondente internacional.
Os pais acusam os médicos de erro médico e o caso se arrasta na Justiça potiguar. Recentemente, a família de classe média, de origem paulistana, voltou temporariamente para SP para ter ajuda.
A romaria de Fábio e seus pais em busca de auxílio teve seu ápice em um protesto desesperado em 2003, na frente do Palácio da Alvorada, em que o pai, Marcos Antonio de Lima, 55, colocou o menino na entrada do local.
Em 25 de abril daquele ano, primeiro de Lula no governo, a família foi recebida no gabinete de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente, e pediu que o governo trouxesse ao país o especialista cubano Israel Jesús García Guirado, professor da faculdade de medicina da Universidade de Havana, e que desenvolve um tratamento experimental para pacientes que sofreram danos cerebrais por falta de oxigênio.
Para surpresa da família, quase no fim da conversa, Lula entrou no gabinete, ouviu a família, emocionou-se, e decidiu que a melhor solução seria um pedido especial ao governo cubano para que Fábio fosse tratado naquele país.
"O presidente tomou um choque, ficou horrorizado. Antes de sair, colocou a mão espalmada sobre a cabeça de Fábio, fechou os olhos e parecia fazer uma oração. O Fábio também fechou os olhos", conta o pai. Gilberto Carvalho e a mãe do menino choraram com a cena e, em cerca de dois meses, Fábio foi acolhido, por cortesia do governo cubano, no Ciren (Centro Internacional de Restauração Neurológica), em Havana, que normalmente costuma cobrar até US$ 8.000 mensais dos pacientes estrangeiros.
A família, em correspondências com Carvalho, destacava que o tratamento experimental era por cinco anos. O acordado foi que só a terapia seria cortesia -passagens e demais despesas ficariam por conta dos Lima, que venderam imóvel "a preço de banana", diz o pai, abandonaram uma pequena construtora e outros bens para custear a estadia em Cuba.
No início, o tratamento não era com Guirado mas, em três meses, com muita insistência, começou a terapia experimental: sessões pesadas de fisioterapia, estimulação magnética e oxigenoterapia.
Relatórios mostram que, durante o tratamento, Fabio voltou a se alimentar também pela boca -antes usava somente sonda gástrica -, melhorou a capacidade respiratória, a mobilidade das articulações. Avaliações do cérebro mostraram recuperação.
Segundo Guirado disse à reportagem, o Ciren, clínica em que Fábio estava, não viu progressos suficientes, comparáveis aos dos pacientes que normalmente acolhe -o caso de Fábio era exceção -e encerrou a cortesia. A Folha não conseguiu ouvir o centro. O governo cubano não comentou.
Era a primeira vez que Guirado tratava um caso como o de Fábio. "Claro que sempre vale a pena, é melhor do que não fazer nada", disse o médico. "As pequenas mudanças podem dar frutos". Ele teve um caso de um paciente que recuperou a autonomia. O médico tenta apoio do Ministério da Saúde de Cuba. Outra saída é a ação de uma instituição brasileira.
Para o pai, a decisão não foi médica, mas política e financeira. Ele diz que desde outubro, Carvalho, chefe de gabinete de Lula, que chamava o menino de "nosso Fábio" em bilhetes, não o atende.
A família saiu às pressas de Cuba há quase um ano, deixando tudo que comprara para viver a possível melhora. Afirma estar em ruína financeira. "Choramos uma barbaridade", diz o pai.


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