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ACIDENTE EM MARESIAS
Para o DAC, Luís Roberto Cintra disse que piloto poderia estar abaixo do limite de segurança
Versão do co-piloto sugere falha humana
ELIANE MENDONÇA
DA FOLHA VALE
MARIA TERESA MORAES
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
O co-piloto Luís Roberto de
Araújo Cintra, 35, entrou em contradição nos depoimentos que
deu à Polícia Militar e ao DAC
(Departamento de Aviação Civil)
sobre as causas da queda do helicóptero do grupo Pão de Açúcar
na praia de Maresias (SP). A segunda versão, narrada ao DAC,
aponta para falha humana.
As contradições se referem à
possibilidade de falha mecânica
no helicóptero Agusta, do empresário João Paulo Diniz, 37, vice-presidente do Pão de Açúcar.
Morreram no acidente a modelo Fernanda Vogel, 20, namorada
de Diniz, e o piloto do helicóptero,
Ronaldo Jorge Ribeiro, 47.
Para a Polícia Militar, Cintra
afirmou, por volta das 20h30 de
27 de julho, logo após o acidente,
que problemas mecânicos teriam
causado a queda da aeronave.
A informação foi registrada pelo sargento da PM Mário Antonio
dos Anjos, que tomou o depoimento do co-piloto momentos
após o acidente.
Segundo a nova versão, usada
nas investigações, a hipótese mais
provável seria uma falha humana
do piloto Ribeiro. Cintra disse ao
DAC que o piloto pode ter descido abaixo do limite de segurança,
ficando a menos de 90 metros da
superfície do mar, e a aeronave ter
sido surpreendida por uma rajada
de vento forte ou onda muito alta.
No dia, a região estava sob a ação
de um ciclone, o que provocava
ventos de 25 km/h a 40 km/h.
Esse relato praticamente afasta
a possibilidade de falha mecânica,
de acordo com o Cenipa (Centro
de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos), órgão
do DAC que vai elaborar o relatório final das investigações.
Segundo o chefe do Cenipa, o
coronel Antonio Junqueira, a desmontagem das peças da aeronave, que está em Osasco, vai direcionar as investigações.
"Se a desmontagem não revelar
traços de mau funcionamento, a
hipótese de falha mecânica será
totalmente descartada."
Mas o acidente, segundo Junqueira, pode não ter sido causado
por um fato isolado. "Após a análise dos destroços, as informações
serão confrontadas com as declarações do co-piloto, para chegarmos à causa mais provável."
"Será uma apuração muito rápida porque a aeronave não tinha
caixa-preta, o que atrasaria a apuração, já que os fabricantes desse
tipo de equipamento são, geralmente, dos EUA", disse. Além
disso, segundo Junqueira, é preciso, "o quanto antes, saber o que
aconteceu com a aeronave para
evitarmos novos acidentes".
Desde o acidente, Cintra tem se
negado a falar com a imprensa.
Em nota oficial divulgada pelo
grupo Pão de Açúcar na última
quarta-feira, o co-piloto se limitou a falar sobre sua determinação e fé em Deus que, segundo ele,
foram fatores determinantes para
que conseguisse sobreviver.
Ontem, por telefone, a Folha
procurou por Cintra em sua casa,
mas, segundo informações de alguém que se identificou apenas
como Maria, ele não estava nem
tinha hora para retornar.
O proprietário do heliporto de
Maresias, Celso Amaral, disse
que, na mesma noite da queda do
helicóptero, outra aeronave que
pousou no local quase se envolveu em um acidente devido ao
mau tempo. Amaral afirmou que,
após as 20h do dia 27 passado,
dois helicópteros chegaram a Maresias. Um deles quase derrubou a
caixa-d'água do heliporto, que fica a cerca de 300 metros da praia.
O PP-MPA do Pão de Açúcar,
que foi levado no domingo para a
sede da Agusta, em Osasco (SP),
está sendo desmontado para que
seja investigada a causa da queda.
O DAC espera que a perícia seja
concluída até amanhã. Caso haja
indícios de falha mecânica, os
destroços serão enviados ao Centro Técnico Aeroespacial, em São
José dos Campos.
Ontem, cerca de 200 pessoas
compareceram à igreja Nossa Senhora do Brasil (Jardins), a uma
missa em memória de Fernanda
Vogel. Entre elas, a mãe dela,
Myriam Vogel, a família de João
Paulo Diniz e amigas da modelo.
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