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Jornalista que apontou exploração sexual é morto
Luiz Carlos Barbon Filho, 37, foi atacado a tiros na noite de sábado em um bar de Porto Ferreira (interior de SP)
Em 2003, ele denunciou um esquema de aliciamento de meninas que envolvia empresários e vereadores; todos foram condenados
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
O jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, 37, que denunciou
em 2003 um esquema de exploração sexual de meninas em
Porto Ferreira (228 km de São
Paulo), foi assassinado a tiros.
Ele foi baleado em um bar no
centro de Porto Ferreira, por
volta das 21h de sábado. Foi socorrido com vida, mas morreu
por volta da 1h de ontem.
A Polícia Civil apura a hipótese de a morte do jornalista estar ligada a reportagens feitas
por ele para jornais e para uma
rádio do município.
O caso de aliciamento e abuso sexual de meninas envolveu
políticos e empresários da cidade. A polícia não descarta relação do assassinato de Barbon
com esse episódio, mas também investiga uma possível ligação do crime com outras reportagens.
O jornalista tinha vários desafetos na cidade, segundo o
delegado Eduardo Campos. A
polícia não informou o conteúdo das reportagens que poderiam ter motivado a morte dele.
O ataque ocorreu por volta
das 21h de anteontem. Barbon
Filho estava em um bar com
um amigo quando dois homens
em uma moto chegaram. O garupa desceu e disparou duas vezes contra o jornalista, com
uma espingarda calibre 12. O
segundo tiro o atingiu quando
ele já estava caído.
Um tiro acertou a perna e o
outro a região lombar e atravessou o corpo do jornalista. Ele
foi socorrido, mas morreu por
volta da 1h.
Alcides Catarino, que estava
com o jornalista no bar, foi ferido no braço e não corre risco de
morte. Até a conclusão desta
edição, ao menos quatro testemunhas haviam sido ouvidas.
Nenhuma delas havia anotado
a placa da moto ou reconhecido
os criminosos.
Minutos depois do ataque a
Barbon Filho, outro homem foi
morto, em um crime com as
mesmas características, também cometido por dois homens
em uma moto.
Para a polícia, esse segundo
crime pode ter sido praticado
para dificultar as investigações.
A mulher de Barbon Filho,
Kátia Barbon, disse ontem, no
velório do jornalista, que ele recebia, por telefone e por carta,
ameaças de morte devido às denúncias que fazia contra autoridades. O enterro foi ontem
em Tambaú (257 km de SP).
Em agosto de 2003, a polícia
começou a investigar -a partir
da denúncia de Barbon Filho-
esquema de aliciamento de meninas envolvendo quatro empresários, cinco vereadores e
um garçom. Os envolvidos foram condenados a penas de
mais de 40 anos de reclusão.
Só o garçom, que organizava
o esquema, continua preso. Um
dos condenados, o então vereador cassado Luís César Lanzoni
(PTB), conseguiu se reeleger
vereador. O delegado do caso,
Maurício Rasi (PT), se elegeu
prefeito e passou a ser alvo de
denúncias do jornalista. Eles
não foram localizados.
Nos últimos meses, Barbon
Filho dava sinais de que recuara em suas denúncias. Conduzira recentemente, em uma rádio, entrevista na qual um tio de uma das meninas envolvidas dizia que os depoimentos
delas já estavam prontos antes
de seus testemunhos à polícia.
Colaborou REGIANE SOARES , da Folha Online
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