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SAÚDE
Pressão alta ataca em silêncio e exige atenção
ALCINO BARBOSA JR.
especial para a Folha
A hipertensão arterial é uma
doença traiçoeira. Os sintomas
costumam aparecer muito tempo
depois do início do problema,
quando alguns órgãos já podem
ter sido prejudicados.
Os alvos da doença são órgãos
nobres -cérebro, coração e rim.
Por isso, prevenir, diagnosticar
rápido e tratar adequadamente
são as armas para combater a
doença (veja quadro ao lado).
"Estima-se que 20% da população adulta tenha ou vá desenvolver hipertensão", afirma José
Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor (Instituto
do Coração).
De 5% a 10% dos pacientes hipertensos têm alguma doença
que pode ser considerada a causa
direta do aumento da pressão.
"Nesses casos, alterações do funcionamento dos rins e tumores de
glândulas, como a supra-renal,
são as causas mais comuns", afirma Celso Ferreira, chefe do Setor
de Cardiopatia Hipertensiva da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo).
Para os outros hipertensos, de
90% a 95% do total, a genética e os
desequilíbrios hormonais são a
origem do problema. Mas a interação desses fatores ainda não foi
totalmente esclarecida pelos pesquisadores.
É certo que dessa mistura surgem uma contração anormal dos
pequenos vasos sanguíneos e
uma tendência de retenção de
água e de sal maior do que o normal, o que aumenta a pressão do
sangue.
Os fatores de risco para adquirir
pressão alta são bem determinados. Obesidade, diabetes, vida sedentária, excesso de sal na dieta,
abuso de bebidas alcoólicas e estresse predispõem à hipertensão.
Contornar esses fatores é a melhor forma de prevenção.
Tratamento
"No Brasil, existem aproximadamente 16 milhões de hipertensos. Somente 30% deles estão sendo tratados", diz Décio Mion Júnior, chefe da Liga de Hipertensão
do Hospital das Clínicas de São
Paulo.
A quantia de remédios para tratar a hipertensão não pára de
crescer. Os diuréticos (hidroclorotiazida, clortalidona) e betabloqueadores (propranolol, atenolol) -as medicações mais tradicionais- são também as mais
baratas. "Essas continuam sendo
as drogas de primeira escolha",
diz Luiz Aparecido Bortolotto,
cardiologista da Unidade de Hipertensão do Incor.
Os diuréticos podem causar fraqueza muscular, cãibras e sensação de boca seca. Os betabloqueadores causam mal-estar passageiro, fraqueza nas pernas e, em altas
doses, impotência. "Mas a impotência é reversível. É preciso tempo para o organismo se adaptar
ao novo regime de pressão", afirma Bortolotto.
As novas gerações de remédios
apresentam menos efeitos colaterais. São medicamentos como losartana, valsartana e omapatrilato
(ainda em fase de testes clínicos).
Já se sabe que eles diminuem a
pressão, mas estudos em longo
prazo ainda não foram concluídos para determinar seu benefício
na redução de mortes e de complicações em pacientes.
O efeito de todos esses remédios
é muito diverso entre os doentes,
porque os diferentes fatores que
causam a hipertensão têm importância variável de pessoa para
pessoa.
Enquanto em alguns a retenção
de água e sal é muito grande, em
outros o hormônio adrenalina
tem papel mais relevante no desenvolvimento da doença, por
exemplo.
"Ainda não temos parâmetros
objetivos para prever qual medicamento vai ter resposta melhor
em cada paciente. Existe um componente grande de tentativa e erro no tratamento atual", afirma
José Eduardo Krieger.
"Quando conseguirmos mapear o genoma humano e conhecermos melhor os fatores ambientais que provocam a hipertensão, o tratamento vai ser mais
eficiente", diz Krieger.
O cloreto de sódio, presente no
sal de cozinha, quando consumido em excesso, é um fator de risco
para a hipertensão. Pessoas hipertensas devem consumir 6 gramas
de sal por dia no máximo.
Para diminuir a quantidade de
cloreto de sódio no sal de cozinha,
surgiram sais com cloreto de potássio na fórmula. "O potássio
também ajuda a reduzir a pressão", diz Décio Mion Júnior, chefe
da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas. Essa variante é conhecida como sal diet ou light.
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