São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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ENTREVISTA DA 2ª

ALEXANDRE DE MORAES


Estacionamento na rua é o próximo alvo de Kassab

Secretário municipal dos Transportes de São Paulo diz que é positivo o balanço da 1ª semana de restrição à circulação de caminhões na área central da cidade

DEPOIS da restrição aos caminhões, a gestão Gilberto Kassab (DEM) se prepara para alardear um novo pacote de intervenções no trânsito de São Paulo -com destaque para mais proibições de estacionamento em vias públicas. Medida semelhante havia sido anunciada em 17 pontos em março. Desta vez a promessa é que não seja só "uma rua aqui ou ali", segundo Alexandre de Moraes, 39, secretário dos Transportes e presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O objetivo das novas medidas da prefeitura é aumentar a fluidez dos veículos -às vésperas de uma eleição em que a piora do trânsito tem sido uma munição dos adversários de Kassab.
"Eu não diria que é um ponto fraco da gestão. Eu diria que, até pelo aumento do número de carros, é algo que estava submerso e emergiu", disse Alexandre de Moraes, em entrevista à Folha na sexta-feira.
Ele afirma que a restrição aos caminhões iniciada na semana passada é "só um fôlego", e não a "solução da lavoura". O secretário atribui as mudanças na política de restrição às cargas neste ano a uma "correção de rumos" e culpa problemas jurídicos pela demora em resolver problemas básicos -como a falta de guinchos e de semáforos inteligentes:

 

FOLHA - O pacote de intervenções no trânsito está consolidado ou há algum novo plano?
ALEXANDRE DE MORAES
- Estamos preparando um pacote com 40 medidas. Dentro delas, dois grupos importantes: primeiro uma alteração na questão de estacionamento. Estamos há um mês e meio analisando pontos de estacionamento que vão deixar de ser estacionamento, pontos de zona azul que vão deixar de ser zona azul, para garantir maior fluidez. Vamos fazer em blocos na cidade. Não adianta fazer uma rua aqui ou ali. Vamos pegar um setor que tem um gargalo muito grande e montar um pacote de restrição de estacionamento. No final de julho já devemos fazer.
Outra questão que vai ser um diferencial será a volta às aulas. Neste ano vai ser mais forte, na fiscalização e na orientação. As duas primeiras semanas de volta às aulas são sempre ruins.

FOLHA - Qual é o balanço da prefeitura da primeira semana de restrição aos caminhões?
MORAES
- Absolutamente positivo. Poucas vezes a parte técnica coincide tanto com a opinião popular. Segundo, pela adesão. Tirando um setor específico de caçambeiros, de terraplenagem, não houve grandes manifestações. Os setores se adequaram. O terceiro ponto é pelos índices [de congestionamento]. Tirando a terça-feira, com aqueles 20 acidentes, estão muito melhores do que em julho passado. Mas temos ciência de que não é uma medida que vai solucionar todos os problemas do trânsito. Ela não é a salvadora da pátria. Mas foi uma medida que deu certo, dá para ganhar um fôlego até acabar o Rodoanel.

FOLHA - A gente está em um mês atípico por conta das férias. Não é muito cedo para comemorar?
MORAES
- Eu não diria que é cedo para fazer a comparação. O trânsito cada dia é uma realidade. Mas é um indicador importante. Se não tivesse dado certo na primeira semana, não iriam dizer que era cedo para dizer que a medida foi ruim. Se tivesse dado errado, a medida já estava massacrada. Esse tempo técnico não pode sofrer a corrosão política.

FOLHA - Demorou três anos e meio para que a prefeitura tomasse alguma medida de maior impacto no trânsito. Por que ela saiu só agora, perto do período eleitoral?
MORAES
- As medidas são tomadas conforme a necessidade com que se apresentam. Assim que eu assumi [há 11 meses] recebi orientação do prefeito para tomar medidas em pontos de gargalo porque a entrada de novos veículos iria dar uma piora. Quando, em março, soltamos as 19 obras, foi a mesma acusação. Mas estávamos planejando isso lá atrás. Antes já tínhamos aumentado a área de restrição, de 12,5 km2 para 25 km2.

