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Número 2 da Segurança sai após denúncia
Lauro Malheiros Neto enviou carta ontem ao governador Serra; ele é suspeito de elo com policial acusado de extorsão
Malheiros Neto, que nega ter protegido policial preso após investigação da Promotoria, estava no cargo desde janeiro de 2007
ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado Lauro Malheiros
Neto pediu demissão ontem do
cargo de secretário-adjunto da
Segurança Pública de São Paulo, que ocupava desde janeiro
do ano passado.
A saída ocorre após a divulgação da suspeita de que ele recebia dinheiro para proteger,
dentro da polícia, o investigador Augusto Peña, preso no dia
30 de abril sob acusação de extorsão mediante seqüestro.
Malheiros Neto nega.
O pedido de demissão foi feito em carta encaminhada ao
governador José Serra (PSDB),
que o aceitou.
A investigação e a acusação
contra o investigador foram
feitas pelo Gaerco (Grupo de
Atuação Especial Regional de
Combate e Repressão ao Crime
Organizado), do Ministério Público de Guarulhos.
As supostas relações de favorecimento entre Malheiros Neto e o policial foram relatadas à
Folha por Regina Célia de Carvalho, ex-mulher de Peña, e
confirmadas pelo delegado
Nelson Silveira Guimarães, ex-chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da
Macro São Paulo).
Guimarães relatou à Promotoria na semana passada e ontem à Corregedoria da Polícia
Civil que recebeu, em 2007,
uma ligação de Malheiros Neto
"para liberar" Peña da delegacia de Suzano -onde ele estava
fora das ruas por estar sob investigação em um outro caso-
para o Deic (Departamento de
Investigações sobre o Crime
Organizado). Malheiros Neto
negou ter feito a ligação.
O ex-secretário-adjunto e
Peña foram colegas no DHPP
(Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa) em 1993. O
escritório de advocacia da família de Malheiros Neto já atuou
para Peña em duas ações cíveis
-uma delas a separação do investigador e de Regina Célia.
O promotor José Mário Buck
Marzagão Barbuto, do Gaerco,
afirmou ontem que o delegado
Guimarães deu outra informação da possível relação entre
Malheiros Neto e Peña.
Segundo Barbuto, o delegado
disse ontem, em depoimento à
Corregedoria da Polícia Civil,
que Peña passou para o chefe
dos investigadores do Demacro
o número de um rádio Nextel
supostamente usado por Malheiros Neto.
A Promotoria acusa Peña e o
também policial civil José Roberto de Araújo (outro preso no
dia 30 de abril) de terem exigido R$ 300 mil, em 2005, para
não prender Rodrigo Olivatto
de Morais, 28, enteado do presidiário Marco Willians Herbas
Camacho, o Marcola, apontado
pela polícia como chefe da facção criminosa PCC (Primeiro
Comando da Capital).
De acordo com a Promotoria,
os dois fizeram Olivatto refém
por 48 horas na delegacia de
Suzano (Grande São Paulo). O
dinheiro teria sido pago.
O advogado de Peña, Fábio
Tufic Simantob, diz que seu
cliente é vítima de armação.
A ex-mulher de Peña entregou à Promotoria CDs com cópias de arquivos extraídos do
computador pessoal do policial, no qual ele mantinha um
banco de dados sobre criminosos, principalmente os que já
foram acusados de tráfico e
roubo e são apontados pela polícia de ligação com o PCC.
A suspeita é que Peña usasse
os dados para articular seqüestros contra essas pessoas e recorresse à ajuda de Malheiros
Neto quando sofria alguma
pressão dentro da polícia.
As fotos de Morais, o enteado
de Marcola, estão nos arquivos.
José Serra
Serra disse ontem que a situação de Malheiros Neto "não
é grave, mas que existe uma investigação da Corregedoria que
vai nos trazer os resultados".
Segundo tucanos com trânsito no Palácio dos Bandeirantes,
a situação de Malheiros Neto
era insustentável, fosse ele inocente ou não.
A saída dele foi discutida numa audiência entre Serra e o titular da Segurança, Ronaldo
Marzagão, na noite de domingo. Serra deu prazo para uma
decisão até a noite de segunda-feira. O prazo de 24 horas foi fixado para evitar que Malheiros
ficasse ainda mais exposto.
Embora não tenha se manifestado explicitamente pela
exoneração, Serra deixou evidente sua opinião ao alegar que
o adjunto teria dificuldades para se defender no cargo, ainda
que estivesse correto. A decisão, segundo tucanos, coube a
Marzagão.
Serra disse que a escolha do
novo adjunto da Segurança será feita por Marzagão, com
quem a Folha tenta uma entrevista desde o dia 30 de abril.
Colaborou CATIA SEABRA, da Reportagem Local
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