São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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COMPORTAMENTO

Ao mesmo tempo em que os homens gostam da "abordagem fácil", elas dizem adorar a "seriedade" deles

"Facilidade" da mulher brasileira atrai estrangeiros

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA

Imagine uma terra povoada por mulheres lindas, sensuais e absolutamente disponíveis, onde os forasteiros são recebidos com sorrisos imensos e saias minúsculas. Mais do que isso, são tratados a pão-de-ló e disputados a tapa.
Essa visão estrangeira do Brasil como um paraíso masculino ganhou reforço extra durante a Copa, com torcedoras "canarinho" posando seminuas para câmeras do mundo inteiro.
Na edição de junho, a revista norte-americana "Men's Journal" (567 mil exemplares) trazia na capa uma chamada reveladora: "Guia do Solteiro no Brasil, onde as mulheres caçam os homens". Ao lado, uma morena de corpão reluzente, biquíni e camiseta top.
Jason Harper, autor do texto, mora no Rio desde dezembro e está deslumbrado com a facilidade da paquera: as mulheres se aproximam, diz ele, olham nos olhos, alisam seu braço e até beliscam sua bunda. O repórter foi "checar" se o fenômeno era carioca e diz ter observado o mesmo comportamento feminino em São Paulo e Belo Horizonte.
"Não existe necessidade nem lugar para vergonha no Brasil", escreve Harper, acrescentando que, além de disputado como mercadoria, o "produto estrangeiro" é mais valorizado.
E os depoimentos de homens, mulheres e especialistas em comportamento mostram que o feitiço estrangeiro funciona mesmo -e dos dois lados.
Se eles gostam da "abordagem fácil", elas adoram a "seriedade" deles. "O gringo é mais romântico e não se interessa por baladas de uma noite só", diz a estudante de psicologia Verena Prado, 19, que, em dois anos na Europa, namorou quatro ingleses, quatro italianos, dois sul-africanos e um australiano. Ela não economiza elogios: "Eles honram a palavra. Se pegam o seu telefone, ligam. São carinhosos e dizem tudo o que você quer ouvir. É por isso que a mulherada dá em cima".
Não há dúvida de que nossa sociedade é mais aberta à presença do "estranho", avalia a antropóloga Maria Luiza Heilborn, 47, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E também à sua influência: a imagem da brasileira sensual que integra o imaginário estrangeiro, afirma, não é uma obra inteiramente "made in" algum lugar lá fora, mas uma concepção introjetada e alimentada pelos próprios brasileiros. "Quando encontram um estrangeiro, as brasileiras começam, às vezes inconscientemente, a agir como eles esperam. Reforçam o mito", diz Maria Luiza.
O psicanalista Contardo Calligaris, 54, italiano casado com uma brasileira, lembra que esse Brasil descrito na revista já era um sonho dos europeus antes da chegada de Cabral. "A sociologia brasileira entendeu muito cedo que, no destino do Brasil, pesa muito o fato de o país ser, inicialmente, um sonho europeu erótico e sensual."
Sensual, porém, não significa sexual. "As brasileiras são menos reservadas, mas isso não significa sexo garantido", diz Maria Luiza.
Casado com uma brasileira e há quatro anos no Brasil, o norte-americano Jon Lewis Fraser, 38, concorda. "Os americanos são conservadores, morrem de medo do próprio corpo e não conseguem entender que uma roupa ousada ou um toque não significam que a garota está disposta a ir para a cama com você. Mas eu entendo, também passei por isso no começo", diz Jon.
"Abracei a minha irmã duas vezes na vida. Aqui, na segunda vez em que você encontra um amigo, já está beijando e abraçando", brinca o canadense Perry Aulie, há dois anos em São Paulo. Para quem é de fora, diz, é natural sexualizar essa relação, mas, aos poucos, percebe-se que o povo brasileiro em geral -e não só a mulher- tende a intensificar suas relações de amor e amizade.
"Quando cheguei, fiquei maluco com tanta mulher. Em todas as esferas sociais há mulheres bonitas. Meus amigos vêm ao Rio a cada quatro meses, acham o paraíso. Na Itália, correm atrás das mulheres; aqui, é o inverso", diz o italiano Damian Canevari, 35.
O problema é que o Brasil tem mulher em excesso, na opinião da empresária Mariana Peronne, 32, casada há um ano com um francês. Numericamente, ela tem mesmo razão. Desde a década de 60, a população feminina vem crescendo mais que a masculina. Hoje, "sobram" 2,6 milhões de mulheres no país
Em terra de escassez, quem tem sotaque é rei. "O estrangeiro atrai pela diferença, e ela não é só física. Logo no primeiro contato, eles se revelam mais educados", diz a advogada Daniela Schneider Pulcini, 28, que há um ano vive com o canadense Perry Aulie, 37.
Mariana Peronne tem opinião parecida. "É difícil encontrar um cara legal. Os melhores são gays ou "galinhas". Quando aparece alguém que vale a pena, todas querem pegar", conta.
A impressão feminina pode ser essa, mas não faz sentido, explica o psicanalista Francisco Daudt da Veiga, 54. "Qualquer lugar do mundo tem homens de todos os tipos: mulherengo, sensível, canalha, delicado, cafajeste e compreensivo. As mazelas não são exclusividade do brasileiro", afirma.


Colaborou Adriana Cardillo, da Revista

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