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Por temer disputa por sua herança, d. Lily Marinho leiloa R$ 30 mi em bens
PAULO SAMPAIO
DA SUCURSAL DO RIO
Dona Lily de Carvalho Marinho, viúva do empresário Roberto Marinho, resolveu leiloar parte de sua herança e entregar o que for arrecadado a
um fundo gestor de fortunas,
ligado ao Unibanco. "Não quero que tenha briga depois da
minha morte. Você não vê a família do Antônio Carlos [Magalhães]? Era fantástica. Ele
morreu, deu naquilo."
Aos 86 anos -"só tenho uns
quatro a mais de vida", diz
ela-, a principal preocupação
de d. Lily são os quatro netos
de quatro noras diferentes, ex-mulheres de seu filho adotivo,
João Batista. "Ele gosta de dinheiro, gosta de mulheres, então é melhor organizar isso."
João Batista, que é músico e
mora em Miami, não sabe. "Eu
não contei nada, claro. Você
acha que ele iria gostar?", pergunta ela, que dará o dinheiro
em forma de "mesada vitalícia" para João Batista, 43, e para os netos, que têm entre quatro e 21 anos. Ela teve um filho,
Horacinho, morto aos 26 em
um desastre de automóvel.
Os leiloeiros esperam levantar cerca de R$ 30 milhões. O
leilão do mobiliário, prataria e
cristais será organizado pelo
escritório carioca de Soraia
Cals e Evandro Carneiro; outros dois, das jóias e de um retrato de d. Lily feito pelo pintor
holandês Kees van Dongen
(1877-1968), pela casa de leilões Sotheby's, em salões de
Genebra e Nova York. Só o retrato vale cerca de R$ 900 mil.
O quadro tem valor pelo trabalho do artista. "Seu valor está na pintura evocativa de uma
época e na assinatura estilística de Van Dongen", diz Kátia
Leite Barbosa, da Sotheby's.
As jóias são presentes de
seus maridos e incluem 64 lotes com brincos, anéis, pulseiras e conjuntos. Kátia explica
que o interessado em participar pode enviar à Sotheby's no
Rio uma ordem de pagamento
antecipada, ou, se quiser muito determinada peça, acompanhar pelo telefone o leilão.
Dona Lily deixa claro que a
parte do patrimônio que está
leiloando (fora as jóias, que ganhou) pertence apenas a ela.
Foi acumulada nos 45 anos do
primeiro casamento com o fazendeiro e jornalista Horácio
de Carvalho, neto dos barões
de Itambé, devidamente retratados em quadros à venda no
leilão. Ela chegou a ter 20 fazendas. Hoje, restam duas.
O transporte dos móveis, tapetes e peças para a casa de leilões foi feito em 20 caminhões.
A peça mais cara é um quadro
de Portinari ("Vaso de Flores"), avaliado em R$ 650 mil.
Ao entrar no escritório de
Soraia Cals, ontem, d. Lily disse, entre vitrines de pratos, copos, conjuntos de jantar e prataria: "É como se eu estivesse
reencontrando em um jantar
um marido de quem estivesse
separada há muito tempo".
Sobre um retrato pintado
pelo russo Dimitri Ismailovitch, com lance inicial de R$
26 mil, no qual ela aparece
com um colar de brilhantes e
águas-marinhas, ela comenta:
"Quando era embaixador do
Brasil em Londres, o [Assis]
Chateaubriand presenteou a
rainha da Inglaterra com um
conjunto assim. Horácio
achou bonito e me deu um".
Ex-freqüentadora contumaz de leilões, ela conta, em
frente a uma cômoda, ter feito
algo muito feio ("nem deveria
contar") para arrematá-la. "Tinha um paulista que ficou disputando lances comigo, até
que eu disse: "Não adianta, vai
ser minha". E foi. Sempre gostei de jogar."
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