FOLHA - Mas em 2007 a prefeitura flexibilizou a circulação de caminhões. Primeiro, liberando VUCs (veículos urbanos de carga) com 6,3 m (antes era de 5,5 m). Segundo, liberando os caminhões de pagar a zona azul pela manhã. Foi um erro?
MORAES
- O trânsito é variável. Tentou-se essa medida. Houve uma necessidade de correção de rumos, que foi feita agora. Se lá pra frente a gente precisar melhorar os rumos, eles vão ser corrigidos. O trânsito é dinâmico. As medidas também.

FOLHA - Que correção de rumos pode haver no futuro com a restrição aos caminhões?
MORAES
- Não é em relação às exceções, mas uma adequação para maior restrição. Se houver necessidade de maior restrição para a frente, seja em carga e descarga, seja em outras questões, vamos analisar. Não há nada a priori que seja imutável.

FOLHA - Qual é a avaliação do sr. sobre os efeitos colaterais da medida, como o aumento do barulho noturno e do preço do frete?
MORAES
- Nesta primeira semana não se verificou isso. Nas exceções, abrimos janelas para aqueles que fazem muito barulho. Betoneira pode [rodar de dia]. Se houver aumento do barulho, a gente analisa. Não tem a mínima credibilidade a afirmação de que vai aumentar o valor de frete. Melhorando a logística, não tem a mínima possibilidade de aumento do valor. Percebemos que 80% dos caminhões carregam 20%, 30% da carga. É falta de logística. O que as pessoas não podem confundir é [a alta dos preços por conta de] um aumento do diesel, pela segunda vez em 45 dias, 50 dias. Mas é uma questão do governo federal.

FOLHA - Especialistas dizem que a área retirada dos caminhões deve ser ocupada pelos carros num curto espaço de tempo. O sr. concorda?
MORAES
- Calcula-se que haja uma demanda reprimida em torno de 20% de veículos. Mas não se sabe exatamente como essa demanda reprimida se comporta e em que tempo ela deixa de ser reprimida. Mesmo que todo espaço viário seja ocupado por veículos menores, a fluidez fica melhor. O caminhão é um obstáculo móvel. Ele vai devagarinho. Não atrapalha só a fila dele. É uma onda de pressão. Mesmo que seja substituído por um veículo mais ágil, os impactos não são iguais. O benefício vai existir.

FOLHA - A prefeitura vinha dizendo que a partir de novembro haveria a restrição total dos VUCs. Depois houve um recuo [ao permitir das 10h às 16h, em rodízio de placas]...
MORAES
- Não concordo [com a palavra recuo]. Nós antecipamos a análise que seria feita em novembro. No começo não vai haver a necessidade de proibir até porque pode cobrar mais das empresas para se adequarem. Não tem a desculpa de que não vai investir em logística de VUC porque depois vai ter que mudar. Acreditamos que a medida vá atingir um patamar satisfatório. Se, eventualmente, não atingir, nada impede que se volte, que se faça alterações.

FOLHA - A possibilidade de voltar atrás não provoca insegurança para as empresas investirem em VUC?
MORAES
- Sim, mas muito menos do que dizer: em novembro vai acabar.

FOLHA - De quem foi a idéia de fazer a restrição aos caminhões?
MORAES
- Não tem um pai da idéia. Eu solicitei [para os técnicos] várias possibilidades. Surgiu a idéia de dois dias de rodízio, rodízio nas marginais, aumentar a restrição. A decisão final, antes de levar ao prefeito, é do secretário.

FOLHA - Qual foi o maior acerto do Kassab no trânsito?
MORAES
- Investir R$ 1 bilhão no metrô, não só pelo dinheiro, mas por mudar a mentalidade.

FOLHA - E o maior erro?
MORAES
- Deixo para os adversários indicarem.

FOLHA - O serviço de guinchos, interrompido no fim da gestão Marta Suplicy (PT), até hoje não foi retomado. E há pouco não havia nem 15% dos semáforos inteligentes funcionando. Por que demorar tanto para resolver problemas básicos?
MORAES
- Nesses dois exemplos, tivemos problemas jurídicos em relação às licitações. Mas conseguimos afastar os problemas. Nos próximos 15 a 20 dias chegam os 48 guinchos. Vamos conseguir guinchar 5.000 carros por mês. O planejamento foi feito junto com esse pacote de estacionamento. Não adianta restringir a área de estacionamento se não tem fiscalização e guincho para retirar quem estaciona irregularmente. A licitação dos semáforos inteligentes também foi resolvida, até o final do ano deve ter solucionado isso.

