São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

A misteriosa Baiana da Santa Casa

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Maria Santina de Godoy já estava grandinha quando sua mãe a entregou diretamente às freiras da Santa Casa de São Paulo, no início da década de 30. Por isso, contava, não foi colocada na roda.
A roda consistia num cilindro oco com uma portinha. Da rua, as mães punham dentro dela os bebês que queriam abandonar. Girava-se a roda, e o bebê era recolhido dentro da Santa Casa.
O sistema, surgido no hospital na primeira metade do século 19, durou até 1950.
Criou-se, porém, a ideia de que Maria Santina, conhecida por gerações de alunos e funcionários da Santa Casa, era a última dos bebês da roda. Mas, nos registros de entrada da época, seu nome não aparece. Hoje, a roda está no museu da instituição.
Chamada de Baiana por usar frequentemente as frases "Ê, baianada" e "Ô, baiano", foi criada pelas freiras e passou praticamente toda a vida no prédio da Santa Casa.
Soube que sua mãe biológica se chamava Benedita e era de Paraibuna (SP).
Sua filha Lúcia conta que a mãe não falava sobre o passado, o que criou vários mistérios. Lúcia, por exemplo, não conheceu o pai -Baiana lhe dizia que havia morrido.
O que se sabe é que vendeu doces em frente à Toca, uma lanchonete na Santa Casa, e, nos últimos tempos, lavou carros no local.
Segundo a filha, Baiana recebia um benefício de assistência social. Só parou de ir ao hospital devido à catarata.
Por sempre desejar sorte a todos, em seu velório havia uma coroa de flores com a frase "Boa sorte". Morreu no sábado, aos 80, após parada cardíaca. Teve três filhos.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: 9ª Festa Literária Internacional de Paraty
"Sou encalhado no passado", diz Antonio Candido em Paraty

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.