São Paulo, domingo, 07 de maio de 2000


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SAÚDE
Pressão alta ataca em silêncio e exige atenção

ALCINO BARBOSA JR.
especial para a Folha

A hipertensão arterial é uma doença traiçoeira. Os sintomas costumam aparecer muito tempo depois do início do problema, quando alguns órgãos já podem ter sido prejudicados.
Os alvos da doença são órgãos nobres -cérebro, coração e rim. Por isso, prevenir, diagnosticar rápido e tratar adequadamente são as armas para combater a doença (veja quadro ao lado).
"Estima-se que 20% da população adulta tenha ou vá desenvolver hipertensão", afirma José Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor (Instituto do Coração).
De 5% a 10% dos pacientes hipertensos têm alguma doença que pode ser considerada a causa direta do aumento da pressão. "Nesses casos, alterações do funcionamento dos rins e tumores de glândulas, como a supra-renal, são as causas mais comuns", afirma Celso Ferreira, chefe do Setor de Cardiopatia Hipertensiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Para os outros hipertensos, de 90% a 95% do total, a genética e os desequilíbrios hormonais são a origem do problema. Mas a interação desses fatores ainda não foi totalmente esclarecida pelos pesquisadores.
É certo que dessa mistura surgem uma contração anormal dos pequenos vasos sanguíneos e uma tendência de retenção de água e de sal maior do que o normal, o que aumenta a pressão do sangue.
Os fatores de risco para adquirir pressão alta são bem determinados. Obesidade, diabetes, vida sedentária, excesso de sal na dieta, abuso de bebidas alcoólicas e estresse predispõem à hipertensão. Contornar esses fatores é a melhor forma de prevenção.

Tratamento
"No Brasil, existem aproximadamente 16 milhões de hipertensos. Somente 30% deles estão sendo tratados", diz Décio Mion Júnior, chefe da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A quantia de remédios para tratar a hipertensão não pára de crescer. Os diuréticos (hidroclorotiazida, clortalidona) e betabloqueadores (propranolol, atenolol) -as medicações mais tradicionais- são também as mais baratas. "Essas continuam sendo as drogas de primeira escolha", diz Luiz Aparecido Bortolotto, cardiologista da Unidade de Hipertensão do Incor.
Os diuréticos podem causar fraqueza muscular, cãibras e sensação de boca seca. Os betabloqueadores causam mal-estar passageiro, fraqueza nas pernas e, em altas doses, impotência. "Mas a impotência é reversível. É preciso tempo para o organismo se adaptar ao novo regime de pressão", afirma Bortolotto.
As novas gerações de remédios apresentam menos efeitos colaterais. São medicamentos como losartana, valsartana e omapatrilato (ainda em fase de testes clínicos).
Já se sabe que eles diminuem a pressão, mas estudos em longo prazo ainda não foram concluídos para determinar seu benefício na redução de mortes e de complicações em pacientes.
O efeito de todos esses remédios é muito diverso entre os doentes, porque os diferentes fatores que causam a hipertensão têm importância variável de pessoa para pessoa.
Enquanto em alguns a retenção de água e sal é muito grande, em outros o hormônio adrenalina tem papel mais relevante no desenvolvimento da doença, por exemplo.
"Ainda não temos parâmetros objetivos para prever qual medicamento vai ter resposta melhor em cada paciente. Existe um componente grande de tentativa e erro no tratamento atual", afirma José Eduardo Krieger.
"Quando conseguirmos mapear o genoma humano e conhecermos melhor os fatores ambientais que provocam a hipertensão, o tratamento vai ser mais eficiente", diz Krieger.
O cloreto de sódio, presente no sal de cozinha, quando consumido em excesso, é um fator de risco para a hipertensão. Pessoas hipertensas devem consumir 6 gramas de sal por dia no máximo.
Para diminuir a quantidade de cloreto de sódio no sal de cozinha, surgiram sais com cloreto de potássio na fórmula. "O potássio também ajuda a reduzir a pressão", diz Décio Mion Júnior, chefe da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas. Essa variante é conhecida como sal diet ou light.


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