São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Ação em encosta é falha, dizem especialistas

Para pesquisadores, mapeamento das áreas de risco é benfeito, mas falta de monitoramento de campo dá margem a tragédias

Equipes técnicas precisam visitar preventivamente os morros para saber a real situação de seus moradores, de acordo com geólogo

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O mapeamento geológico das áreas de risco do Rio de Janeiro é bem feito, segundo especialistas. Mesmo assim, tragédias como a de ontem ocorrem por que falta um monitoramento de campo mais efetivo, dizem eles. Equipes técnicas precisam ir preventivamente aos morros para saber a real situação de seus moradores, afirmam.
"O mapa geotécnico [documento que mostra onde o solo pode ser mais frágil e, por isso, sofrer com escorregamentos, por exemplo] do Rio de Janeiro é muito bom", avalia o geólogo Cássio Roberto, especialista em planejamento territorial.
Mesmo com ferramentas técnicas e sistemas de alertas eficientes, a queda no orçamento do setor ajuda a explicar o monitoramento falho nos morros do Rio de Janeiro.
No início do ano, um relatório do Tribunal de Contas do Município do Rio mostrou que os recursos gastos pela Geo-Rio, instituição estatal responsável pelo sistema de monitoramento das encostas da cidade, caíram em 2009.
De acordo com o TCM-RJ, o orçamento do órgão em 2008 foi de R$ 19 milhões. Enquanto no ano passado, ele caiu para R$ 7,5 milhões. Uma redução de 61%.
Essa diminuição de recursos, segundo o relatório, impediu que obras de prevenção fossem feitas. O foco, para o tribunal, ficou apenas nas questões mais emergenciais.
A Prefeitura do Rio afirma que os gastos estão sendo feitos de acordo com a demanda e as tragédias são frutos de chuvas intensas e de moradias irregulares, que permanecem nas áreas de risco.

Desordem
Para o professor Gilberto Pessanha, geógrafo e consultor, "a desordem observada na ocupação humana no ambiente urbano no Rio de Janeiro" acaba sendo agravada por uma série de causas naturais.
O relevo da cidade, segundo ele, favorece o convívio das pessoas com as áreas perigosas, onde o solo é facilmente desagregado pelas chuvas. Como isso ocorre em áreas íngremes, sobre rochas, o deslizamento é praticamente certo.
O processo é idêntico ao registrado em Angra dos Reis em janeiro deste ano e em Santa Catarina em 2008.
"A Defesa Civil municipal e Estadual desempenham o papel de prevenção, alerta e resgate. Há uma série de fatores naturais que promovem a instabilidade das encostas", avalia Pessanha, que também é professor da UFF (Universidade Federal Fluminense). "Este evento não estava previsto".

Prevenção
Segundo informaram os especialistas, outra ferramenta importante criada pelo governo do Rio de Janeiro em 2002 ainda não saiu do papel.
O Gepac (Grupo Executivo de Prevenção de Acidentes Naturais e Catástrofes) nasceu com o objetivo de reunir especialistas de várias áreas para cuidar do problema ambiental do Rio de Janeiro.
Depois de quase oito anos e após a tragédia ocorrida em janeiro na cidade de Angra dos Reis, quando 52 morreram em decorrência das chuvas, várias associações se reuniram para cobrar do governo estadual a implantação efetiva do grupo.
Para esses especialistas, essa seria a possibilidade de se prevenir muitas das ocorrências fatais registradas em todo o Estado nos últimos anos.


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