São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA

Estudo analisa usuários de anabolizantes em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo realizado no Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo sobre o perfil de 40 usuários de anabolizantes de academias de São Paulo concluiu que 93% misturavam vários medicamentos, inclusive de uso veterinário, e 47,5% não tinham a menor idéia do que ingeriam -apesar de 77,5% terem nível superior. Mais da metade deles tinha iniciado o uso da droga antes dos 20 anos. "A estética está acima de tudo", diz Solange Napo, 50, a psicofarmacologista que planejou a pesquisa.
O anabolizante é um hormônio sintético que substitui a testosterona (hormônio masculino). Só pode ser utilizado por recomendação médica em pessoas com déficit da substância. Há ainda pesquisas para a aplicação em idosos que precisam de massa muscular. Todos os outros usos são inadequados.

Folha - O que acontece com quem usa a droga sem indicação?
Solange Napo -
Um jovem na puberdade que começa a usar em grande quantidade pode ter afetada sua maturidade sexual. Aparecem caracteres masculinos antes do tempo [o que afeta seu desenvolvimento]. O jovem, o homem adulto e o velho também podem sofrer um aumento das mamas [alguns dos anabolizantes são metabolizados em estrogênio, hormônio feminino que estimula o crescimento das mamas] e desenvolver uma acne violenta. O efeito mais sério é o aparecimento de tumores no fígado. Além disso, alguns desenvolvem uma agressividade intensa. Nas mulheres [quatro participaram da pesquisa], os danos são maiores, porque não têm volta. Elas desenvolvem pêlos no rosto, a voz engrossa e há interferências no ciclo menstrual.

Folha - Quais as razões que os usuários apresentaram para tomar as drogas?
Solange -
Nesse estudo falamos apenas com jovens que tomavam para ficar mais bonitos e fortes. Eles adotam um estereótipo de corpo muito forte e musculoso como referência para serem aceitos, admirados. É uma subcultura da academia. Eles acreditam que aquilo é o mundo real. Apesar de essas drogas não serem psicotrópicas, percebemos que elas causam dependência. Os usuários tomam mesmo sabendo que faz mal, querem parar e não conseguem. Também só falam disso e desenvolvem uma compulsão por exercícios físicos. Percebemos também que todos sofrem de um desvio sobre a própria imagem. Ele se olham no espelho, estão enormes, mas se acham magros. Estudos sobre a dependência e distúrbios de imagem ligados à droga são recentes.

Folha - O que será feito a partir do estudo?
Solange -
Uma das coisas que queremos é a divulgação desses dados nas academias.


Texto Anterior: Agenda
Próximo Texto: Violência 1: Polícia prende ladrões na Receita Federal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.