São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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ROSEMARIE ERIKA HORCH (1930-2008)

Nos livros, o cheiro das épocas passando

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando a jovem Rosemarie Horch bateu na porta da Biblioteca Nacional do Rio, viu que só havia vaga para limpar os livros. "Para ela, a convivência com o livro era o que importava", diz a nora. E o primeiro registro em sua carteira de trabalho ficou sendo como "tarefeira".
Desde menina, Erika "queria porque queria" trabalhar entre as raridades da biblioteca -adorava histórias de viajantes e navegadores e queria ver os originais. Mãe e pai alemães vieram ao Brasil para um curso em uma tecelagem. Ficaram, e Erika nasceu e cresceu na floresta da Tijuca, indo à escola de bonde e namorando de longe a biblioteca onde seria bibliotecária por muitos anos.
Formada em serviço social e biblioteconomia, foi trabalhar no então recém-fundado Instituto de Estudos Brasileiros da USP, onde virou pesquisadora, especialista em obras raras. Chamada para identificar a autenticidade de livros antigos, coordenou o "Bibliotheca Universitatis", catálogo da USP que elenca os livros impressos entre os séculos 15 e 16.
Diz a nora que ela foi pessoalmente ver cada obra -gostava de ver, tocar, cheirar os livros. "No meu tempo não tinha isso de máscara", dizia. "Bom é sentir o cheiro das épocas passando."
Aposentada, fazia quase um ano que perdera a visão. Uma amiga é quem lia para ela, toda semana, os livros de que mais gostava. Tinha dois filhos e dois netos. Morreu de câncer, dia 26, aos 78.

obituario@folhasp.com.br


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