São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

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PARATIANAS

ANTONIO PRATA - @antonioprata

Primeiros passos

DEPOIS DE conseguir ingressos para a tenda principal, o maior desafio do frequentador da Flip é caminhar pelo calçamento irregular de Paraty sem dar tropicões nem parecer que está pulando amarelinha.
Quarta à tarde, de um café, vejo o público literário chegando: homens de barbas ralas e paletós de veludo, mulheres de cabelos curtos e óculos de acetato, saltitando pelas pedras seculares, como cabritos montanheses, fazendo o reconhecimento da região.
Assombroso como, numa cidade com esse calçamento e conhecida pela produção de pinga, os moradores ainda tenham todos os dedos dos pés.
Há quem diga que o problema, na verdade, é o oposto: os calombos ajustam-se perfeitamente ao andar trôpego dos bêbados, e só aos sóbrios causariam desconforto.
Confesso, em minha quarta Flip, que já tentei transpor estes quarteirões em diversas gradações alcoólicas e nunca alcancei o tal balanço compensatório.
Na primeira festa literária, em 2003, um jornalista perguntou ao Millôr se ele achava que o mundo havia piorado muito. "Só melhorou!", disse o humorista. "É ótimo!
Tem anestésico, Viagra, antibiótico! Quem reclama é uma besta!"
O jornalista quis saber, então, que ajuste Millôr faria na realidade, se tivesse plenos poderes.
Com um sorriso no canto da boca, o Mark Twain do Méier respondeu: "Mandaria cimentar uma faixa para idoso, no canto das ruas de Paraty. Só isso. No mais, o mundo é maravilhoso".
Que Deus proteja Millôr Fernandes -e nossos incautos dedões dos pés.


ANTONIO PRATA publicará crônica diária de Paraty ao longo da 9ª Flip


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