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PARATIANAS
ANTONIO PRATA - @antonioprata
Primeiros passos
DEPOIS DE conseguir ingressos para a tenda principal, o maior desafio
do frequentador da Flip é caminhar
pelo calçamento irregular de Paraty
sem dar tropicões nem parecer que
está pulando amarelinha.
Quarta à tarde, de um café, vejo o
público literário chegando: homens
de barbas ralas e paletós de veludo,
mulheres de cabelos curtos e óculos
de acetato, saltitando pelas pedras
seculares, como cabritos montanheses, fazendo o reconhecimento da
região.
Assombroso como, numa cidade
com esse calçamento e conhecida
pela produção de pinga, os moradores ainda tenham todos os dedos
dos pés.
Há quem diga que o problema, na
verdade, é o oposto: os calombos
ajustam-se perfeitamente ao andar
trôpego dos bêbados, e só aos sóbrios causariam desconforto.
Confesso, em minha quarta Flip,
que já tentei transpor estes quarteirões em diversas gradações alcoólicas e nunca alcancei o tal balanço
compensatório.
Na primeira festa literária, em
2003, um jornalista perguntou ao
Millôr se ele achava que o mundo
havia piorado muito. "Só melhorou!", disse o humorista. "É ótimo!
Tem anestésico, Viagra, antibiótico!
Quem reclama é uma besta!"
O jornalista quis saber, então,
que ajuste Millôr faria na realidade,
se tivesse plenos poderes.
Com um sorriso no canto da boca,
o Mark Twain do Méier respondeu:
"Mandaria cimentar uma faixa para idoso, no canto das ruas de Paraty. Só isso. No mais, o mundo é
maravilhoso".
Que Deus proteja Millôr Fernandes -e nossos incautos dedões dos
pés.
ANTONIO PRATA publicará crônica diária de Paraty
ao longo da 9ª Flip
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