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Publicidade de analgésico invade estações do metrô
Todas as 700 catracas trazem propagandas de remédios, principalmente para dor de cabeça e indisposição estomacal
Segundo publicitários, propaganda nas estações do metrô atinge públicos de todos os estratos sociais, principalmente da classe C
JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Já na entrada das estações de
metrô, o usuário é bombardeado pela publicidade do analgésico Doril. Ao todo, são 2.100
anúncios nas 700 catracas de
todas as estações do sistema.
Descendo as escadas, anúncios de perfume; nas plataformas e nos vagões, mais remédios, sabão em pó, bala, sapatos,
gel para cabelo, universidades.
Desde que a Lei Cidade Limpa entrou em vigência, em
2007, os publicitários ficaram
sem opção de anúncios de rua.
Por isso, investem cada vez
mais nos espaços de "quase-rua" (metrô e shoppings).
Segundo o Metrô, a procura
pela Metrô Mídia, divisão responsável pelos 11.500 pontos
de publicidade nas estações e
trens, cresceu 31% após a lei.
São quase R$ 2 milhões de faturamento por mês.
"Com a restrição na rua, o
metrô ganhou importância,
pois tem grande circulação de
gente e de quase todas as classes
sociais", diz Alcir Gomes Leite,
vice-presidente-executivo da
agência DM9DDB.
Ele explica que, embora os
medicamentos ocupem o 12º
lugar no ranking da publicidade
nacional (o comércio varejista
é o líder), nesta época do ano há
mais anúncios de remédios.
Temporada de gripe
Agora, com a proximidade do
inverno, associada ao estresse
dos usuários que, após um dia
de trabalho, terão ainda de enfrentar a lotação do metrô, o
"target" (jargão publicitário para público-alvo) das agências
são os potenciais usuários de
analgésicos e medicamentos
para desconforto estomacal.
Embora o Metrô afirme que
os líderes de publicidade no sistema sejam os cursos universitários e de línguas, a Folha percorreu todas as estações das linhas verde e vermelha e todo o
trecho norte da linha azul e
constatou que, nas plataformas, corredores e catracas, há
uma significativa parcela de
anúncios de Epocler, Melhoral,
Engov e Doril.
Na Sé, de 32 anúncios encontrados, 11 são desses medicamentos. No Paraíso, a proporção é de 17 para 55. Ao fim da
peregrinação, a reportagem
contabilizou, em 36 estações,
77 propagandas de remédio.
Para o diretor de comunicação da Associação Paulista de
Medicina, Renato Françoso, a
publicidade massiva desses
medicamentos no metrô não é
por acaso. "Além de os passageiros já estarem propensos ao
estresse, a maior parte deles é
da classe C, depende da precária saúde pública e é mais propensa à automedicação."
Françoso, no entanto, atribui
ao Ministério da Saúde uma
parcela da culpa pelo estímulo
à automedicação.
"A mensagem que vem nos
anúncios de remédio é "Em não
melhorando os sintomas, procure um médico". Deveria ser:
"Procure um médico antes de
se automedicar". Eles dizem às
pessoas que se mediquem antes de procurar o médico."
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