São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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FOCO

Na parada, "vinho" tem açaí e maçã

Apesar de proibidos, ambulantes cobravam R$ 3 por uma garrafa da estranha bebida

DE SÃO PAULO

O combustível que moveu a Parada Gay de São Paulo foi uma bebida anunciada como vinho, mas que não passava de "coquetel fermentado de maçã com extrato de açaí e suco de uva".
O suposto vinho era vendido em cada esquina, nas mãos de ambulantes, em garrafas plásticas de 880 ml e por preços que variavam de R$ 3 a R$ 10.
"É preço de suco de uva. Não dá para exigir muito", resignava-se uma adolescente, que preferiu não dizer o nome, enquanto virava o gargalo na boca da namorada.
Outros não se atentaram para o rótulo e compraram gato por lebre. "Entre a cerveja e o vinho, escolhi o vinho. É mais romântico", explicou o estudante Ítalo, 17, com as unhas coloridas.
Embora proibidos pela prefeitura, os ambulantes estavam em todos os lados. Alguns, com caixas de isopor na cabeça. Outros, mais discretos, com mochilas.
A GCM apreendeu 20 mil litros de bebidas irregulares.
Quem participou da Parada Gay viu inverno e verão. À sombra, um termômetro da av. Paulista marcava 19C. Sob o sol, outro na rua da Consolação apontava 25C. Homens musculosos sem camisa e rapazes de cachecol desfilaram lado a lado.
Drag queens e musculosos mal podiam se mover. A cada passo, alguém pedia pose para uma foto no celular. "Tirei foto com 40 pessoas, tanto homens como mulheres", estimava o personal trainner Adriano Molina, 34, sem camisa e com parte da cueca Calvin Klein de R$ 55 à vista.
Grupos de rapazes tentavam beijar meninas a todo custo. Numa Parada Gay? "Digo que sou a Lady Gaga [cantora adorada por gays]. Beijei 19 meninas assim", explicou o estudante Rafael Gonçalves, 19. "Elas gostam quando você mostra que não tem preconceito com gay."
Nos postos médicos, 320 pessoas foram socorridas por consumo excessivo de álcool. A transformista Rafaela Albuquerque, 32, gemia de dor enquanto lhe aplicavam a vacina antitetânica nas nádegas. "Cortei o pé num caco de vidro", explicou ela, saindo do posto, com pé enfaixado e fantasia de tigresa.

SEXO NA PRAÇA
Apesar dos 900 banheiros químicos instalados pelo trajeto da parada, muitas pessoas preferiram urinar em postes ou muros, sem constrangimento, à luz do dia.
Para não serem vistas, duas amigas se ocultaram atrás de um guarda-chuva aberto e se aliviaram na parede de um edifício.
Bares cobravam R$ 2 pelo uso do banheiro. "Se for liberado, cria tumulto", disse o caixa do bar AJ Bela Cintra.
Dois homens foram presos suspeitos de furto. Ao todo, segundo a Polícia Militar, 11 ocorrências foram registradas. Houve três casos de roubos e dois de furtos de celulares, carteiras e bolsas.
No início da noite, a polícia expulsou cerca de 400 pessoas de uma área escura da praça da República. Segundo a PM, faziam sexo.
Para o coronel Renato Cerqueira, apesar de terem ocorrido seis brigas, o evento foi tranquilo. "Não houve problemas graves de violência."
(RICARDO WESTIN, AFONSO BENITES e MÁRCIO PINHO)


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