FOLHA - A cidade de São Paulo vai ter um pedágio urbano a curto, médio ou longo prazo?
MORAES
- Em curto ou médio prazo não acredito. Primeiro porque ele é socialmente injusto. Se a idéia é tirar carro do centro, tem que cobrar caro. Você vê Londres. Quem teria condições de pagar R$ 30 ou R$ 40 por dia para entrar no centro? Só uma classe economicamente privilegiada. Primeiro tem que construir mais metrô. E, no momento em que se construir mais metrô, as pessoas vão optar pelo metrô.

FOLHA - O sr. já conversou com Kassab sobre isso?
MORAES
- O prefeito é contra o pedágio urbano por esses mesmos motivos.

FOLHA - E a ampliação do rodízio?
MORAES
- Não há estudos.

FOLHA - Entre as duas opções, Kassab seria mais favorável a qual?
MORAES
- O pedágio urbano é absolutamente descartado. O aumento do rodízio pode ser analisado se houver necessidade. Mas hoje não é analisado.

FOLHA - Qual é a opinião do sr. sobre a lei seca?
MORAES
- Sou contra o nome. Em relação à lei, sou a favor. Quem bebe sempre acha que dirige melhor. É comprovado que não dirige, que os reflexos estão comprometidos.

FOLHA - E o nível de tolerância? O sr. nunca dirigiu após beber um copo de chope ou uma taça de vinho?
MORAES
- Isso eu não vou responder.

FOLHA - O sr. avalia que com um copo de chope...
MORAES
- Não sou médico para fazer essa análise. Uma lei que não tenha um grande respaldo social começa a ser corroída. É importante sentar os setores médico e jurídico para ver se há razoabilidade. A lei é ótima. O nível tem que ser razoável. E quem pode dizer é a medicina.
Uma coisa eu vou falar com tranqüilidade: a lei é inconstitucional. Ela não pode obrigar as pessoas a passar pelo bafômetro e receber uma multa quando se recusar. Ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo. Nessa parte a lei exagerou e, não tenho dúvida nenhuma, tenho absoluta certeza de que o Judiciário vai derrubar.

FOLHA - Alguns bares começaram a oferecer serviço de transporte aos clientes. O sr. diz que não pode. Por quê? Qual é a alternativa?
MORAES
- Se ele quiser oferecer como uma cortesia um serviço de transporte para casa, como uma carona, uma van, não há nenhum problema. O que os bares não podem é fazer serviço remunerado de transporte. Daí é um transporte irregular. Daí a secretaria vai coibir. Os bares e restaurantes não podem substituir os táxis.

FOLHA - E desconto para táxi?
MORAES
- O táxi não pode dar desconto porque é um preço fixado pelo poder público. Mas estamos em análise. Por que deveria ser dado desconto para táxi de quem foi para um bar e bebeu e não para quem vai a um hospital? Precisa ser bem analisado para evitar distorções. A secretaria está fazendo um estudo nas regiões onde há mais blitze, Vila Olímpia, Vila Madalena, Itaim, para colocar linhas circulares de ônibus [noturnos]. A nossa idéia é fazer uma linha circular que passe pelas estações de metrô.

FOLHA - No curto prazo?
MORAES
- Na semana que vem eu já vou ter os estudos. Com os estudos, vamos colocar alguns ônibus. Se aumentar a demanda, a gente aumenta. Se não tiver demanda, a gente retira. Mas vamos oferecer no mais tardar na semana seguinte, ainda neste mês.

FOLHA - O trânsito é visto pelos adversários do prefeito como um ponto fraco da gestão Kassab.
MORAES
- Eu não diria que é um ponto fraco da gestão. Eu diria que, até pelo aumento do número de carros, é algo que estava submerso e emergiu. Houve a emersão de um problema que vem se acumulando há 30 anos.


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