São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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Número 2 da Segurança sai após denúncia

Lauro Malheiros Neto enviou carta ontem ao governador Serra; ele é suspeito de elo com policial acusado de extorsão

Malheiros Neto, que nega ter protegido policial preso após investigação da Promotoria, estava no cargo desde janeiro de 2007

ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado Lauro Malheiros Neto pediu demissão ontem do cargo de secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, que ocupava desde janeiro do ano passado.
A saída ocorre após a divulgação da suspeita de que ele recebia dinheiro para proteger, dentro da polícia, o investigador Augusto Peña, preso no dia 30 de abril sob acusação de extorsão mediante seqüestro. Malheiros Neto nega.
O pedido de demissão foi feito em carta encaminhada ao governador José Serra (PSDB), que o aceitou.
A investigação e a acusação contra o investigador foram feitas pelo Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Combate e Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Guarulhos.
As supostas relações de favorecimento entre Malheiros Neto e o policial foram relatadas à Folha por Regina Célia de Carvalho, ex-mulher de Peña, e confirmadas pelo delegado Nelson Silveira Guimarães, ex-chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo).
Guimarães relatou à Promotoria na semana passada e ontem à Corregedoria da Polícia Civil que recebeu, em 2007, uma ligação de Malheiros Neto "para liberar" Peña da delegacia de Suzano -onde ele estava fora das ruas por estar sob investigação em um outro caso- para o Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado). Malheiros Neto negou ter feito a ligação.
O ex-secretário-adjunto e Peña foram colegas no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) em 1993. O escritório de advocacia da família de Malheiros Neto já atuou para Peña em duas ações cíveis -uma delas a separação do investigador e de Regina Célia.
O promotor José Mário Buck Marzagão Barbuto, do Gaerco, afirmou ontem que o delegado Guimarães deu outra informação da possível relação entre Malheiros Neto e Peña.
Segundo Barbuto, o delegado disse ontem, em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, que Peña passou para o chefe dos investigadores do Demacro o número de um rádio Nextel supostamente usado por Malheiros Neto.
A Promotoria acusa Peña e o também policial civil José Roberto de Araújo (outro preso no dia 30 de abril) de terem exigido R$ 300 mil, em 2005, para não prender Rodrigo Olivatto de Morais, 28, enteado do presidiário Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pela polícia como chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
De acordo com a Promotoria, os dois fizeram Olivatto refém por 48 horas na delegacia de Suzano (Grande São Paulo). O dinheiro teria sido pago.
O advogado de Peña, Fábio Tufic Simantob, diz que seu cliente é vítima de armação.
A ex-mulher de Peña entregou à Promotoria CDs com cópias de arquivos extraídos do computador pessoal do policial, no qual ele mantinha um banco de dados sobre criminosos, principalmente os que já foram acusados de tráfico e roubo e são apontados pela polícia de ligação com o PCC.
A suspeita é que Peña usasse os dados para articular seqüestros contra essas pessoas e recorresse à ajuda de Malheiros Neto quando sofria alguma pressão dentro da polícia. As fotos de Morais, o enteado de Marcola, estão nos arquivos.

José Serra
Serra disse ontem que a situação de Malheiros Neto "não é grave, mas que existe uma investigação da Corregedoria que vai nos trazer os resultados". Segundo tucanos com trânsito no Palácio dos Bandeirantes, a situação de Malheiros Neto era insustentável, fosse ele inocente ou não.
A saída dele foi discutida numa audiência entre Serra e o titular da Segurança, Ronaldo Marzagão, na noite de domingo. Serra deu prazo para uma decisão até a noite de segunda-feira. O prazo de 24 horas foi fixado para evitar que Malheiros ficasse ainda mais exposto.
Embora não tenha se manifestado explicitamente pela exoneração, Serra deixou evidente sua opinião ao alegar que o adjunto teria dificuldades para se defender no cargo, ainda que estivesse correto. A decisão, segundo tucanos, coube a Marzagão.
Serra disse que a escolha do novo adjunto da Segurança será feita por Marzagão, com quem a Folha tenta uma entrevista desde o dia 30 de abril.


Colaborou CATIA SEABRA, da Reportagem Local


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