São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Por temer disputa por sua herança, d. Lily Marinho leiloa R$ 30 mi em bens

PAULO SAMPAIO
DA SUCURSAL DO RIO

Dona Lily de Carvalho Marinho, viúva do empresário Roberto Marinho, resolveu leiloar parte de sua herança e entregar o que for arrecadado a um fundo gestor de fortunas, ligado ao Unibanco. "Não quero que tenha briga depois da minha morte. Você não vê a família do Antônio Carlos [Magalhães]? Era fantástica. Ele morreu, deu naquilo."
Aos 86 anos -"só tenho uns quatro a mais de vida", diz ela-, a principal preocupação de d. Lily são os quatro netos de quatro noras diferentes, ex-mulheres de seu filho adotivo, João Batista. "Ele gosta de dinheiro, gosta de mulheres, então é melhor organizar isso."
João Batista, que é músico e mora em Miami, não sabe. "Eu não contei nada, claro. Você acha que ele iria gostar?", pergunta ela, que dará o dinheiro em forma de "mesada vitalícia" para João Batista, 43, e para os netos, que têm entre quatro e 21 anos. Ela teve um filho, Horacinho, morto aos 26 em um desastre de automóvel.
Os leiloeiros esperam levantar cerca de R$ 30 milhões. O leilão do mobiliário, prataria e cristais será organizado pelo escritório carioca de Soraia Cals e Evandro Carneiro; outros dois, das jóias e de um retrato de d. Lily feito pelo pintor holandês Kees van Dongen (1877-1968), pela casa de leilões Sotheby's, em salões de Genebra e Nova York. Só o retrato vale cerca de R$ 900 mil.
O quadro tem valor pelo trabalho do artista. "Seu valor está na pintura evocativa de uma época e na assinatura estilística de Van Dongen", diz Kátia Leite Barbosa, da Sotheby's.
As jóias são presentes de seus maridos e incluem 64 lotes com brincos, anéis, pulseiras e conjuntos. Kátia explica que o interessado em participar pode enviar à Sotheby's no Rio uma ordem de pagamento antecipada, ou, se quiser muito determinada peça, acompanhar pelo telefone o leilão.
Dona Lily deixa claro que a parte do patrimônio que está leiloando (fora as jóias, que ganhou) pertence apenas a ela. Foi acumulada nos 45 anos do primeiro casamento com o fazendeiro e jornalista Horácio de Carvalho, neto dos barões de Itambé, devidamente retratados em quadros à venda no leilão. Ela chegou a ter 20 fazendas. Hoje, restam duas.
O transporte dos móveis, tapetes e peças para a casa de leilões foi feito em 20 caminhões. A peça mais cara é um quadro de Portinari ("Vaso de Flores"), avaliado em R$ 650 mil.
Ao entrar no escritório de Soraia Cals, ontem, d. Lily disse, entre vitrines de pratos, copos, conjuntos de jantar e prataria: "É como se eu estivesse reencontrando em um jantar um marido de quem estivesse separada há muito tempo".
Sobre um retrato pintado pelo russo Dimitri Ismailovitch, com lance inicial de R$ 26 mil, no qual ela aparece com um colar de brilhantes e águas-marinhas, ela comenta: "Quando era embaixador do Brasil em Londres, o [Assis] Chateaubriand presenteou a rainha da Inglaterra com um conjunto assim. Horácio achou bonito e me deu um".
Ex-freqüentadora contumaz de leilões, ela conta, em frente a uma cômoda, ter feito algo muito feio ("nem deveria contar") para arrematá-la. "Tinha um paulista que ficou disputando lances comigo, até que eu disse: "Não adianta, vai ser minha". E foi. Sempre gostei de jogar."


Texto Anterior: Mortos chegam a 34 em naufrágio no AM
Próximo Texto: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.