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FOCO
Na parada, "vinho" tem açaí e maçã
Apesar de proibidos, ambulantes cobravam R$ 3 por uma garrafa da estranha bebida
DE SÃO PAULO
O combustível que moveu
a Parada Gay de São Paulo foi
uma bebida anunciada como
vinho, mas que não passava
de "coquetel fermentado de
maçã com extrato de açaí e
suco de uva".
O suposto vinho era vendido em cada esquina, nas
mãos de ambulantes, em garrafas plásticas de 880 ml e
por preços que variavam de
R$ 3 a R$ 10.
"É preço de suco de uva.
Não dá para exigir muito",
resignava-se uma adolescente, que preferiu não dizer o
nome, enquanto virava o gargalo na boca da namorada.
Outros não se atentaram
para o rótulo e compraram
gato por lebre. "Entre a cerveja e o vinho, escolhi o vinho. É mais romântico", explicou o estudante Ítalo, 17,
com as unhas coloridas.
Embora proibidos pela
prefeitura, os ambulantes estavam em todos os lados. Alguns, com caixas de isopor
na cabeça. Outros, mais discretos, com mochilas.
A GCM apreendeu 20 mil
litros de bebidas irregulares.
Quem participou da Parada Gay viu inverno e verão. À
sombra, um termômetro da
av. Paulista marcava 19C.
Sob o sol, outro na rua da
Consolação apontava 25C.
Homens musculosos sem camisa e rapazes de cachecol
desfilaram lado a lado.
Drag queens e musculosos
mal podiam se mover. A cada
passo, alguém pedia pose
para uma foto no celular. "Tirei foto com 40 pessoas, tanto homens como mulheres",
estimava o personal trainner
Adriano Molina, 34, sem camisa e com parte da cueca
Calvin Klein de R$ 55 à vista.
Grupos de rapazes tentavam beijar meninas a todo
custo. Numa Parada Gay?
"Digo que sou a Lady Gaga
[cantora adorada por gays].
Beijei 19 meninas assim", explicou o estudante Rafael
Gonçalves, 19. "Elas gostam
quando você mostra que não
tem preconceito com gay."
Nos postos médicos, 320
pessoas foram socorridas por
consumo excessivo de álcool. A transformista Rafaela
Albuquerque, 32, gemia de
dor enquanto lhe aplicavam
a vacina antitetânica nas nádegas. "Cortei o pé num caco
de vidro", explicou ela, saindo do posto, com pé enfaixado e fantasia de tigresa.
SEXO NA PRAÇA
Apesar dos 900 banheiros
químicos instalados pelo trajeto da parada, muitas pessoas preferiram urinar em
postes ou muros, sem constrangimento, à luz do dia.
Para não serem vistas,
duas amigas se ocultaram
atrás de um guarda-chuva
aberto e se aliviaram na parede de um edifício.
Bares cobravam R$ 2 pelo
uso do banheiro. "Se for liberado, cria tumulto", disse o
caixa do bar AJ Bela Cintra.
Dois homens foram presos
suspeitos de furto. Ao todo,
segundo a Polícia Militar, 11
ocorrências foram registradas. Houve três casos de roubos e dois de furtos de celulares, carteiras e bolsas.
No início da noite, a polícia expulsou cerca de 400
pessoas de uma área escura
da praça da República. Segundo a PM, faziam sexo.
Para o coronel Renato Cerqueira, apesar de terem ocorrido seis brigas, o evento foi
tranquilo. "Não houve problemas graves de violência."
(RICARDO WESTIN, AFONSO BENITES e MÁRCIO PINHO)
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