São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Publicidade de analgésico invade estações do metrô

Todas as 700 catracas trazem propagandas de remédios, principalmente para dor de cabeça e indisposição estomacal

Segundo publicitários, propaganda nas estações do metrô atinge públicos de todos os estratos sociais, principalmente da classe C

JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Já na entrada das estações de metrô, o usuário é bombardeado pela publicidade do analgésico Doril. Ao todo, são 2.100 anúncios nas 700 catracas de todas as estações do sistema.
Descendo as escadas, anúncios de perfume; nas plataformas e nos vagões, mais remédios, sabão em pó, bala, sapatos, gel para cabelo, universidades.
Desde que a Lei Cidade Limpa entrou em vigência, em 2007, os publicitários ficaram sem opção de anúncios de rua. Por isso, investem cada vez mais nos espaços de "quase-rua" (metrô e shoppings).
Segundo o Metrô, a procura pela Metrô Mídia, divisão responsável pelos 11.500 pontos de publicidade nas estações e trens, cresceu 31% após a lei. São quase R$ 2 milhões de faturamento por mês.
"Com a restrição na rua, o metrô ganhou importância, pois tem grande circulação de gente e de quase todas as classes sociais", diz Alcir Gomes Leite, vice-presidente-executivo da agência DM9DDB.
Ele explica que, embora os medicamentos ocupem o 12º lugar no ranking da publicidade nacional (o comércio varejista é o líder), nesta época do ano há mais anúncios de remédios.

Temporada de gripe
Agora, com a proximidade do inverno, associada ao estresse dos usuários que, após um dia de trabalho, terão ainda de enfrentar a lotação do metrô, o "target" (jargão publicitário para público-alvo) das agências são os potenciais usuários de analgésicos e medicamentos para desconforto estomacal.
Embora o Metrô afirme que os líderes de publicidade no sistema sejam os cursos universitários e de línguas, a Folha percorreu todas as estações das linhas verde e vermelha e todo o trecho norte da linha azul e constatou que, nas plataformas, corredores e catracas, há uma significativa parcela de anúncios de Epocler, Melhoral, Engov e Doril.
Na Sé, de 32 anúncios encontrados, 11 são desses medicamentos. No Paraíso, a proporção é de 17 para 55. Ao fim da peregrinação, a reportagem contabilizou, em 36 estações, 77 propagandas de remédio.
Para o diretor de comunicação da Associação Paulista de Medicina, Renato Françoso, a publicidade massiva desses medicamentos no metrô não é por acaso. "Além de os passageiros já estarem propensos ao estresse, a maior parte deles é da classe C, depende da precária saúde pública e é mais propensa à automedicação."
Françoso, no entanto, atribui ao Ministério da Saúde uma parcela da culpa pelo estímulo à automedicação.
"A mensagem que vem nos anúncios de remédio é "Em não melhorando os sintomas, procure um médico". Deveria ser: "Procure um médico antes de se automedicar". Eles dizem às pessoas que se mediquem antes de procurar o médico."


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