São Paulo, sábado, 07 de maio de 2011

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MINHA HISTÓRIA
ALDJANE FERREIRA DE SANTANA, 36


Cheia da chuva

Em 11 anos, moradora de Palmares, em Pernambuco, enfrenta sua quarta grande enchente, ocorrida na última terça-feira

Leo Caldas/Folhapress
Aldjane Ferreira de Santana, em Palmares, PE

RESUMO
A dona de casa Aldjane Ferreira de Santana, 36, mora em Palmares (130 km de Recife) desde que nasceu. Casada, com sete filhos, ela enfrentou nos últimos 11 anos quatro grandes enchentes, devido à cheia do rio Una, que corta a cidade.
Na última terça, ela voltou a ser vítima das chuvas. A família está abrigada em uma creche. Ontem, parou de chover na região.

(...)Depoimento a

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A PALMARES (PE)

Nasci e cresci em Palmares e, desde os nove anos, vi o rio Una encher e secar. Naquela época, a gente erguia os móveis para a água passar e pronto. Mas, em 2000, as coisas começaram a mudar.
Naquele ano, no dia 1º de agosto, veio a primeira grande cheia. Eu estava casada havia nove anos com o Ivanildo. Nossa casa era até bem ajeitadinha, mas ficava ao lado do rio, pertinho mesmo. Naquela noite, a enxurrada começou devagar, mas depois veio forte e não sobrou nada. Arrastou tudo.
Até a nossa casa foi arrastada. A gente se abrigou com mais 14 famílias no segundo andar de um prédio da Justiça. Ficamos lá três dias, comendo pão com mortadela.
Quando voltamos para ver, não tinha mais nada ali, só o piso mesmo. O pessoal foi levado para um asilo improvisado de abrigo.
Ficamos lá uns quatro meses. Nesse tempo, juntamos algumas coisinhas e fomos morar numa casa de aluguel, com a ajuda da prefeitura.
O aperreio era grande, porque a gente queria uma casa própria, igual à antiga. Mas não ganhamos. A que alugamos ficava no mesmo bairro, um pouco mais para cima. Moramos lá enquanto montávamos outra casinha, também mais para cima do rio.
Foi um tempo tranquilo, porque a casa não enchia de água. Mas, no ano passado, foram duas enxurradas seguidas e arrasadoras.
A primeira, no dia 19 de junho, foi bem feia. A água destruiu quase tudo. Meu marido estava em Fortaleza. A gente foi levado para o centro social só com a roupa do corpo, eu e os quatro filhos que vivem comigo. Meus outros três filhos moram fora.
No dia 23, o Ivanildo chegou, aperreado, e fomos ver a casa. Até deu para recuperar umas coisinhas. O problema foi que, dois dias depois, veio outra enxurrada e levou as coisas que a gente tinha recuperado. Na hora, eu chorei muito. Acho que se a casa tivesse caído eu iria embora.
Mas a casa alugada ficou de pé e nós decidimos continuar construindo a nossa. Ficamos no abrigo mais dois meses e, em 26 de agosto, mudamos para a casinha nova. O lugar é até bem simplezinho, mas é nosso, sabe?
Na sexta passada [29/4], comprei um colchão, mas ele não durou três dias. Na madrugada de terça [3/5], a enchente veio forte de novo. A enxurrada levou quase tudo. A parede da cozinha caiu.
Nunca tinha visto uma cheia atrás da outra, como agora. Na minha opinião, a culpa é do povo que está agredindo a natureza.
Apesar de tudo, eu me considero uma mulher de sorte, porque a família está com saúde. As coisas materiais a gente recupera.


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