São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2011

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ANÁLISE "ADULTIZAÇÃO" DE CRIANÇAS

Estudos mostram que sutiã é só um item da sexualização

Bonecas, videoclipes e letras de música são alguns outros exemplos de visão estereotipada da mulher

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

É quase um truísmo afirmar que a hipersexualização de meninas -da qual a venda de sutiãs sensuais para garotas de seis anos é um eloquente sintoma- pode trazer danos psicológicos para algumas crianças. O próprio prefixo "hiper" já indica que há algo além da conta.
No que é provavelmente o principal esforço para demonstrar esse vínculo, a APA (Associação Psicológica da América) criou uma força-tarefa para estudar o assunto.
As conclusões foram publicadas num relatório em 2007. No ano passado, foi editada versão atualizada do documento. Basicamente, os autores dizem que a visão estereotipada da mulher como objeto sexual é ubíqua.
Além de bonecas Barbie e das roupas sensuais em tamanho infantil, a sexualização aparece na TV, em videoclipes, nas letras das canções, no cinema, em revistas, na publicidade. Eliminar uma categoria, como os sutiãs, não alteraria o quadro.
De acordo com o relatório, há diversos mecanismos teóricos pelos quais as meninas incorporam essa visão e a transformam numa espécie de ideal, que tentam perseguir, com prejuízo de atividades cognitivas e físicas.
Segundo o documento, estudos correlacionam a sexualização a transtornos alimentares, baixa autoestima e depressão. Os impactos negativos não se limitariam às garotas, atingindo também os meninos (nenhuma mulher "real" será boa o bastante) e a própria sociedade.
O texto traz "insights" interessantes e aponta pesquisas curiosas. Tem também algumas fragilidades.
A leitura dá a sensação de que, não houvesse a sexualização, todas as garotas seriam felizes e fenômenos como depressão e baixa autoestima não existiriam.
Uma interpretação alternativa -e mais verossímil- é a de que esses estados têm uma forte base biológica e se manifestariam de uma forma ou de outra. Como lembra o texto, 20 anos atrás as garotas que não tiravam boas notas se sentiam deslocadas.
No fundo, todas as sociedades forjam uma autoimagem idealizada (e falsa). Quem não se encaixa nesses estereótipos tem grandes chances de ser excluído e sofrer a pressão psicológica correspondente. O mundo, nesse sentido, é cruel, mas será que existe a possibilidade lógica de não sê-lo?


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