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ANÁLISE "ADULTIZAÇÃO" DE CRIANÇAS
Estudos mostram que sutiã é só um item da sexualização
Bonecas, videoclipes e letras de música são alguns outros exemplos de visão estereotipada da mulher
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
É quase um truísmo afirmar que a hipersexualização
de meninas -da qual a venda de sutiãs sensuais para
garotas de seis anos é um eloquente sintoma- pode trazer
danos psicológicos para algumas crianças. O próprio
prefixo "hiper" já indica que
há algo além da conta.
No que é provavelmente o
principal esforço para demonstrar esse vínculo, a APA
(Associação Psicológica da
América) criou uma força-tarefa para estudar o assunto.
As conclusões foram publicadas num relatório em
2007. No ano passado, foi
editada versão atualizada do
documento. Basicamente, os
autores dizem que a visão estereotipada da mulher como
objeto sexual é ubíqua.
Além de bonecas Barbie e
das roupas sensuais em tamanho infantil, a sexualização aparece na TV, em videoclipes, nas letras das canções, no cinema, em revistas,
na publicidade. Eliminar
uma categoria, como os sutiãs, não alteraria o quadro.
De acordo com o relatório,
há diversos mecanismos teóricos pelos quais as meninas
incorporam essa visão e a
transformam numa espécie
de ideal, que tentam perseguir, com prejuízo de atividades cognitivas e físicas.
Segundo o documento, estudos correlacionam a sexualização a transtornos alimentares, baixa autoestima
e depressão. Os impactos negativos não se limitariam às
garotas, atingindo também
os meninos (nenhuma mulher "real" será boa o bastante) e a própria sociedade.
O texto traz "insights" interessantes e aponta pesquisas curiosas. Tem também algumas fragilidades.
A leitura dá a sensação de
que, não houvesse a sexualização, todas as garotas seriam felizes e fenômenos como depressão e baixa autoestima não existiriam.
Uma interpretação alternativa -e mais verossímil-
é a de que esses estados têm
uma forte base biológica e se
manifestariam de uma forma
ou de outra. Como lembra o
texto, 20 anos atrás as garotas que não tiravam boas notas se sentiam deslocadas.
No fundo, todas as sociedades forjam uma autoimagem idealizada (e falsa).
Quem não se encaixa nesses
estereótipos tem grandes
chances de ser excluído e sofrer a pressão psicológica
correspondente. O mundo,
nesse sentido, é cruel, mas
será que existe a possibilidade lógica de não sê-lo?
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