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depoimento
6 h entre ônibus, barca, metrô, Kombi e lama
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Seis horas e 23 minutos.
Foi o tempo que gastei para percorrer cerca de 40
km entre Niterói e a zona
norte do Rio durante a
chuvarada da noite de anteontem. Normalmente,
levaria, no máximo, uma
hora e 15 minutos.
No percurso, iniciado às
18h30, peguei ônibus, barca, metrô, Kombi clandestina e, por fim, caminhei 3
km até o Meier.
Logo que deixei o consultório do dentista e senti
os primeiros pingos, decidi acreditar numa máxima
de quando jogava num time de pelada: ""Tá ruim,
mas pode ficar pior!", gritava Gaguinho, o treinador. Com essa "pérola" na
cabeça, esperei o ônibus
por quase duas horas na
praia de Icaraí, em Niterói,
início da minha jornada.
Inteiramente molhado,
dentro do ônibus, aguentei mais meia hora em pé,
em meio a empurrões.
Nas barcas, 30 minutos
de espera na estação e
mais 30 de travessia. Ao
chegar ao Rio, andei até o
metrô Carioca. A fila para
comprar o bilhete consumiu 20 minutos. No vagão,
fui amassado por seis funkeiros animados. Gaguinho não me saía da cabeça.
Na Central do Brasil, fui
barrado por seguranças da
Supervia, que fecharam a
estação dez minutos antes
e provocavam os usuários.
De volta ao metrô, 15 minutos para comprar o bilhete e nova luta para entrar no vagão superlotado.
Quase à meia-noite, saí
da estação Del Castilho.
Após dez minutos na chuva, era o cliente solitário
de uma Kombi pirata.
Depois, um grupo de
evangélicos entrou e começou a orar. Um deles
pediu a minha participação. Tratei de descer no
primeiro sinal e comecei o
trecho final. Andei 30 minutos até que, quase na
minha rua, vi uma imensa
piscina suja. Lembrei do
técnico, encarei a inundação com água acima da canela e afinal cheguei à
0h53. Podia ser pior?
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