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AMBIENTE
Cada ligação clandestina de esgoto pode atender mais de um imóvel; fiscalização na região do parque vai continuar
Identificados 144 poluidores do Ibirapuera
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de vistoriar metade dos
7.000 imóveis que prevê inspecionar até o fim do ano, em busca da
origem do esgoto que polui os lagos do parque Ibirapuera (zona
sul), a Secretaria do Verde e do
Meio Ambiente do município
(SVMA) descobriu que 12% das
cerca de 1.200 ligações fiscalizadas
são irregulares (uma ligação pode
atender a mais de um imóvel, no
caso de prédios por exemplo).
Em vez de jogarem o esgoto na
rede da Sabesp (Companhia de
Saneamento Básico do Estado de
São Paulo), por onde ele seria canalizado até uma estação de tratamento, pelo menos 144 conexões
despejam o efluente nas galerias
de água da chuva, que deságuam
no córrego do Sapateiro, formador dos lagos do parque mais freqüentado da cidade e um de seus
mais famosos cartões-postais.
A não-conexão à rede de esgoto
é mais comum em regiões pobres
e periféricas, onde chega a atingir
entre 20% e 40% dos imóveis que
poderiam fazer a ligação, de acordo com estimativas da Sabesp.
As justificativas, nesse caso, são
financeiras -a ligação implica
pagar o dobro na conta de água-
ou a inexistência da rede em si.
Nenhuma das duas combina, porém, com o perfil geral da bacia do
córrego do Sapateiro, onde, à exceção de uma pequena favela
-que não é um ponto crítico de
irregularidade, segundo a
SVMA-, predominam áreas de
classe média e média alta e onde
há infra-estrutura de coleta.
Segundo José Eduardo Siqueira,
diretor técnico da Agência de Bacia do Alto Tietê, contratada pelo
município para "caçar" os clandestinos, um dos possíveis motivos para as irregularidades na região são as obras constantes no
subsolo, que afetam a rede.
A Sabesp coloca a tubulação para recolhimento do esgoto até a
porta de cada imóvel, mas não
pode forçar ninguém a fazer a ligação a partir daí, embora haja
um decreto estadual de 1978 e
uma lei municipal de 2002 que
tornem isso obrigatório. Na capital, a não-conexão rende multa de
R$ 500, que dobra caso a ligação
não seja feita em 60 dias. A fiscalização cabe às subprefeituras.
Embora a SVMA não dê uma
estimativa do volume de esgoto
clandestino que vai terminar no
parque Ibirapuera, ele pode chegar, em uma estimativa conservadora, a pouco mais de 69 mil litros
por dia. Isso se cada ligação irregular representasse um domicílio
padrão da Sabesp, que tem quatro
moradores e consome 480 litros
de água por dia. A realidade, no
entanto, deve ser bem pior.
Siqueira afirma ter verificado
que alguns dos clandestinos são
grandes geradores, como edifícios residenciais ou comerciais.
Ele diz esperar que o percentual
de clandestinos aumente até a
conclusão das vistorias.
Os resultados parciais do trabalho devem ser divulgados em detalhes até o fim deste mês, quando
a SVMA pretende anunciar também um convênio com a Sabesp
para atacar o problema, afirma o
titular da pasta, Adriano Diogo.
Trégua
Ele diz querer fazer da despoluição do córrego do Sapateiro e dos
lagos do Ibirapuera um "case" de
sucesso e que precisa, para isso,
ter como parceira a empresa, ligada ao governo do Estado -portanto, ao PSDB (que disputa a
Prefeitura de São Paulo com o PT
de Diogo). Isso exigirá uma trégua em pleno ano eleitoral.
Os esgotos clandestinos no entorno do parque e a poluição causada por eles vêm servindo, desde
o início do ano, como combustível para inúmeros bate-bocas entre Diogo e a Sabesp e entre o secretário e vereadores do PSDB.
"Não quero que isso se transforme de vez numa disputa política,
quero resolver o problema", diz
Diogo, que se reuniu na sexta-feira passada com o presidente da
Sabesp para discutir os termos do
convênio. Procurada ontem pela
Folha, a empresa não se manifestou sobre o assunto.
O projeto de despoluição é o
principal investimento da SVMA
para este ano. Ao todo, deverão
ser gastos R$ 1,5 milhão na limpeza, que envolve também a remoção do lodo formado pelo esgoto
acumulado no fundo dos lagos, o
que deve começar em breve.
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